"Zaíra: Casa-Corpo"

"Zaíra: Casa-Corpo"

Zaíra de Oliveira, Rio de Janeiro, 1925.

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"Zaíra: Casa-Corpo"

Poema para Soprano e Orquestra

Homenagem a Zaíra de Oliveira

 Texto

Luiz Carlos Prestes Filho e Julia Félix

Letras e Poesias

Luiz Carlos Prestes Filho

Música

Luiz Carlos Prestes Filho

Introdução

Marcelo Bonavides de Castro

ZAÍRA DE OLIVEIRA

INTRODUÇÃO

 Por Marcelo Bonavides de Castro

bonavides75@gmail.com

www.marcelobonavides.com 

Correio da Manhã, 21-05-1920 apresentação de Zaíra de Oliveira no Theatro Municipal

A história da música popular no Brasil vem, ao longo das últimas décadas, sendo alvo de pesquisas detalhadas que trazem novamente a público grandes nomes de nosso passado musical. Um passado que, sem nostalgia alguma, foi grandioso. A presença feminina tem sido algo de resgates e descobertas interessantes, pois, em um ambiente quase que dominado pelos homens, as mulheres marcaram sua presença com muito talento e pioneirismo. Por esta razão, é muito oportuna esta obra dramático-musical realizada por Luiz Carlos Prestes Filho, Julia Félix e Lucas Bueno.

Entre as grandes damas de nossa canção, encontra-se Zaíra de Oliveira, soprano que soube muito bem valorizar o erudito e popular em nossa cultura nas primeiras décadas do século XX. Sendo mulher, negra, vivendo em um ambiente onde os homens e seus preconceitos ditavam regras, ela enfrentaria obstáculos para seguir com seu canto. Mas, com seu talento e muito estudo, ela venceu a maioria de suas barreiras e conseguiu se firmar como a grande cantora que ela, sendo reconhecida em seu tempo. Zaíra de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro, em 01 de fevereiro de 1900. Embora algumas fontes apontem o ano de 1891 e, até 1899, sua filha nos informou, em julho de 2008, que o ano correto de seu nascimento seria 1900. Zaíra de Oliveira era filha de Jesuína de Oliveira e José de Oliveira.

Ela iniciou seus estudos de canto, provavelmente, em meados da década de 1910. Em 30 de janeiro de 1917, na escola de canto da sra. Seguín, situada à Rua Sachet, houve uma apresentação das alunas, que mostram seu desenvolvimento no canto. Na ocasião, as alunas Zaíra de Oliveira e Margarida Magalhães interpretaram Les contes de Hoffman, de Offenbach. Em 02 de outubro de 1917, sob a direção da professora Dora Castello Branco, Zaíra de Oliveira cantava hinos sacros na Primeira Comunhão dos Alunos do Gymnasio Brasileiro, evento ocorrido na matriz do Senhor do Bonfim, em Copacabana. Em agosto de 1919, Zaíra de Oliveira estava na cidade de Bananal (SP), participando do coro que foi especialmente para as festividades em homenagem ao padroeiro da cidade. O talento de Zaíra de Oliveira se fazia notar. Em 22 de maio de 1920 ela se apresentou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, pela Sociedade de Concertos Symphonicos do Rio de Janeiro. No segundo programa da primeira série de 1920, ela cantou a Ária de Hilária (Oh! Ciel di Parahyba), da ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes, sendo acompanhada pelo maestro Francisco Braga. Aqui, temos o pioneirismo de Zaíra de Oliveira em ser a primeira artista negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, antecedendo damas como Ruth de Souza (atriz, em 1945) e Mercedes Baptista (bailarina e coreógrafa, 1948).

Aos 20 anos de idade, Zaíra de Oliveira foi bastante elogiada pela crítica do Correio da Manhã, de 24 de maio de 1920: “O programma de hontem despertava especial interesse artistico, pois continha dois numeros em primeira audição e apresentava uma cantora nacional, ainda novata, mas rica de aptidões para a carreira lyrica. [...] A cantora chama-se senhorita Zaíra de Oliveira. [...] A senhorita Zaíra de Oliveira cantou a aria de Ilara (sic) do ‘Schiavo’, com muito sentimento e bella dicção. Um pouco mais de dramaticidade faria talvez melhormente o estado psychologico de uma indigena sonhadora, apaixonada, mas sempre indigena e, pelo tanto, maneirosa. O publico fez uma ovação á gentil cantora e pediu insistentemente, mas inutilmente, a repetição do trecho”.

