UM PORVIR PREOCUPANTE
UM PORVIR PREOCUPANTE
Por Luiz Rodrigues Corvo
PREVISÃO DE STEFAN ZWEIG NÃO SE CONCRETIZA
Há 40 anos, em 1980, o PIB* do Brasil, em moeda dos Estados Unidos, era de US$ 235 bilhões. Já o PIB da China naquele ano somava US$ 191 bilhões. Em outras palavras: o PIB brasileiro em 1980 era 28% maior que o chinês. No ano de 2019 o nosso PIB alcançava US$ 7,3 trilhões; o daquele país asiático, US$ 14,1 trilhões – praticamente o dobro do brasileiro. Em outras palavras: em cerca de apenas quatro décadas os chineses não só anularam a nossa vantagem de 28% existente em 1980 como produziram um PIB praticamente 100% maior que o nosso.
Poder-se-á argumentar que a China é um caso particular, visto que se beneficiou da globalização por dispor de uma enorme mão de obra de baixíssimo custo e ter estabilidade social imposta pela ditadura do Partido Comunista. Vejamos, então, os nossos índices de crescimento em relação aos de um conjunto de 155 países em desenvolvimento no mesmo período de quatro décadas, tomando-se o incremento econômico médio em cada década:
Década |
Brasil |
Conjunto de 155 países |
1980 |
3% |
3,2% |
1990 |
1,8% |
3,63% |
2000 |
3,4% |
6,1% |
2010 |
1,4% |
5,11% |
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Para o economista Roberto Macedo, "é de estagnação esse período de 1980 a 2010. Meu dicionário diz tratar-se de situação em que o produto nacional não cresce à altura do potencial econômico do país".
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De sorte que o anúncio apresentado em 2019, de retração de 1,5% do PIB brasileiro no primeiro trimestre, não apresentou qualquer novidade. Nem sequer se pode atribuir tal resultado à pandemia, visto que as primeiras medidas relativas a ela só foram adotadas nos últimos quinze dias desse trimestre. Esse índice desolador apenas indica que o Brasil continua trafegando em marcha à ré. |
Vários dados utilizados neste comentário foram extraídos de um artigo do citado Roberto Macedo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 18 de janeiro de 2020. Nesse trabalho ele analisa o nosso PIB médio de todas as décadas, desde 1901 até 2020. Mesmo sem ter os dados do último ano da década em curso (2011 a 2020), o professor de Harvard concluía em seu estudo que esta seria a pior de todas as doze décadas estudadas, em virtude da forte recessão de 2015 e 2016. E isto ele afirmou antes que a pandemia chegasse ao Brasil!
O desempenho do PIB emulou, em retrocesso, os de 2015-2016. O Brasil demorará muito mais tempo do que outros países para superar a crise decorrente da covid-19 e para retornar à normalidade, pela maneira ambígua e confusa com que os dirigentes do país enfrentam a pandemia. Uma retração anual entre 7% e 8% do PIB em 2020 foi cogitada por não poucos estudiosos do assunto. Ainda que se situe numa faixa mais benigna, entre 4% e 7%, o estrago foi brutal, haja vista a debilidade anterior do nosso desempenho econômico espelhada na retração daquele primeiro trimestre.
Continuaremos com a marcha à ré engatada, ficando cada vez mais para trás não apenas das nações desenvolvidas, mas igualmente das economias emergentes. Contrariando a previsão de Stephan Zweig que há quase 80 anos, em 1941, publicou um livro intitulado Brasil - País do Futuro.
O nosso futuro, no momento, é motivo de alarmante preocupação.
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*PIB: sigla de Produto Interno Bruto, que é a soma das riquezas produzidas por um país no período de um ano.
Luiz Rodrigues Coro é advogado e ex-vereador de Santos/SP
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