CURITIBA SEM CABEÇA

CURITIBA SEM CABEÇA

A Guerra do Pente foi uma revolta ocorrida em Curitiba no ano de 1959. Leva esse nome porque o acontecimento que serviu como estopim para o conflito envolvia a venda de um pente por parte de um comerciante libanês.

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CURITIBA SEM CABEÇA

Poema musical

 

Autor Luiz Carlos Prestes Filho


Dedico este poema ao comerciante libanês Ahmed Najar que com um pente fez Curitiba perder a cabeça
 

 

Contextualização histórica: da insatisfação popular à xenofobia 

Era 1959. O Brasil vivia uma grave crise inflacionária e econômica no mandato do Presidente da República Juscelino Kubitschek. A população estava insatisfeita com o desemprego, com o aumento do preço da cesta básica, com a estagnação dos salários e com as notícias de corrupção. No Paraná, os habitantes questionavam o governo de Moysés Lupion, que iniciou uma campanha para aumento da arrecadação tributária, chamada de "Seu Talão Vale um Milhão". A promoção consistia em juntar comprovantes fiscais de compra, no valor de três mil cruzeiros, e trocá-los por um cupom que daria o direito ao sorteio de um milhão de cruzeiros.

O conflito

No dia 8 de dezembro de 1959, o subtenente António Tavares, da Polícia Militar do Paraná, comprou um pente do comerciante libanês Ahmed Najar, no valor de quinze cruzeiros, do qual exigiu o comprovante. Por ser um baixo valor, a nota fiscal foi recusada. Houve uma discussão entre eles, com o comerciante agredindo o policial e lhe fraturando uma das pernas, dando início ao conflito, no qual cento e vinte lojas de árabes, judeus, italianos e brasileiros, mas todos conhecidos como "turcos", foram depredadas. Algumas delas totalmente destruídas.

(fonte: Gustavo Pitz e Gabriel Brum Perin - https://www.turistoria.com.br/a-guerra-do-pente-em-curitiba)

 

A CIDADE SEM CABEÇA

 

Sem cabeça ela caminhava
Por onde passava tudo destruía
Desgovernada - avançava
Sua fúria perseguia

Árabes e turcos, poloneses e judeus
Ucranianos, portugueses, italianos, japoneses
Sem cabeça - durante três dias
Pelo avesso Curitiba se fazia  

 
BOCA MALDITA
 
Nas ruas do seu corpo - quebradeira
Ninguém conseguia pentear uma saída
Prateleiras, balcões, vitrines - arrasadas
Sua Boca Maldita tudo engolia

Boca que tinha escapado da cabeça
Como a cabeça tinha escapado do corpo
Da cidade que agora não escondia
Sua essência verdadeira
 


DEUS SE ESCONDEU
 
O corpo que até um dia conseguia
Abraçar a Bíblia, o Torá e o Alcorão
Que seguia os preceitos de Buda
Dos Oxixas e de Tupã

Incendiado de ódio consumia
Planos de vidas inteiras
Sonhos que atravessaram oceanos
Mastigados por dentes - insanos

 

 
MARCAS DOS DENTES

Dentes de um pente que não cabia
Numa nota fiscal
Que sabia que a sorte que prometia
Impossível - irreal

Dentes que deixaram marcas
No corpo da cidade
Que teve a cabeça ao corpo recosturada
A boca reecaixada

Luiz Carlos Prestes Filho
Curitiba e Rio de Janeiro - 2022