O sucesso de suas apresentações não aplacava sua determinação em estudar cada vez mais. Era isso que ela continuava fazendo, estudando. Estudando e fazendo apresentações, para mostrar sua evolução. Em 22 de maio de 1921, a diseuse e professora de canto, Angela Vargas Barbosa Vianna, abriu seu salão de arte para que suas melhores alunas pudessem se apresentar. Entre elas, Zaíra de Oliveira. Realizada em Botafogo, às 16h, o evento também contou com o maestro e compositor Eduardo Souto. Já em 15 de novembro de 1921, Zaíra de Oliveira cantava em benefício do Instituto de Proteção e Assistência à Infância, que se realizou às 16h no salão do Jornal do Commercio. Ela cantou Le Cid, de Massenet, e Salvatore Rosa, de Carlos Gomes. Em 03 de setembro de 1921, Zaíra de Oliveira participou de um concerto organizado pelo maestro e compositor Eduardo Souto no Theatro João Caetano. Participando da segunda e terceira parte do programa, Zaíra de Oliveira cantou: Coração Indeciso, canção de Alberto Nepomuceno; Sonhos Róseos, canção de Sebastião Barroso; Desilusão, modinha de Eduardo Souto; Do sorriso da Mulher nasceram as Flores, tango de salão de Eduardo Souto.

O jornal O Fluminense, de 06 de setembro de 1921, assim retratou a participação da artista: “Resta-nos dizer sobra a distincta artista do canto que é a senhorinha Zaira de Oliveira. Laureada do Instituto Nacional de Musica, possuidora de uma voz doce, crystalina, canta com muita escola e diz com verdadeira perfeição. Em ‘Coração Indeciso’ de A. Nepomuceno fez sua apresentação conquistando a platéa; em ‘Desilusão’ e ‘Do sorriso da mulher nasceram as flores’ de E. Souto, levou esta mesma platéa ao delirio. A sua natural modestia retratou perfeitamente a grandeza da artista. Poucas vezes temos ouvido voz com registro tão completo e tão maleavel. Allia a distincta artista a tão soberbos dotes uma dicção fóra do commum, justissimos, portanto, os applausos que recebeu, aos que juntamos os nossos”. 

Em 1921, Zaíra de Oliveira estava estudando no Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro. Ela terminaria seus estudos em dezembro desse mesmo ano, concluindo todas as fases do curso com distinção. O encerramento do curso aconteceria em 30 de dezembro de 1921, às 15h. Quem ficasse em primeiro lugar receberia uma Medalha de Ouro e uma bolsa de estudos na Europa. Zaira de Oliveira concorreu e obteve, por unanimidade de votos da comissão julgadora, o primeiro lugar. Nessa comissão, segundo o cronista Jota Efegê, estavam Abdon Milanez, Nícia Silva (mãe da cantora e atriz Gilda de Abreu), Arthur Imbassahy, Agostinho Correia e Alice Alves da Silva. Porém, Zaíra de Oliveira somente recebeu a Medalha de Ouro. Jota Efegê informa que, para muitos, na época, ela não teria recebido a bolsa de estudo na Europa por ser negra. Efegê ainda informou que isso não a entristeceu, pois, “só a alta distinção conquistada no mais importante órgão oficial de ensino artístico da capital do Brasil lhe daria motivo de justo orgulho”. O Correio da Manhã, de 31 de dezembro de 1921, assim comentou o concurso: [..] Entre as sete competidoras, a senhorita Zaira de Oliveira obteve o primeiro premio por unanimidade de votos da commissão julgadora.

A laureada joven (sic), muito conhecida e applaudida nos salões de concertos, ainda durante seu brilhante estagio no curso do professor Amaro Barretto, recebeu com o merecido voto do jury, a consagração official do seu extraordinario talento de cantora e das suas distinctas qualidades de interprete. O julgamento da commissão examinadora foi recebida com immenso comprazimento pelo publico que assistira ao concurso, sendo a senhorita Zaira de Oliveira effusivamente cumprimentada e abraçada por pessoas amigas que aguardavam até a noite o resultado do concurso [...].

Em 09 de julho de 1925, Zaíra de Oliveira realizou seu festival artístico no Theatro Municipal de Niterói. O evento teve a participação do dr. Floriano de Lemos, que fez uma conferência, e do maestro e compositor Eduardo Souto, que ao piano, acompanhou a cantora nas canções, algumas, feitas em sua homenagem. Ela interpretou Puccini, Alberto Nepomuceno, Carlos Gomes e Eduardo Souto. Outra festa artística em homenagem à Zaíra de Oliveira, promovida pelo jornal Beira-Mar e um grupo de admiradores, realizou-se pouco depois, no dia 16 de junho de 1925, uma terça-feira, às 20h, no Copacabana Palace. Antes de sua apresentação, foi exibido um filme. O evento contou também com a participação de vários artistas, como a pianista Maria Amélia, a violinista Odette Menezes de Oliveira, a soprano Altair Calheiros da Graça Guigon, o tenor Frederico Rocha, os barítonos Gastão Formenti e Ignácio Guimarães, o maestro Eduardo Souto e coro, e o poeta Catullo da Paixão Cearense.

