Percussionista e Baterista - Julio Diniz

Percussionista e Baterista - Julio Diniz

Percussionista e Baterista - Julio Diniz

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Em entrevista exclusiva para o Catetear Notícias, o percussionista e baterista, Julio Diniz, afirmou para Luiz Carlos Prestes Filho: "Sou nascido e criado no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, e esse é para mim, um vínculo indissociável. Estou sempre pela área, por lá ainda estão meus pais, meu irmão, sobrinho, amigos, alunos, enfim, minhas origens, de fato minhas raízes"Destacou que suas maiores influências são: João Donato, Wagner Tiso e Robertinho Silva.

 

Show "Robertinho Silva 65 Anos de Estrada"

(Belo Horizonte, Minas Gerais)

Luiz Carlos Prestes Filho: Você desenvolveu projetos com a música brasileira, latina, africana, jazz e rock. O que une todos estes gêneros para você como músico?

Julio Diniz: Executo vários gêneros musicais. Durante minha trajetória desenvolvi projetos ligados aos gêneros: latino, africano, regional brasileiro e jazz. Iniciei minha carreira no Rock, onde tudo começou, em meio aos amigos do bairro, quando tive meus primeiros contatos com a bateria. Mais tarde, a partir do contato com a música africana, em terreiros de candomblé, tive a oportunidade de desenvolver e aprimorar os toques do atabaque. Foi no Projeto "A Palavra dos Tambores", junto ao amigo Macedo de Morais - conhecido como Macedo Griot, foi que tive maior desenvolvimento percussivo, pois nesse trabalho havia ritmo sem harmonia. Trabalhávamos com melodia e ritmo.

A ênfase era a oralidade africana com a interpretação dos tambores de diversas regiões do Brasil. O que une todos os estilos é o pensamento jazzístico com a fusão dos ritmos e as linguagens musicais do mundo inteiro. O estilo musical fusion tem esse viés de agregar outras culturas, pois para os estadunidenses jazzistas "Tudo é Jazz" (Latimjazz, Sambajazz e outros). A internet rompeu muitas barreiras e permitiu a aproximação dos diversos gêneros musicais.

Show "A Palavra dos Tambores" com Macedo Griot

(Nilópolis, Rio de Janeiro)

Prestes Filho: Você imagina realizar um trabalho específico com música clássica? Desenvolvendo partituras para que mais de 40 instrumentos acompanhem a sua linguagem percussiva?

Julio Diniz: Realizar um trabalho com música clássica faz parte dos sonhos. No projeto "Império dos Metais", idealizado por Robertinho Silva, em que tive a honra de participar, a ideia é fazer arranjos para Orquestra utilizando instrumentos como: gongos, pratos, sinos, cicerros e muitos outros percussivos de metal. No que se refere ao desenvolvimento de partituras para mais de 40 instrumentos, em arranjos para a linguagem percussiva é de grandiosidade ímpar e bastante desafiadora.

Instrumentos prontos para realizar a trilha da novela "Império"

(Estúdio da gravadora Som Livre, Botafogo, Rio de Janeiro) 

Prestes Filho: Você se apresenta como Percussionista e Baterista com formação e bagagem afro-suburbana.

Julio Diniz: Tive meus primeiros contatos com a bateria na casa do saudoso amigo Alexandre Matos - "Manhanbusco" no bairro do Engenho Novo. Tocávamos Rock pesado e como todo garoto que começa a tocar, desejava o sucesso. Porém, as dificuldades da vida da maioria dos garotos suburbanos, bateu à minha porta, e tive me afastar da música para trabalhar, a fim de auxiliar meus pais com as despesas do lar. Algum tempo depois, fui tocar no terreiro de Candomblé da Baiana Nalva, na Av. Marechal Rondon, no bairro do Sampaio, Rio de Janeiro. Em 2002, participei do projeto Musikfabric, na UERJ, com o professor Antônio Espírito Santo. Momento em que tive contato com instrumentos africanos como: marimba, 'querar' (arpa africana). Foi na mesma oportunidade que aprendi a empachar o tambor (trocar o couro). Na UERJ que conheci o percussionista Marco Odara, que muito me ensinou sobre o candomblé. Após esse período, continuei minha jornada pelo ritmo. Indicado por Carina Neves, fui estudar música no projeto social do CIEP da Mangueira, com Ronaldo Silva, filho mais velho do baterista e percussionista Robertinho Silva, Mestre do ritmo.

