A força da amizade
(Tradução de um poema de Rumi a partir da versão em inglês de Coleman Barks)

A FORÇA DA AMIZADE
Um peixe-boi, um dugongo, encontra uma pérola especial
e a traz para a terra à noite. Com a luz que ela emite,
o dugongo pode se alimentar de jacintos e lírios.
O excremento do dugongo é o precioso âmbar-gris
porque ele come essa beleza. Quem quer que se alimente de majestade
se torna eloquente. A abelha, por inspiração mística,
enche seus aposentos de mel.
Assim, o dugongo se alimenta à noite com o brilho da pérola.
De repente, aparece um comerciante e despeja terra preta
sobre a pérola, depois se esconde atrás de uma árvore para observar.
O dugongo dispara pelo campo feito um touro cego.
Vinte vezes ele investe contra nada, passando pela pilha
onde a pérola está.
Assim, Satã não podia ver
o centro do espírito de Adão.
Deus diz: Desça,
e uma enorme pérola de Adem fica
enterrada sob o solo.
O comerciante sabe,
mas o dugongo não.
Toda pilha de barro que tem uma pérola dentro
ama estar perto de qualquer outra pilha de barro com uma pérola,
mas aquelas sem pérola não suportam estar perto
da companhia oculta.
Lembra do rato na margem do rio?
Tem um fio de amor que se estica para dentro da água
esperando pelo sapo.
De repente, um corvo agarra o rato
e sai voando. O sapo também, do fundo do rio,
com uma pata amarrada ao fio invisível,
segue junto, suspenso no ar.
Rostos surpresos perguntam:
“Quando foi que um corvo já desceu embaixo d’água
e apanhou um sapo?”
O sapo responde:
Essa é a força da amizade.
Aquilo que une amigos
não se conforma com leis da natureza.
A forma não sabe nada sobre proximidade espiritual.
Se um grão de cevada se aproxima de um grão de trigo,
uma formiga o deve estar carregando.
Uma formiga preta sobre um feltro preto.
Você não pode vê-la, mas se grãos se aproximam um do outro,
ela está lá.
Uma mão move nossas gaiolas.
Algumas se aproximam. Outras se afastam.
Não tente entender. Esteja consciente
de quem te traz para perto e de quem não te traz.
Gabriel estava sempre lá com Jesus, elevando-o
acima da abóbada azul escura, o mundo de noite-fortaleza,
como o corvo do desejo carrega o sapo que voa.

(Traduzido do livro The Essential Rumi)