A crítica de Beira-Mar, muito elogiosa à artista, informava que era intuito do jornal tornar Zaíra de Oliveira conhecida da sociedade de Copacabana. Nada melhor que levar seu espetáculo ao palco do Copacabana Palace. Na ocasião, Zaíra de Oliveira interpretou Tosca, Aída, com Zizinha Costa, Dolor Suprema e Lo Schiavo. “Com delicado sentimento cantou algumas doridas canções brasileiras de Eduardo Souto, e melhor, encantadora mesmo, saiu-se dos cateretês paulistas Chororó e Sarará”, relatou Beira-Mar em 21 de junho de 1925, ainda informando: “Houve muitos applausos, muitas corbeilles de flores foram offerecidas a Zaira de Oliveira e o festival, cremos bem, agradou”.

Tornando-se cada vez mais conhecida, logo Zaíra de Oliveira iria gravar seus primeiros discos, ainda no processo mecânico. Isso aconteceu em 1925, pela Casa Edison, em discos Odeon Record. Curioso que, seu primeiro disco não trouxe um trecho lírico, canção ou cateretê brasileiro, e sim dois foxtrotes, bem ao sucesso da época. De um lado (disco Odeon Record 122.768), ela gravou o êxito Cabeleira à La Garçonne, de Américo F. Guimarães e Pedro de Sá Pereira, lançado nos palcos, no ano anterior, pela estrela do teatro de revista, Margarida Max. Os versos faziam alusão à nova moda que as mulheres adotaram aos cabelos, o corte à lá Garçonne. O outro lado (disco Odeon Record 122.769), trazia o foxtrote de J. Guerrêro, La Monteria

Zaíra de Oliveira gravou algumas composições de Eduardo Souto. Chegaram até nossos dias o disco onde ela interpreta as canções Amargura (disco Odeon Record 122.772) e Guitarrada (disco Odeon Record 122.773), ambas de Eduardo Souto. A canção Amargura é um espetáculo à parte. De belíssima melodia e triste versos, mesmo com os poucos recursos das gravações mecânicas, ainda podemos apreciar a interpretação sentida e cativante de Zaíra de Oliveira. Ao lado do célebre e pioneiro cantor Bahiano, Zaíra de Oliveira gravou oito músicas. Entre elas, podemos apreciar a marcha carnavalesca à moda dos ranchos cariocas (como é anunciada) O Teu Olhar (disco Odeon Record 122.798), da autoria de Eduardo Souto. Também destacamos o divertido e sapeca cateretê carnavalesco Eu só quero é conhecer (disco Odeon Record 122.799), de Eduardo Souto. Zaíra de Oliveira e Bahiano se saem bem cantando juntos, valorizando as belas melodias das composições.

No disco, o grande sucesso de Zaíra de Oliveira foi a marcha carnavalesca Dondoca (disco Odeon Record 123.250), de José Francisco de Freitas, que ela gravou ao lado de J. Gomes Júnior. Novamente, Margarida Max, havia lançado a marchinha nos palcos. A música foi um dos grandes êxitos no Carnaval de 1927. Na fase elétrica, Zaíra de Oliveira deixou alguns discos com várias músicas, entre elas, destaco a belíssima Canção dos Infelizes, de Ernesto dos Santos (Donga) e Luiz Peixoto, que ela lançou em disco Parlophon em 1931. Um ano antes, na Odeon, Zaíra Cavalcanti também lançou essa música. Interessante foi o samba de Ary Barroso, Sonhei que era Feliz, que Carmen Miranda gravou em 14 de dezembro de 1931, na Victor, com a participação de Zaíra de Oliveira no refrão. Porém, a voz de Zaíra está quase imperceptível. Talvez, na hora de gravar, ela tenha cantado mais baixo para não abafar a voz de Carmen, porém, quase não a ouvimos. É uma pena, pois, o pouco que conseguimos ouvir dá uma ideia de como seria bonito as duas vozes audíveis.

Zaíra de Oliveira gravou músicas que não foram comercializadas. É o caso do “samba de cor firme”, Indanthren, que ela gravou ao lado de J. B. de Carvalho em 10 de junho de 1932, em uma gravação particular que serviu de propaganda para o corante Indanthren. O lado B traia a marcha A Culpa é Sua, também alusiva ao corante e gravada por Zaíra de Oliveira e J. B. de Carvalho. Porém, um grande achado feito pelo pesquisador Luiz Antônio de Almeida foi o disco particular que trazia o samba de Heitor dos Prazeres, Meu Pretinho, gravado por Zaíra de Oliveira em 1931. 

