Tuninho Villas e a "Casa Com a Música”
Tuninho Villas da "Casa Com a Música”
Em entrevista exclusiva a Luiz Carlos Prestes Filho o compositor, diretor musical e produtor fonográfico, Tuninho Villas, conta sobre sua trajetória, preocupações com a situação social do Brasil e projetos do Sindicato Nacional dos Compositores do qual é o presidente: "Participo da obra social FILHOS da RAZÃO e JUSTIÇA, que acontece em uma comunidade da zona oeste, bairro de Santa Cruz, chamada de MINEIRO PAU. Sempre atento a somar com quem me procura, como diz o dito popular relógio que adianta não atrasa e eu nunca fui de atrasar. O que me impulsionou a fazer música foi a possibilidade de relatar as injustiças sociais que presenciei sendo uma criança criada na Baixada Fluminense".
Luiz Carlos Prestes Filho: Você tem uma longa trajetória na música brasileira. Quais foram os momentos que ficaram na memória?
Tuninho Villas: São muitos, mas poderia destacar a minha estreia nos palcos, aos 18 anos, que tive como padrinho nada menos que “João do Vale”. Momento que acabou se tornando uma referência de vida. Foi a primeira vez que ouvi uma composição minha tocando em uma radio popular
Show "Tuninho Villas e Marco Aurélio convidam João do Vale" - Teatro "Procópio Ferreira", Nova Iguaçu, Rio de Janeiro
Prestes Filho: Você durante muitos anos transcreveu partituras de grandes mestres da música brasileira. Esta atividade influenciou a sua linguagem?
Tuninho: Absolutamente... essa fase acontece após as minhas experiências artísticas, quando me dedicava à carreira artística, eu não tinha se quer conhecimento técnico. Tanto que sou um autodidata.
Prestes Filho: Você trabalhou anos com música ao vivo. Como foi a migração para o estúdio? Você hoje trabalha mais como produtor musical e arranjador do que como cantor, músico e compositor. Porque?
Tuninho: Sim trabalhei... foram aproximadamente 20 anos dedicados a atividades artísticas, principalmente compor. Comecei minha trajetória fazendo shows em teatros de Nova Iguaçu, cidade onde nasci e me criei. Mas na verdade nasci em Queimados que na época era distrito de Nova Iguaçu. Compor era o que mais me atraia.
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Como não tinha quem cantasse minhas músicas acabei arriscando interpreta-las, dali foi um pulo migrar para casas noturnas que absorvia muito bem o trabalho que eu propunha. Depois de 20 anos de investimento e retorno incompatível, acabei aprendendo a passar para o papel melodias. Inicialmente pensando nas minhas composições, mas logo estaria fazendo para terceiros e dali foi um salto para começar a gravar. Sempre de forma empírica e sem pretensões. Na verdade, há quase 20 anos não atuo profissionalmente nos palcos, mas sem frustrações. |
Alexandre Ito, Milton Nascimento, Tuninho Villas e Robertinha Villas
Prestes Filho: Você já desenvolveu projetos com grandes nomes como Wagner Tiso, Carlos Malta, Robertinho Silva e muitos outros. Destaque o que aprendeu com cada um deles.
Tuninho: Entre os nomes citados destacaria Milton Nascimento, Raimundo Fagner, Renato Piau, Dom Chacal, Reppolho, Arismar do Espirito Santo, Carlos Dafé, Carlos Malta, Robertinho Silva, Kiko Continentino, Nivaldo Ornelas, Luis Guima, Cris Bullock (Snarky Puppy), Dorina, Dominguinhos do Estácio, João Fera, Bidu, BI Ribeiro (Paralamas do Sucesso), Gerson King Combo, Chiclete com Banana, Forró Arriba Saia (esses dois últimos como compositor). Outros também da nova geração como o Haper BK, Doralyce, Anna Moura, Alexandre Ito, Renato Biguli (Monobloco-Cabeça de Nêgo), Helio Bentes (Ponto de Equilibrio),. Todas essas experiências deixam um legado de aprendizado, trocas e surpresas, principalmente com os veteranos de quem sou fã desde criança e não imaginava ter a experiência de trabalhar com eles.
Carlos Malta, Arismar, Robertinho Silva e Tuninho Villas
Prestes Filho: Você é hoje presidente do Sindicato Nacional dos Compositores - SINDCOM. Também, dirige a "Casa Com Musica".
