O Brasil Machão e o Brasil Libertário

O Brasil Machão e o Brasil Libertário
Fotos: Reprodução Internet
 
O BRASIL MACHÃO E O BRASIL LIBERTÁRIO
 
Por Luiz Carlos Prestes Filho
 
Para um país que no ano passado despediu-se de um governo comandado por um militar anticomunista, evangélico e homofóbico, o espetáculo de Emílio Boechat e Marília Toledo, em cartaz no Teatro Procopio Ferreira, em São Paulo, sobre Ney Matogrosso, é um indicativo de que o Brasil continua: autoritário e democrático, conservador e progressista, preconceituoso e libertário.
  

Desde o início da peça "Homem com H" os autores expõem os conflitos da personagem central com seu pai. Destaque para as  preferências: bissexualismo, relações abertas e homossexualismo. A situação termina levando à uma ruptura das relações. Desta vem a decisão do jovem Ney partir para o Rio de Janeiro, para servir na Aeronáutica. O pai, militar de carreira, é contra a saída do filho do Mato Grosso, tenta impedir. Não consegue.

As cenas que seguem, trazem soldados musculosos, vestidos de shorts e camisetas brancas, marchando com muita sensualidade. Todos envolventes e elouquentes. Representam o mundo homoafetivo existente dentro das forças armadas do Brasil. Onde não existe "machões" anticomunistas evangélicos. Todos cantam sobre o que acontece "por debaixo dos panos". Desta maneira, os autores trazem a trajetória de um grande artista para os dias de hoje. Quando a pauta de costumes é colocada por grupos sociais no mesmo nivel que: fome, desemprego, educação e saúde. Não ficam reféns somente dos grandes momentos do artista com Rita Lee, Cazuza, Piazzolla e tantos outros.

A plateia, visivelmente composta por representantes da elite paulista, aplaude com entusiasmo o conteúdo dramático, que expõe detalhes de um consumidor de maconha, ácido e outros conteúdos ilícitos. Nas entrelinhas o recado: "O Brasil precisa mudar! Precisa aceitar seu lado libertário". Quem sabe, na próxima eleição presidencial trazer um presidente com o perfil do Ney Matogrosso? Interessante que 0,1% da plateia que aplaude é negra ou indígena. 99,9% é branca.

*Luiz Carlos Prestes Filho, diretor de filmes documentários, formado no Intituto Estatal de Cinema da União Soviética; é especialista em Economia da Cultura, jornalista, compositor e escritor.