Ela também faria parte do célebre Conjunto Tupy, liderado por J. B. de Carvalho, ao lado de Yolanda Osório, Herivelto Martins e Francisco Senna. O conjunto gravaria vários discos, alternando as cantoras. Por volta de 1926, Zaíra de Oliveira começou a participar de alguns programas radiofônicos, quando o rádio ainda dava seus primeiros passos no Brasil. Em 11 de fevereiro de 1926, a programação da Rádio Sociedade, apresentava, depois das dez da noite, canções de Eduardo Souto, interpretadas por vários artistas, com o próprio autor ao piano. Zaíra de Oliveira cantou: Romantismo, Mágoas, O Sabiá e Amizade Amorosa. Sua atuação nas rádios cariocas se estendeu até a primeira metade da década de 1930, sempre cantando músicas eruditas e populares. Em 15 de novembro de 1926, ao lado de Elsie Houston, Heloisa Bloem Mastrangioli, Julieta Telles de Menezes, Zaíra de Oliveira fez parte de um coro feminino organizado por Villa-Lobos, apresentando-se no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro.

Castro Barbosa, Moacyr Bueno Rocha, Luiz Barbosa, Noel Rosa, Donga, Mauro de Oliveira, Jorge Murad, Christovão de A|lencar, Mesquitinha, Zaira de Oliveira e Ecyla Joppert. Fotografia realizada durante o "Programma "Casé" e publicada em "O Malho", 11-01-934

Zaíra de Oliveira seguia cantando, seja em casamentos, recitais, nas rádios, em coro de igrejas e em eventos diversos, sua bela voz era ouvida. Segundo o cronista Jotaefegê, Villa-Lobos, admirador de seu talento, convidou Zaíra para ser coordenadora dos orfeões escolares que ele dirigia. Ela se dedicou, empregando toda sua técnica e conhecimento, recebendo vários elogios. No começo da década de 1930, atuou em várias emissoras de rádio, sempre cantando músicas eruditas e populares. Por alguns anos fez parte do elenco do Programa Casé, na Rádio Philips.

Ao longo do ano de 1930, o jornal Diário Carioca promoveu o concurso para eleger, por votação dos leitores, A Rainha da Canção Brasileira e o Príncipe dos Cantores Regionais. Em setembro saiu o resultado, sendo vencedores a cantora Jesy Barbosa, antiga aluna de Zaíra de Oliveira (a quem Zaíra tinha muito afeto e admiração), e o locutor Renato Murce. A própria Zaíra de Oliveira ficou em segundo lugar, recebendo 41.720 votos. Sobre ela, o Diário Carioca assim se referiu, em 13 de setembro de 1930: ZAIRA DE OLIVEIRA - O nome de Zaira de Oliveira é conhecido e festejado nos centros de arte do Rio de Janeiro. Pertence a uma artista cheia de merecimento, que contribue para a diffusão da musica através o radio, recitaes, etc., com bastante enthusiasmo. Portadora de diploma e medalha de ouro do Instituto Nacional de Musica, não é apenas a cantora classica mas tambem a apaixonada da musica regional, a cuja interpretação empresta o brilho de sua voz laureada. Conquistou de maneira notavel o segundo logar, tendo surgido de surpresa como candidata das mais ardorosas á (sic) posse do titulo maximo.

Entre os eventos que tomou parte, destacamos o Festival da Parlophon, a gravadora onde ela atuava. Realizado em 01 de agosto de 1931, às 16h, no Theatro Cassino, no Rio de Janeiro, foi uma ideia do próprio elenco da gravadora em homenagem a imprensa carioca. Zaíra de Oliveira cantou a canção brasileira, Lua Culpada, de Duque (Antônio Amorim Diniz), que ela havia gravado. Entre os artistas, estavam o Bando de Tangarás, André Filho, Lely Morel, Elisa Coelho, Almirante e Carolina Cardoso de Menezes. 

Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, músico, compositor e violonista, casou com Zaíra em 1932 

Em 29 de março de 1932, Zaíra de Oliveira se casou com o compositor e músico, Ernesto dos Santos, o Donga. O ato religioso foi celebrado na Matriz do Engenho Velho, pelo monsenhor Mac-Dowell. Foram testemunhas Mário Magalhães, Julieta Ribeiro e José Carneiro da Cunha. Antes, eles haviam casado no civil. No evento religioso, a parte musical ficou a cargo de Helena Barreto, Jacy Bacellar e Zizinha Costa que, acompanhadas por violino cantaram, entre outras, Ave Maria. No órgão, a senhora Noel Ferreira também as acompanhou. Após a cerimônia, os noivos seguiram para Petrópolis.

Donga, Zaíra de Oliveira e a filha Lygia, Rio de Janeiro, 1935. Momento quando foi presenteada com uma máquina de costura.

