VELHA LATA DE LIXO... para o amigo Hélio Sena

VELHA LATA DE LIXO... para o amigo Hélio Sena

VELHA LATA DE LIXO
para o amigo Hélio Sena

A lata de lixo envelheceu, descascou sua tinta
Enferrujou nos cantos, perdeu o viço
Não diz mais: "Tudo aguento"
Cansou de ser depósito de restos de alimentos
De fio de cabelo, de papel rasgado
Solta chorume por um dos seus lados
Agora ela foi colocada no canto menos visto da casa
Quem precisa vai lá, abre sua tampa com desprezo
Se livra do que não dá mais para guardar
Já tentaram substitui-la
Botaram ela de cabeça para baixo para secar 
Não deu certo, a nova não aguentou
As porcarias que nela depositaram
Resolveram: "Vamos ficar com a velha mesmo"
Ela vem dos tempos de antigamente
Quando se aguentava tudo que era tranco
Quando o pão e a manteiga tinham gosto
Quando a sardinha era vicerada
Em uma semana o cheiro não passava
Cascas de chuchu, de tomate, de cebola
Pedacinhos invisíveis de alho grudavam
Aos poucos criavam espinhos verdes
Impossíveis de serem raspados 
Tem tanta jóia que ninguém lembra onde colocou
Afetos escondidos, momentos esquecidos
Abandonadas juras de amor
Mas o caminho até a velha lata de lixo
Todos, todos os dias pisam nele
É o que mais fazem, o chão está marcado
Me parece que não é o nojo da sujeira que afasta
São as lembranças de tudo que poderia não ter sido descartado
Cada novo abrir e fechar da tampa faz mundos destruídos serem revelados

Luiz Carlos Prestes Filho