Quando o projeto da Mangueira teve fim, foi então que Mestre Ronaldo Silva, me indicou outro projeto social: "Batucadas Brasileiras, Orquestra de Percussão Robertinho Silva". Foi aí que tive o privilégio de conhecer profundamente o Mestre Robertinho Silva e, por conseguinte, aprimorar e ampliar de maneira significativa o meu conhecimento rítmico, tanto na bateria, quanto na percussão. A partir deste encontro minha carreira foi seguindo um caminho sem volta. Em 2007, fui convidado a tocar bateria na Banda de Reggae "Ahuanda", o que foi ótimo, pois dei início aos trabalhos de gravação. Toda minha história me conduziu a uma diversidade musical, ou seja, à multi-instrumentalidade, o que me facilitou o domínio de um número indeterminado de instrumentos de percussão.

Julio Diniz ao centro com Rodrigo Escofield, João Donato,

Robertinho Silva e Carlos Malta

Prestes Filho: Você trabalhou com João Donato, Wagner Tiso, Carlos Malta, Ivan Lins, Jards Macalé, Nana Cosak, Juju Barreto, Ruda Brauns, Jeff Chagas, Herik Faustino, Luiz Melodia e Robertinho Silva. Quais são as influências que você reconhece como fundamentais?

Bateria Percussiva - Show "Nana Canta Nana" da cantora Nasa Kozac

(Centro Cultural Artur da Távola, Rio de Janeiro)

Julio Diniz: Um dos espetáculos do Projeto Social da Orquestra de Percussão Robertinho Silva foi apresentado na sala Cecília Meirelles, com nada mais nada menos que: Luís Melodia, Wagner Tiso, Carlos Malta e Jards Macalé, isso no ano de 2006. A verdade é que eu não tinha ideia de onde estava. Não imaginava a grandiosidade daqueles profissionais, tampouco, a seriedade do evento. Minha história com o João Donato, ocorreu de forma orgânica, no conviver e tocar percussão ao lado do, agora Mestre e amigo, Robertinho Silva. Desse convívio surgiu o convite para participar como baterista do bloco "Emoriô", no ano de 2019, antes da pandemia, com a participação do homenageado, João Donato. O contato com o músico Ivan Lins, também ocorreu nos shows da Orquestra de Percussão Robertinho Silva, este no teatro João Caetano, em 2009. Atualmente, venho dividindo e somando meu trabalho de baterista com a cantora Nana Kosak e a violonista Juju Barreto no "Nana in Rio", em um misto de sambas clássicos com muita personalidade e MPB.

Pós, pandemia fui convidado pelo músico Ruda Brauns para um rico trabalho, com músicas de complexa execução, que exige estudo e ensaios. De modo que, esses trabalhos, tem aumentado consideravelmente a minha experiência e bagagem musical, pois misturam música nordestina, colombiana, jazz e músicas do Oriente Médio como: músicas palestinas e turcas. Minhas maiores influências entre todos esses artistas são: João Donato, Wagner Tiso, Raul de Souza e, claro, Robertinho Silva.

Julio Diniz e João Donato

Prestes Filho: Você participou de OFICINAS CULTURAIS no DEGASE como instrutor de percussão. O objetivo era ensinar técnicas de percussão para os jovens detentos. Quais outros projetos sociais você tem realizado?

Julio Diniz: Em 2016, me mudei para Lapa, reduto da música carioca e da boêmia, época em que ainda participava do projeto social na quadra do antigo bloco "Embalo do Engenho Novo" que tentei sustentar com recursos próprios, mas que durou apenas seis meses. Primo por apoiar projetos sociais, no desiderato de retribuir às crianças e adolescentes carentes, o mesmo que recebi dos projetos que participei. Existem talentos incubados, aguardando por uma oportunidade.