Em 15 de maio de 1932, Zaíra de Oliveira, Zaíra de Oliveira dos Santos, estava novamente no Rio de Janeiro participando da Festa do Negro, realizada às 21h no Theatro Cassino. Fora ela, o evento trazia artistas do quilate de Pixinguinha, Rosa Negra, Pérola Negra, Sylvio Caldas, Jorge Fernandes, Victoria Régia, Violeta Campos, Murilo Caldas, Mello Moraes, Bororó, Harry Kosarin e Seus Almirantes e a Orquestra da Guarda Velha. O casal Zaíra de Oliveira dos Santos e Ernesto dos Santos (Donga), tiveram a maior alegria em seu casamento no dia 01 de janeiro de 1934, quando nasceu sua primeira filha, Lygia Maria, futura historiadora. Lygia foi batizada em 13 de maio de 1934, às 16 30h, na Igreja de São Francisco Xavier. Os padrinhos foram Helena Barreto, amiga de Zaíra de Oliveira e também cantora, e Henrique Diniz, funcionário do Banco do Brasil

Aliando a vida artística com a vida doméstica, Zaíra de Oliveira foi agraciada em 14 de janeiro de 1935 com uma máquina de costura Singer, em um concurso do jornal Diário de Notícias. No dia seguinte, o jornal estampou, ao lado de outros ganhadores, a foto de Zaira de Oliveira, muito sorridente, ao lado da filhinha, Lygia, de um ano de idade. Zaíra de Oliveira acompanharia os passos da filha, como em sua primeira comunhão, realizada no início de 1943. Dedicando-se à família, ela passaria os próximos anos em educando sua filha ao lado do esposo. 

Diário de Pernambuco, 17-08-1951, http://memoria.bn.br/

Infelizmente, essa felicidade seria prematuramente interrompida em 15 de agosto de 1951, quando Zaíra de Oliveira faleceu, vitimada por um ataque cardíaco. Na imprensa, só encontramos duas citações sobre o ocorrido. Uma nota de Aluizio Rocha, no jornal Diário de Notícias de 17 de agosto de 1951, que relembrava o pioneirismo de Zaíra no início do rádio no Brasil, destacando que, talvez, ela fosse a única cantora negra a se profissionalizar e a cantar músicas líricas ao microfone, naqueles tempos. A outra menção foi a do cantor Francisco Alves que, em uma série de reportagens realizadas em 1952 na revista O Cruzeiro, lembrou do súbito desaparecimento da cantora, que muita tristeza trouxera a seu esposo, Donga. 

O desaparecimento de Zaíra de Oliveira encerrava uma época de pioneirismo e arte feita com muito talento e dedicação. Em 1925, o escritor Goulart de Andrade esteve presente em uma missa, onde ficou muito impressionado com a voz da cantora que, acompanhada ao órgão, inebriou a todos que estavam no local. Depois, ele escreveu um artigo intitulado A Cantora Humilde, publicado em 07 de junho de 1925 no jornal Beira-Mar, dedicado à dona daquela linda voz, Zaíra de Oliveira. Apesar de todos os esforços para saber que era a dona de tão bonito timbre vocal, a cantora permaneceu anônima durante e depois da missa. Assim parecia ser Zaíra de Oliveira, um talento excepcional aliado a muita dedicação, estudo e humildade.

"Zaíra: CASA CORPO"

 

INVIZIBILIZADA

(canto sem acompanhamento)

 

Participar não podia – participou

Vencer não podia – venceu

Sua cor impedia – ela sabia

Ganhando perderia – aceitou

 

O destino pedia – enfrentou

Não queria desistir – avançou

Um território que ninguém conhecia

Sua voz conquistou

 

Foram tantos navios negreiros – para ela chegar

Para com seus ancestrais – entoar

Não, não era a glória que Zaira buscava

Mesmo invisibilizada – queria cantar

CANÇÃO DE ZAÍRA

(canto e orquestra)

 

Não a poesia, a poesia

Não serva para mentir

Quando tento uma voz me diz

Melhor para por aqui

Não implora - pede

Depois suspira e sorri

A poesia é aquele pedaço da verdade

Que ninguém consegue destruir

O CORPO DA CASA CORPO

(canto sem acompanhamento)

 

No corpo dela - o olho era janela

A música me contou - sua voz revela

Pela porta desse corpo - passavam doenças, mazelas

Para virar paz e saúde - numa piscadela

 

No corpo dela a carne era de terra

O sangue o aloá - a canção revela

Nas danças o presente e o passado de amargar

Nas canções o futuro, o brilho de arandela

 

No corpo dela a natureza interna

O olhar do coração que vence qualquer mazela

O imortal e o infinito, o sol e as estrelas

O nascimento e a morte - numa piscadela

  

