O Grande Gatsby por Armando Ribeiro

O Grande Gatsby por Armando Ribeiro

O livro de Francis Scott Fitzgerald - "O Grande Gatsby"

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"O Grande Gatsby", romance norte-americano

Por Armando Ribeiro

Quando, em 1925, Francis Scott Fitzgerald entregou ao público "O Grande Gatsby" o público e nem ele mesmo imaginariam que estariam diante de um dos mais expressivos, se não o mais expressivo romance norte-americano do Século 20. O que poucos sabem é que, de imediato, este romance, quase novela, não agradou a crítica e teve resposta regular dos leitores de época. A questão que fica é: se tal obra não conseguiu superar naquele período "Este lado do Paraíso" e "Os belos Malditos" obras do mesmo autor, que também foi roteirista em Hollywood, porque hoje, ele é tão mais agraciado do público que estes dois documentos literários riquíssimos anteriores? Tenho por mim uma resposta:

O Grande Gatsby possuiu tres elementos que devem ser respeitados. O primeiro é o tema - nada mais excitante como voltar no passado nos anos de ouro dos Estados Unidos, o fato desta nação só ter participado da primeira guerra mundial em seu último ano propiciou oportunidades de investimento, administração e criação de um mercado gigante que, em seu resultado robusteceu Wall Street e fez com que Nova Iorque tona-se a cidade dourada. O Charleston, Jazz, as melindrosas e o enriquecimento fácil em meio aos jogos de ações e investimentos materiais transformou toda uma geração em hordas de egoísmo, fetichismo, malabarismo emocional e, por conseguinte, frieza relacional.

Grande livro do século XX

Os Anos 20 do pós-Primeira Guerra, os Roaring Twenties (Os Loucos Anos Vintes), foi um período de grande efervescência cultural no mundo! De fato foi uma época onde a moda era ditada pelas flappers (melindrosas): com seus cabelos À La Garçonne, saias leves e curtas, e sem espartilhos, o que só facilitava cada vez mais dançar ao som do Jazz! Cabe salientar que. enquanto a Europa buscava se reconstruir das feridas de uma guerra sem sentido, se é que existiu ou existe um sentido para as guerras, os americanos, fechando os olhos para as grandes diferenças sociais entre os carvoeiros e representantes do trabalho braçal e a nova Hight Society, presenciavam aquilo que, até aquele período, tenha sido o maior movimento hedonista daquele país.

Um segundo tema seria a possibilidade de integridade, mesmo diante de tantas facilidades de "pecados" pelo conforto, aqui nascem, com bastante poder as figuras de Gatsby e Nick Carraway. Existe uma ética em meio ao caos, mesmo em alguns de seus representantes. A possibilidade de se cogitar a crítica em momentos de Aurora e Vigor é bem mais honrosa que as negativas desistentes em momentos ruins.

"O Grande Gatsby" em filme de 1949

De algum modo, mesmo em meio aos seus defeitos e equívocos, Nick e Gatsby representarão um certo espaço de lucidez ante a extasia lúgubre e artificial do dinheiro, e, diria eu, muito dinheiro. A mistura desses dois temas acabam por parir o terceiro. Qual seria? A vida não é uma fantasia, ela produz prazer e dor, sem, necessariamente, construir um equilíbrio entre as duas sensações. Uma frase de Daizy Buchanan expressa bem a aporia do vazio de felicidades não domadas:

"O que faremos mais tarde, o que faremos da vida?"

Por sorte, sem querer adiantar qualquer situação do romance, Dayse é Tom e Tom é Dayse, Catsby é melhor que os dois e Nick é um cavaleiro da fidelidade ao inesperado. Gatsby é o inesperado, é a entidade, é um filho de nobre, um herói de guerra, um pretenso assassino, um herdeiro milionário no ideário e lendas construídas pelos mentirosos elegantes, Gatsby é uma entidade tão expressiva como o Fantasma da Ópera de Gaston Leroux, um mafioso dos contrabandos de bebidas que venceu a Lei Seca, algo que Al Capone não conseguiu. Um terço do livro se fala de Gatsby sem que Gatsby possa falar de si mesmo, depois disso, Gatsby rege os sentidos e os não sentidos dos personagens, já o Fantasma se diferenciará por sua origem e desejo lúgubre. Um é exagerado obsessão da paixão, o outro é cego de si mesmo.

Há um personagem ativo em toda a obra, qual seria? O Poder! O que este ente que detém em si as riquezas pode proporcionar a um mortal, a grande lei se testifica na ordem onde riquezas não são eternas e menos eternos ainda seus detentores. Em parte, não fica difícil de ver Fitz em Nick, como não é difícil ver a loucura projetada em todos os personagens. Ainda que algumas sejam momentâneas, outras são, sem dúvida , endêmicas. Nick e Gatsby estão, de certa forma imunes, existindo em seus desejos, mas, antes de tudo, os desejos de Gatsby são honrosos, mesmo que exagerados. Talvez seja por isso que T. S. Eliot tenha assumido o romance como "o primeiro passo que a ficção norte-americana propiciou desde Henry James!".

O Grande Gatsby" em filme de 2013

Indico a todos ocuparem-se, antes da obra, sobre a vida de Fitz e sua esposa Zelda. As dores não foram poucas, o amor existiu a morte apareceu bem cedo, não antes da loucura. Lembrando que, se podemos entender tal obra com uma personalidade profética, isso esta num certo espírito que aponta que o todo do romance representava uma situação, que ao seu tempo, se encerraria. Isto aconteceu, não sob previsão de Scott, mas por um resultado lógico, quando em 1929 o Crash da Bolsa se faz dolorosamente real às futilidades de tantos, a Grande depressão nasce, pondo um ponto final nesse tempo, nas ilusões e mesmo vidas de muitos dos antes, cidadãos do tempo dourado norte-americano.

Esta obra gerou Homônimos no Cinema em 1949, 1974 e 2013, eu, pessoalmente gostei muito do filme de 49, aceitei o de 2013 e torci o nariz para o de 74. Mas, cabe a você vê-los e escolhê-los segundo sua órbita de pensamento e gosto.

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https://www.youtube.com/watch?v=Ca-fPeJj0Ak&t=10s