Antônio Jacinto Portela: "É isso patrão!"
Antônio Jacinto Portela
É isso patrão!
Por Luiz Carlos Prestes Filho
Faleceu um dos últimos passageiros da última viagem do navio Serpa Pinto ao Brasil, que saiu de Portugal em 1954. Esta histórica embarcação foi importantíssima durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Naqueles anos, salvou muitos refugiados através de suas travessias do Atlântico.
O navio Serpa Pinto atravessou o Atlântico pela última vez em 1954
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O nome deste passageiro: Antônio Jacinto Portela. Empresário de sucesso no ramo de tintas industriais, honrado pai de família e grande amigo. Ele chegou ao Brasil muito jovem e aos poucos construiu seu negócio, que prosperou na cidade e no Estado do Rio de Janeiro. Aqui encontrou acolhimento para desenvolver suas habilidades no comércio. Introduziu os conhecimentos adquiridos na Escola Técnica Profissional da cidade do Porto, onde estudou. |
Vir morar no Brasil permitiu ao Portela se livrar da obrigação de servir no exército português e, com isso, correr o risco de ser enviado como soldado para as frentes de batalhas da Guerra Colonial, em Angola ou Moçambique. Ele não era de guerra.
O amigo adorava Mesão Frio, distrito de Vila Real, sua terra natal. Por isso, sempre que podia voltava para lá, não somente para beber um bom vinho do Porto, produzido pela cooperativa do qual seu irmão, Quim, era sócio, mas para reviver a paisagem única do Rio Douro.
Vila de Mesão Frio, distrito de Vila Real
Apesar de saber distinguir a qualidade de um bom vinho, jamais iria reclamar de uma bebida servida. Até porque, o importante era a companhia, as brincadeiras e as piadas. Por falar nisso, quantas vezes ouvi dele piadas engraçadíssimas sobre seus patrícios! Mas, gostava de encaixar no final: "Você sabe né Luiz Carlos que a melhor piada de português é o Brasil!" Humilde, gostava de chamar todos amigos e colegas de trabalho de PATRÃO. Quem teve a sorte de conviver com ele sabe disso. Também, era sua característica, evitar de levantar a voz, buscar a conciliação de interesses. Sempre desejou evitar rupturas. Por esta razão, deixou muita gente desolada e órfã com sua partida.
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Seus parentes diretos são Selma, esposa, Thais e Flávia, filhas, Raissa e Samara, netas. |
Da esquerda para direita: Flávia, Samara, Raissa, Selma, Portela e Thais
Amigos sobre o Portela
Com a palavra Hélio Andrade Vergueiro que conheceu o Portela em 1994.
“Certa vez eu fui fazer um curso em Maricá. Eu estava atrasado, mas tinha que passar no escritório para pegar o material necessário. Quando entrei, lembrei que não tinha dinheiro trocado, o que seria necessário para pagar vários pedágios. Virei para um colega e pedi apoio. Nada aconteceu. No meio da correria, juntando as coisas, surge o Portela preocupado e me chama no canto e pergunta: ‘Ouvi que você está precisando de dinheiro, você estava pedindo para o Maurício?’ Quando expliquei que era dinheiro trocado... aí que ele se acalmou. Essa era uma das características do Portela, sempre se preocupava com todos. Era silencioso, mas tudo ouvia”
“Outra história que guardo na memória é sobre o Batista, revendedor de tintas com lojas em Saquarema e Araruama. Eu fui várias vezes nele logo que comecei na empresa. Naquela época a Wanda Tintas não tinha importância no mercado, era uma empresa fraca e as pessoas não conheciam direito. Eu realizava as visitas comerciais e o dono debochava de mim. Quantas viagens eu fiz! Ia e voltava e nada. Certo dia, apareceu um sujeito querendo comprar nosso produto, disse que não estava conseguindo porque o Batista impedia, estava fechado com outras marcas. O interessado não era do ramo de tintas, trabalhava com papelarias. A negociação foi um sucesso e começamos a vender nossa tinta na loja dele. O Batista quando soube que eu estava vendendo bem, começou a me procurar. O que eu fiz, ignorei. Até porque, o mercado da época em Saquarema não cabia duas revendas. E o Batista era mais forte do que o meu cliente. Depois, seria uma traição da minha parte. O Batista então foi direto na fabrica e fez uma reclamação. Passaram-se alguns dias, cheguei no escritório e o Portela me chamou na sala dele. Segurava um papel na mão com vários cálculos. Ele me perguntou: ‘Hélio, como está a situação em Saquarema?’ Contou que veio uma reclamação contra a minha pessoa. Contei em detalhes o que tinha acontecido. Inclusive, que fui sempre mal recebido pelo Batista e que via no nosso cliente um grande potencial. O Portela disse: ‘É isso que você pensa, então deixa como está’. Simplesmente rasgou o papel e nunca mais voltou para aquela história. Hoje o tal do Batista fechou suas lojas e aquele que era dono de uma papelaria é agora o segundo maior revendedor de Wanda no Estado do Rio de Janeiro.”
Saquarema, Rio de Janeiro
“Rodei muita estrada com o amigo. Certa vez, estávamos na cidade de São Gonçalo e o Portela disse que desejava conhecer o Levi, que tinha uma lojinha num buraco, num lugar horrível, chamado Curva do Vento. Ele era uma pessoa simples, semianalfabeto. Tanto que eu que preenchia os cheques para ele! Era nesse o nível. Mas comprava bem e fazia tudo corretamente. Quando chegamos na loja, que era um caos, o Levi nos convidou para sentar, ofereceu uma cadeira. O Portela sentou num galão de thinner de 18 litros. Eu chamei a atenção dele, fiquei apavorado. Ele respondeu: ‘Não se preocupe, estou bem aqui, estou bem aqui’. Ele puxou a etiqueta do galão e disse: ‘Veja, é produto da Wanda, eu confio’. Ele era assim. Visitava grandes revendedores, com a mesma humildade que foi no ‘Levi Tintas’, lojinha de beira de estrada. O Portela sempre foi assim, durante os nossos 21 anos de convivência.
Com a palavra Elias Barbosa Sampaio que conheceu o Portela em 1976:
“Minha convivência com o Portela vem desde 1976. Ele trabalhando como vendedor da Rio Wanda e eu trabalhando no setor de compras da Casa Polar Tintas. Naquela época ele tinha um sócio que se chamava Seu Mota. Lembro que todo final de expediente o Portela passava na minha loja. A gente se reunia na rua Barão de São Francisco e tomávamos aquela cervejinha à noite, para fazer a nossa resenha. Comentar sobre o dia-a-dia de trabalho. Era um bate papo fabuloso. O Portela era muito amigo do meu compadre, Antônio Maciel. Por isso, ele sempre esteve presente nas nossas festas familiares, acompanhado de sua esposa, Selma.”
Com a palavra Anderson Santana que conheceu o Portela em 2004:
Portela no centro da primeira fileira, de camisa azul, Santana é o terceiro da direita para a esquerda de camisa verde. Convenção de Vendas em São Paulo.