A Zaíra era uma casa-corpo. O chão lá que era de terra, sim a terra era a carne daquele corpo. Seus ossos eram as paredes; o seu sangue as águas de cheiro e o aloá. Nas músicas, nas canções e nas danças o presente, o passado e o futuro - num só tempo. As janelas de frente da casa-corpo se abriam para o Rio de Janeiro. Como os olhos humanos se abrem para receber informações do mundo exterior. Aquelas janelas nada emitiam, somente recebiam. Pela a porta da frente da casa-corpo Zaíra entravam doenças, tristezas, traições e violências. Pela mesma porta saiam curas, alegria, lealdade e paz. A casa de Zaíra era habitada pelo infinito do céu. Neste infinito do céu cabia no seu coração. Entrar na casa-corpo era como entrar no coração de Zaíra que abrigava todo o céu com todas as estrelas. Tanto que o visitante conseguia olhar para além do nascimento e da morte. Porque a verdadeira natureza do homem é imortal como o infinito. Zaíra primeiro nos fazia sentir essa verdade, depois fazia entenderem essa verdade. Ela sabia que não poderia mudar a natureza que invadia suas janelas e entrava pela sua porta. Mas oferecia conforto no seu coração. Os visitantes aos poucos, conseguiam olhar para a natureza interna de seus próprios corações. Assim deixavam de olhar somente o externo passavam a olhar para dentro de si. Essa era a missão do seu cantar. Entrar naquela casa-corpo era dar um passo para dentro de sua própria essência e de sua própria verdade. Sendo assim, nunca reclamou abertamente, por ter ganhado o concurso de canto lírico, em 1921, e não ter levando o prêmio: uma bolsa-viagem para a Europa, para aprimorar sua formação profissional. Por ser negra, o prêmio não lhe foi entregue

Link para ouvir "Quê Querê" de João da Baiana interpretado por Zaíra de Oliveira e Francisco Sena, 1932:

https://www.youtube.com/watch?v=XbFhDgN5vPg

Nunca se deixou abalar. Gravou marchas, sambas e outros gênero.

(Ouvimos na voz de Zaíra de Oliveira “Cabeleira à la Garçonne”)

 

O EXTERNO E O INTERNO DA CASA-CORPO

(canto sem acompanhamento)

 

Não eram telhas, eram mãos de escravizados

Que protegiam o corpo-casa de Zaíra

O vento chamava e as telhas respondiam

Em uivos, desesperos

 

Não eram telhas, eram mãos de escravizados

Quem protegiam o corpo-casa de Zaíra

A chuva batia e as telhas soltavam

Lágrimas no aguaceiro

 

Não eram telhas, eram mãos de escravizados

Quem protegiam o corpo-casa de Zaíra

O sol castigava e das telhas secas

Era tudo suor por inteiro

DIÁLOGO COM ZAÍRA

(canto e orquestra)

 

Várias vozes perguntam a Zaíra: 

De onde vem a sua voz?

De onde vem a sua força?

Como conseguiu chegar até nós?

Sempre se doando

Nada pedindo em troca

Zaíra os seus ancestrais

Querem saber

Chegou a hora de falar - você sabe

Agora não pode calar

Zaíra responde:

Minha voz veio desde os ventos

Que abraçavam os baobás

Minha força da cana, do ouro, do café

Sim, nunca quis nada

Além do direito de cantar

Digam para os meus ancestrais

Que amei, que sonhei

Que conquistei em vida a paz

  

A casa-corpo Zaíra, na Pequena África, era coberta com telhas de barro. Mas somente por aquelas telhas que ela identificava que foram moldadas por escravos - ancestrais de seus ancestrais. Estas que guardavam os ecos dos lamentos sonoros da sua origem. Suas mesas eram cobertas por toalhas de rechilieu brancas, bordadas em flores e arabescos. Toalhas feitas à mão por artesãs baianas. Algumas eram bem antigas, nunca encardidas, trazidas de Salvador. Muitos temas visuais das toalhas estavam nas suas saias rendadas. Algumas dessas imagens estavam fixadas nas suas pulseiras e colares de ouro. O branco dessas toalhas brilhava como luz. Por vezes, iluminava o espaço mais que as velas e os candieiros. Nas prateleiras fragmentos da vida, colhidos por suas próprias mãos, nos matagais e florestas que visitava para conversar com a mãe natureza. Eram ervas que vinham de áreas secas, de baixa fertilidade, e outras de áreas úmidas, vizinhas a rios e cachoeiras. Podiam ser as mesmas ervas, mas o local onde foi colhida a erva definia a intensidade do néctar. Em recipientes de barro estavam o boldo, o manjericão, o poejo, o coentro, a arnica, a aroeira, o oriri, a babosa, o saião, o alecrim, a espada de São Jorge e a espada de Santa Barbara. No alto do armário deixava sobre um prato algumas romãs, oborô e obi. Somente Zaíra sabia dos segredos morais e intelectuais desses fragmentos de vida. Zaíra sabia de onde vieram, como brotaram e quando aceitaram a maciez e o perfume de suas mãos. Entre a entrada de sua casa e o salão, reservado do interior, estava o quintal protegido por uma mangueira. Seus galhos abraçavam os raios solares intensos sobre o telhado. Traziam frescor no verão e conforto no inverno. Suas frutas, todos os anos, eram por ela esperadas e colhidas. Época quando a cor amarela invadia a cozinha e o sabor da fruta embebedava os visitantes. O aroma chamava uma variedade incrível de pássaros. 

