A fluidez das cores na música

A fluidez das cores na música

Roseane Yampolschi e a fonte de sua infância no Palácio do Catete

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Luiz Carlos Prestes Filho

Exclusivo Catetear Notícias

A compositora carioca Roseane Yampolschi presenciou a execução de "Ciclos para violoncelo e piano" na mesma sala Cecilia Meireles onde aconteceu a estreia desta sua obra, na X Bienal de Música Brasileira, em 1993. "Sempre é emocionante e diferente. É a mesma composição, mas na cena estiveram outros músicos e o ambiente é outro", disse a autora elogiando Hugo Pilger, violoncelo, e Lúcia Barrenechea, piano.

Hugo Pilger e Lúcia Barrenechea

Esta noite da XXVI Bienal também ofereceu para os ouvintes "Sete miniaturas para violino e viola" de Carlos Almada e o "Trio para violino, violoncelo e piano" de Sérgio de Vasconcelos-Corrêa. As linguagens diferentes destes trabalhos fizeram o tímido lirismo de Roseane Yampolschi crescer. O seu piano e seu violoncelo buscavam caminhos inesperados com independência, em dois momentos expressaram juntos, vivamente a alegria do viver.

Roseane Yampolschi

"O que importa na música não é somente a linguagem, ela deve conter o frescor da invenção", afirmou Roseane e continuou, "podem dizer que uma obra de arte tem quer ser atemporal, prefiro a palavra frescor".

Quem esteve presente confirmou que soprou pela sala um leve frescor quando a música da compositora foi apresentada. Até mesmo o pequeno escorregão do violoncelo, que fugiu das mãos de Hugo Pilger, trouxe esta sensação. "De ontem para hoje sonhei que o violoncelo escorregava", confessou a compositora, "tive esta advertência antecipada". Desta maneira, sonho e realidade se juntaram. Aconteceu um novo batismo. Quem sabe a composição poderia ter o nome de 'Premonição'.

Roseane recorre à dinâmica do estudo da arte da aquarela que vem realizando atualmente para deixar mais claro seu ponto de vista: “Uso pigmentos suspensos em água, isso traz fluidez e colabora para misturar tons, trazer o viver do inesperado. Na aquarela vejo uma arte viva, porque a água e a cor se unem e inventam um processo em constante mudança. Refletindo a impermanência do que planejamos. Busco na música fazer isso. Tanto que quando um músico vai executar uma obra de minha autoria ofereço pigmentos sonoros, papel e água. Entendo que o fluir não pode ser vestido com uma camisa de força.”

Luiz Carlos Prestes Filho é diretor de cinema, jornalista e compositor