Violão como uma Corruptela de Coreiro

Violão como uma Corruptela de Coreiro

foto Mari Rocha

Violão como uma Corruptela de Coreiro

 

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Em entrevista exclusiva para Luiz Carlos Prestes Filho, o compositor César Nascimento fala do seu DVD "Violão de Coreiro" e de sua terra natal, o Maranhão. Há 18 anos morador de Petrópopolis, no Rio de Janeiro, César afirma que está integrado à cidade: "Voto em Petrópolis, tenho dois netos nascidos na Cidade Imperial e várias músicas compostas aqui. Algumas inspiradas em coisas desta terra, como 'A Casa', inspirada na Casa da Ipiranga. Contudo, sou um apaixonado por São Luís e me sinto morando nas duas cidades simultaneamente."

 

Link DVD "Violão de Coreiro":

https://vimeo.com/260866587

César Nascimento - Foto: Mari Rocha

Luiz Carlos Prestes Filho: "Violão de Coreiro"? Apresente a palavra "coreiro". Qual significado ela tem para o povo de sua terra e para você pessoalmente

César Nascimento: Coreiro é uma corruptela de coureiro, como é conhecido o brincante de tambor de crioula, manifestação de dança e música, patrimônio cultural do Brasil, com origem no Maranhão. Eu fui aluno de tambor de crioula do Mestre Felipe de Sibá, e também sou brincante de tambor de crioula. Portanto, a palavra "Coreiro", pra mim, tem um significado mais que especial, devido à ligação emocional que tenho com o tambor de crioula.

Tambor de Crioula de São Luís - Foto: Divulgação

Prestes Filho: Existiria a rabeca de coreiro, a zabumba de coreiro?

César Nascimento: No tambor de crioula tem os coreiros, homens que cantam e geralmente tocam os três tambores: meião, crivador e tambor grande. E tem as coreiras que geralmente dançam e cantam na roda. No tambor de crioula, além dos tambores, alguns utilizam as matracas, que são pedaços de madeira tocados na rabeta do tambor grande, também de madeira.

Prestes Filho: O violonista Nelson Faria diz que o seu violão é percussivo. Quais instrumentos de percussão você considera que seu violão expressa?

"O violão de César Nascimento é percussivo", Nelson Faria - Foto: Juliana Faria

César Nascimento: Creio que o Nelson, quando citou violão percussivo, ele quis dizer que meu violão traz junto com a harmonia, a intenção rítmica da música. Sendo assim, tento trazer no violão, uma síntese rítmica do gênero tocado junto aos instrumentos que o compõem.

Prestes Filho: A técnica do violão expandido atrai sua atenção? Essa técnica está na sua obra?

César Nascimento: Não conheço essa técnica de violão. Se tem, não sei dizer.  Meu violão nasceu de forma natural, em meio à efervescência musical do Maranhão, principalmente.

Prestes Filho: Quais movimentos culturais do Maranhão hoje você abraça com a sua música?

César Nascimento: Eu tenho uma ligação muito forte com a cultura do Maranhão. Minhas composições, distribuídas em 14 álbuns durante a carreira, em sua maioria foram inspiradas nas coisas do Maranhão e tem uma ligação musical muito forte, principalmente, com o folclore da região. Embora tenha forte influência também do reggae (São Luís, capital do Maranhão, é também conhecida como a Jamaica Brasileira).

Prestes Filho: Qual é o seu instrumento no DVD "Violao de Coreiro"? Onde adquiriu? Porque este violão está nas suas mãos?

César Nascimento: É um dos primeiros violões nylon produzidos pela Takamine, no Japão. Meu sogro trouxe de presente pra mim, dos EUA, em 1988. Acho incrível o som dele. Eu o utilizo em todas as minhas gravações acústicas. Tenho um outro violão de luthier, elétrico, que utilizo em shows.

"Gravei duas toadas que compus em dois sotaques de bumba-meu-boi" - Foto: Divulgação

Prestes Filho: Você diz que seu principal instrumento hoje é o estúdio de gravação musical. Timbres, tratamento de sons gravados com novíssimas tecnologias não estariam afastando você da música acústica. Afastando rodas do chão da cultura do Maranhão.

Cesar Nascimento: Sim.  Meu principal instrumento hoje é o estúdio, porque gosto de fazer o arranjo das minhas músicas. Contudo, gosto de gravar quase tudo de forma acústica, a não ser que o arranjo peça uma sonoridade com sons sintetizados. E, não, o estúdio não me distanciou das minhas origens rítmicas do Maranhão. Tenho vários instrumentos da percussão do Maranhão no meu estúdio. Há pouco tempo, por exemplo, gravei duas toadas que compus em dois sotaques de bumba-meu-boi, pindaré e sotaque da ilha, onde toquei os pandeirões, tambor-onça, matracas, maracás, badalos, etc. Tudo acústico.

*Luiz Carlos Prestes Filho, diretor e roteirista de filmes documentários, é jornalista, compositor,  escritor e membro do Conselho Curador do PEN Clube do Brasil.