(Ouvimos na voz de Zaíra de Oliveira “Canção dos Infelizes”)

OS INSTRUMENTOS DA CASA-CORPO

(canto sem acompanhamento)

 

Zaíra contou para o Donga, ele contou... para o Pixingunha

Que contou para o Sinhô, que contou para o Ismael Silva

Que tinha um atabaque na sua casa-corpo que conheceu o baobá dos ancestrais

 

Tinha um segundo atabaque que as correntes soube arrebentar

Seu couro era branco como rechilieu, esse atabaque - afirmou

Conheceu o Zumbi dos Palmares e nunca se entregou

 

Cinco berimbaus, tinha sua casa-corpo

Cada um tinha a sua cabaça, nunca deixaram de soar sobre a Pequena África

Berimbaus afinados pelos atabaques que cantavam: liberdade

A VOZ DE ZAÍRA

(canto e orquestra)

 

O que é importante viver?

O insignificante de hoje

Pode ser eatamente aquilo

Que todos - um dia - vão lamentar não ter vivido

De não ter tocado com as suas próprias mãos

Como escolher o que deve ser vivido?

Quantas vezes recusamos

Exatamente aquilo que um dia

Todos gostariam de ter sido parte, mas já passou

Não poderá ser visto, não poderá ser tocado

Como provar que vivemos

Exatamente aquele momento - que lá estivemos

Se não temos uma fotografia

Uma anotação no caderno

Um desenho original

Quando duvidamos nos mesmos

Se vivemos, se sonhamos, se inventamos

 

Cais do Valongo

Eram três atabaques na casa-corpo Zaíra. O mais antigo, contava a lenda, tinha vindo da África, num negreiro. Ainda guardava os sons de sua tribo e da última volta no entrono do baobá sagrado da despedida. Esse atabaque os senhores não conseguiram tomar das mãos dos escravizados. Nem durante a captura na África; nem durante o embarque para o Brasil; nem na hora da venda no mercado da rua Direita. Esse atabaque emitia a vibração das correntes dos pés, dos anjinhos nos dedos, das mascaras faciais e dos troncos. O segundo atabaque tinha a voz feminina do ventre livre e da abolição. Cantava a gratidão. Quando guardado ele, normalmente, era coberto por umas das toalhas bordadas de rechilieu. O terceiro atabaque tinha a voz da bravura de Zumbi dos Palmares. Seu som nunca pedia nada e nem agradecia nada. Chamava para a luta! A luta que trouxe para os escravizados a liberdade e a igualdade. Foi esse último atabaque que certa vez trouxe para Zaíra a afinação de sua voz. Dialogavam com esses atabaques com os cinco berimbaus que através de suas cabaças se voltavam para a luta diária das ruas. A presença dos berimbaus trazia a beleza das rodas de capoeira da Pequena África como um todo. Lembrava o sangue do Cais do Valongo, o suor da Pedra do Sal, a alegria da Praça Onze e a sabedoria da Ladeira do Livramento. Nos atabaques Zaíra ouvia as falas sonoras dos seus ancestrais. Quando entendia seus significados ela traduzia. Muitas vezes explicava, muitas outras guardava os ensinamentos para o futuro. Todos atabaques e berimbaus foram tocados por Donga, Pixinguinha, Sinhô e Ismael Silva.

Carmem Miranda

(Ouvimos na voz de Zaíra de Oliveira cantando com Carmem Miranda “Sonhei que era Feliz”)

SABORES SAGRADOS

(canto sem acompanhamento)

 

Do fogão de lenha bombocado

Coquinho, bolo de milho, paçoca 

Bolinho de inhame, cocada, ebô

Cada doce seu sabor

 

No orobô muitos segredos guardados

Os mistérios da vida que devemos provar

Para no silêncio

Todas contendas evitar

 

Do fogão de lenha quindim

Leite de côco, camarão

Milho de manjericão e monguzá

Cada prato seu paladar

 

No obi nossos antepassados

O anjo que podemos chamar

Para frente ao sofrimento

Todo e qualquer ser confortar

Bidú Sayão

O fogão era de lenha e não podia ser diferente. Nele a chama de vida de sua casa-corpo. Tanto para acender as velas, os incensos e os fumos, como para o preparo dos alimentos. Nas suas festas Zaíra oferecia bolo de milho, cocada, bombocado, coquinho, paçoca, bolinhos de inhame e ebô. Em cada doce ela injetava os elementos da bondade, da sorte, da prosperidade e da ascensão para aqueles que na festa brindavam a mãe natureza. Em especial, o infinito do céu e de seus corações. Saborear um doce era como se aproximar do universo de Zaíra. Em cada doce ela abrigava o reflexo do céu e das estrelas que residiam na sua casa-corpo. Quem via o alguidar com as moedas correntes não imaginava o sabor futuro dos alimentos. Mas sabiam que os alimentos oferecidos agregavam, uniam e abriam portas para a espiritualidade. O maestro Villa-Lobos, quem sabe, experimentou os quitutes de Zaíra de Oliveira, por isso convidou a cantora para trabalhar com ele, ao lado de Bidu Sayão, como coordenadora de orfeões escolares.