Gravação do documentário sobre Robertinho Silva

Julio Diniz, Robertinho Silva, Raul de Souza e Carlinhos 7 cordas

("Casa Com a Música", Rio de Janeiro)

Prestes Filho: Suas participações em novelas são relevantes: Além do Império (2015) e Império (2014). Também, em seriados: A Teia (2013), Amor Eterno Amor (2012), Morde e Assopra (2011), Escrito nas Estrelas (2010), Cama de Gato (2009), Paraíso (2009). De quais novos projetos audiovisuais você planeja participar?

Julio Diniz: É bom estar inserido na máquina da industrial cultural, seja por questões financeiras ou midiáticas uma ótima forma de ampliar o network.

O mais novo projeto áudio visual que participarei, está agendado para o próximo dia 23/02/2024, trata-se da gravação do show "Baião em Transe" de autoria de Rudá Brauns, que ocorrerá no BNDES. Vale a pena conferir e acompanhar, pois trata-se de um belo e rico trabalho instrumental!

TYBA ONLINE :: Resultado :: Engenho Novo

Engenho Novo - subúrbio da cidade do Rio de Janeiro

Prestes Filho: Você nasceu no bairro do Engenho Novo, Zona Norte do Rio de Janeiro. Você mantém contato com a periferia?

Julio Diniz com os pais, Nilo Cesar e Ana Lucia

Julio Diniz: Sou nascido e criado no Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro, e esse é para mim, um vínculo indissociável. Estou sempre pela área, por lá ainda estão meus pais, meu irmão, sobrinho, amigos, alunos, enfim, minhas origens, de fato minhas raízes, de modo que, apesar de ter escolhido a Lapa, como domicílio, não me afasta de sempre estreitar contatos com a periferia, em trabalhos, visitas, diversão, encontros e afins.

Robertinho Silva e Julio Diniz

Prestes Filho: O professor de percussão Júlio Diniz é uma realidade? Você pretende expandir este campo de sua atuação?

Julio Diniz: Ministro aulas particulares de percussão e bateria para crianças e adultos. Recebi alguns convites para ministrar aulas de percussão em projetos que ainda estão para serem aprovados. Pretendo expandir esse campo de atuação na formação de jovens carentes, através de captações recursos em editais, ou outras formas...

Prestes Filho: Em quais gêneros você gostaria de atuar?

Julio Diniz: Faço arranjos para diferentes composições, mas nunca pensei em compor, mas - também - não descarto a possibilidade de ouvir meus instintos, quem sabe não sai algo dos estudos? Se eu for compor, vou sintetizar ritmos brasileiros como jongo, maracatu e samba voltados para a música do mundo e jazz.

Os temas que atraem minha atenção são Bluchanga de João Donato, Bicho Homem de Milton Nascimento, Academia de Dança de Egberto Gismonte, Lamento Astral de Moacir Santos, Falange dos Tambores de Robertinho Silva e Nelson Ângelo, A3 de Wagner Tiso e muitos outros. Mas, atualmente, estou curtindo ouvir as músicas do Oriente Médio como The Astoundang Eyes of Rita de Anouar Brahen, por influência do trabalho que estou fazendo com o Baião em Transe de Rudá Brauns.


Como o mestre, amigo e ídolo Toninho Horta

(Sala Baden Powel, Rio de Janeiro)

Prestes Filho: A percussão brasileira merece ser mais estudada? A herança dos nossos povos originários, dos afrodescendentes e dos europeus que aqui trouxeram suas tradições tem mistérios que ainda precisam ser desvendados?

Julio Diniz: A percussão brasileira ainda precisa ser estudada e explorada. Existem ritmos aqui no Brasil que ainda não temos conhecimento. Muitos outros que se perderam com a partida dos antigos, que só ensinavam para a família. Os filhos não se interessaram em aprender e o saber se perdeu. É um trabalho de pesquisa de gerações que vale a pena realizar, mas necessita investimentos.

*Show "Império dos Metais" (Niterói, Rio de Janeiro): Carlos Malta, Sandro Lustosa, Vanessa Rodrigues, Rodrigo Pacato Silva, Jefferson Lescowich, Robertinho Silva, Julio Diniz e Luiz Carlos Prestes Filho (autor da entrevista, que é diretor e roteirista de filmes documentários, jornalista, compositor, escritor e membro do Conselho Curador do PEN Clube do Brasil)