Tuninho: Todo esse processo é muito natural mas penoso. Passei metade da vida adulta correndo da burocracia, agora me encontro mergulhado nela, “Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração, toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”. Cito essa frase porque entendo que é preciso alguém partir para esse sacrifício institucional e porque não eu?
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Para você ter ideia, embora o Sindicato Nacional dos Compositores Musicais (SINDCOM) exista desde 1952 como entidade estadual, a partir de 1981 no âmbito nacional, a nossa atividade só foi reconhecida como profissão em 2023. Entendemos que muita coisa ainda tem de ser feita. Destaco que o que fazemos, realizamos com a pouca estrutura. Estamos agora estabelecendo parceria com o economista Paulo Bruck para desenvolver o nosso PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. Este projeto técnico foi idealizado para fortalecer a entidade e a profissão. Visualizar o que poderemos realizar nos próximos quatro anos. Quanto ao coletivo "Casa Com a Música", construímos uma história de vitórias. No ano passado fomos reconhecidos pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura! |
Oyama Sans, Toninho Gerais, Alexandre Ito e Tuninho Villas
Prestes Filho: De quais projetos sociais você participa? Sua visão política está presente na sua obra?
Tuninho: Participo da “Obra Social Filhos da Razão e Justiça” que acontece em uma comunidade da zona oeste, bairro de Santa Cruz chamado “Mineiro Pau”. Sempre estou atento para somar com quem me procura, como diz o dito popular: “Relógio que adianta não atrasa” e eu nunca fui de atrasar.
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O que me impulsionou a fazer música foi a possibilidade de relatar as injustiças sociais que presenciei, sendo uma criança criada na Baixada Fluminense. Quem tiver curiosidade, no you tube tem um video-clip da musica “Pressa”, composta por mim nos anos 80, gravada e lançada na mesma década, interpretada por mim. Nela o refrão diz: “Quem tem fome tem pressa”. Posteriormente, essa frase veio a ser usada na campanha “Ação e Cidadania”, mas nunca deram o créditos ao autor. Infelizmente, essa não foi a única vez que não tive o devido crédito, o reconhecimento. Mas isso é uma outra história. Apoio a causa palestina e o MST por questão de bom senso. |
Tuninho Villas e Toninho Horta
Prestes Filho: Conte sobre a sua origem. Como anda o contato a sua raiz? Mantém contato com representantes da sua terra?
Tuninho: Vivi até os 20 anos na baixada fluminense, especificamente, em Nova Iguaçu. Depois senti a necessidade de procurar outros ares e hoje o contato que tenho é pouquíssimo com aquela cidade. Pegando mais uma frase de musica popular: “Miséria é miséria em qualquer canto, riqueza é tão diferente”. Encontro a realidade que vivi na Baixada em quase todas as cidades periféricas que conheci. Gosto muito de rodar por ai. Quanto a parentes, costumo dizer que família é algo pessoal e intransferível, cada um tem a sua, hoje só me restam dois irmãos, que residem na baixada, e alguns sobrinhos com quem tenho pouco contato.
Alexandre Ito, Kiko Continentino, Tuninho Villas e Robertinho Silva
Prestes Filho: Você gostaria de expandir o campo de sua atuação para a área de educação e formação profissional?
Tuninho: Positivo. No SINCOM estamos sempre buscando essa possibilidade
Prestes Filho: Como compositor, em quais gêneros você gosta de atuar?
Tuninho: Gosto muito da música popular e temas que me atraem são denuncias sociais
Prestes Filho: Na sua opinião a música brasileira merece ter mais reconhecimento? A herança dos nossos povos originários, dos afrodescendentes e dos europeus que aqui trouxeram suas tradições tem que ter mais espaço na mídia?
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Tuninho: Acho que a música brasileira merece mais espaço e respeito, quando você pega um Estado, por exemplo o Maranhão, verificamos que não temos referência do que acontece lá. Mas é um Estado que tem mais de 40 ritmos regionais catalogados, segundo informações que tenho. O que você acha disso? Nossa música popular é uma das mais interessante do planeta. Destaca-se entre a de outros países. Mesmo sendo nosso idioma pouco falado há globalmente. |
Tuninho Villas, e os compositores Piau e Luiz Carlos Prestes Filho