Canto Orfeônico - maestro Villa-Lobos

(Ouvimos corais de Villa-Lobos)

RAÍZES

(canto sem acompanhamento)

 

Nas minhas roupas, nas ervas sagradas

Nas danças, nos cantos, nas rezas

A força que me segura sobre a terra

 

Vem de tão profundo tudo que uso, que faço

Vem da raiz que sustenta

Todas as minhas promessas

 

Sou o que minha origem semeou

Sou fruto dos ancestrais

Da minha África inquieta

 

Que ainda hoje encanta com a receita perfeita

Dos doces, das danças, das roupas

Das ervas, dos cantos, das rezas

A SOLIDÃO DE ZAÍRA

(canto e orquestra)

A solidão quando chega, resiste, não vai embora

Você pode estar cercado de gente

Pode estar abraçado

No seu peito ela vai desenhar

Uma cicatriz invisível

Que só você para identificar

A exptensão do sentimento

Que atrofiou, que não vai voltar

E todas as noites serão longas

E todos sorrisos vazios

A solidão quando chega vai avisando

Sou correnteza forte de um rio

Dona Ivone Lara viveu os ancentrais

Zaíra nunca impôs nada a ninguém. Nem ideias e nem verdades. Nem seu talento. Ao seu ver isso seria como exigir subordinação. Para ela os seres nasceram para a liberdade. Cada pessoa deve aprender ler na constelação do céu de sua vida o rumo a seguir. Deve saber caminhar pelas estradas e ruas externas e internas. Cada um deve descobrir o que pode e o que não pode. Desta maneira, entrar em sua casa-corpo era como adentrar no cosmos da sua vida. Iluminada pela centelha da divindade ancestral. Para ela a alimentação, as roupas, os banhos de ervas sagrados, as danças, os cantos e as rezas faziam parte do viver. Na sua casa a reunião do presente, do passado e do futuro num só tempo, num só espaço, num só corpo. Mas para atravessar a vida buscou a formação na Escola Nacional de Música e terminou a mesma com Medalha de Ouro em 1920. Depois, foi docente na mesma escola. Atou com destaque em Óperas clássicas... sempre enfrentando o racismo. Trabalhou junto com Lucília Villa-Lobos e foi a principal incentivadora da baluarte do samba do Brasil, Dona Yvone Lara. Enfrentando as madames, as mademoiselles e melindrosas de seu tempo. Na música ela foi uma Anita Malfatti, uma Patrícia Galvão e uma Tarsila do Amaral.

(Ouvimos a voz de Dona Yvone Lara cantando “Alguém me avisou”)

Zaíra de Oliveira, Rio de Janeiro, 1925.

A ZAÍRA VOLTOU

(canto sem acompanhamento)

 

Zaíra voltou - tenaz

Copiar sua voz ninguém hoje é capaz

O que ela viveu não se desfaz

A semente brotou – a Zaíra chegou em paz

 

É negra a sua face, vem de longe

É uma corrente que nunca se desfez - não se desfaz

É soprano, é samba - tem missangas nos pés

A Zaíra voltou - tenaz

A VOZ DE ZAÍRA

(canto e orquestra)

 

Essa voz nunca mais vai voltar

Escute agora, não deixe escapar

É o leve vento da mata

É o sussurro da água

Que brota da terra

Zaíra encanta, efêmera, pura e bela

Silêncio!

Tente ouvir o farfalhar de suas flores

O escorrer do leite pelos seus galhos

Sua voz não voltará nunca mais

Zaíra é somente o agora

 

Autores:

Luiz Carlos Prestes Filho é diretor e roteirista de filmes documentários para televisão e cinema, escritor e poeta.

Júlia Félix é soprano, atua como professora de canto e monitora de corais

Introdução:

Marcelo Bonavides de Castro é cearense, nascido em Fortaleza, 47 anos. Possui graduação em Jornalismo pela Faculdade Integrada do Ceará (2009), registro 0003092/CE. Também graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) em 2018, registro 0000052/CE. Com Especialização em História do Brasil pelo Instituto Dom José (IDJ) (2021). Mantém o blog: https://www.marcelobonavides.com/. Desde 1988 pesquisa a Música Popular Brasileira e a vida das atrizes-cantoras do teatro musical no período de 1859 a 1940, colecionando gravações fonográficas originais feitas no Brasil desde 1902. Ator desde 1996, DRT 270-CE, tendo concluído curso na Escola de Teatro Ewerton de Castro, em São Paulo.