POLÍTICA: AMOR E SONHO
POLÍTICA:
AMOR E SONHO
Por Luiz Rodrigues Corvo
NÃO É O QUE SOB ESSE NOME SE PRATICA NO BRASIL.
A política é seara de amor e de sonho.
Amor ao povo e ao território em que este vive e moureja. Amor que se chama patriotismo. E sonho do bem-estar desse povo, nesse território. Mediante gestão adequada dos recursos disponíveis. Sonho que se chama ideal. Sem o adubo do patriotismo e do idealismo, a política não viceja.
A política é inerente, ínsita, congênita a qualquer grupo social. E o homem é animal gregário. Por isso sentenciou o filósofo Aristóteles: "O homem é naturalmente um animal político".
Embora exista desde os primórdios da humanidade, a política só veio a ser estudada na Grécia antiga. Que também a batizou. Com o mesmo nome da obra de Aristóteles, Politiké (Política). Cuja origem está na palavra politeia. Ao tempo não havia nações, como hoje. A Grécia era constituída de diversas cidades-Estado, as polis. As de maior destaque eram Atenas e Esparta. Politeia significava o conjunto dos procedimentos relativos às polis, que correspondiam aos Estados modernos.
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Na essência do conceito atual de política está o exercício do poder de uma instituição impessoal sobre os homens, o Estado. No dizer de Hobbes, a política disciplina a renúncia de cada indivíduo ao exercício do direito da força mediante a sua delegação ao Estado. Que nada mais é do que a sociedade politicamente organizada. E que, como salienta Max Weber, detém o monopólio da legítima coerção física com vistas ao cumprimento das leis. Que são editadas pelos representantes do povo eleitos. Leis cujo objetivo maior é (ou deve ser) o bem comum. |
Com este pano de fundo, a política veio a ser conceituada por Bertrand Russell como "o conjunto de meios que permitem alcançar os objetivos desejados". Ou seja, é a arte e a ciência da organização, direção e administração do Estado. Com o emprego de meios destinados a alcançar o bem comum em determinada sociedade. Conforme o ideário dos que detêm o poder. Da perspectiva da consecução de um ideário sonhado para o bem da sociedade é que Maquiavel definiu a política como "a arte de conquistar, manter e exercer o governo".
Nenhuma atividade é mais nobre do que a política. Quem a exerce assume responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de competência. A ação do político só se justifica se for patriota e idealista. Se as suas ações, além de buscarem a conquista do poder, forem dirigidas para a realização do bem comum. A conceituação do bem comum poderá apresentar variantes. Conforme as ideias e os valores de cada político. Mas a busca do bem comum há que ser o seu desiderato único, o seu objetivo maior.
Nenhuma outra atividade é mais importante do que a política. Não só pelo que foi dito acima. Mas porque o político, muito mais do que qualquer outro cidadão, pode ter boa ou má influência sobre a vida das pessoas.
A ética da política não pode divergir da ética pessoal. Além de observar os princípios gerais da vida em sociedade, como não matar e não roubar, o político deve mostrar ao povo que o elegeu sua capacidade de promover o bem-estar de toda a sociedade, sem se preocupar apenas com o simples exercício do poder.
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A política entrou na minha vida com o suicídio de Getúlio Vargas. Em 24 de agosto de 1954. Tinha 13 anos. O impacto daquele acontecimento dantesco estremeceu a minha adolescência. Passei a interessar-me por política, a estudar tudo o quanto lhe dizia respeito. Três anos depois, com 16 anos, tornei-me político militante. Prenhe de patriotismo. E com o sonho de um Brasil pleno de justiça social e de igualdade de oportunidades para todos. |
Passaram-se desde então mais de 60 anos. Nunca vi, ao longo dessas seis décadas, situação similar à que hoje vivemos. Em que não mais há política no Brasil. Há, apenas, homens moralmente depravados que ocupam cargos públicos. De todas as tendências. De todos os partidos. Fascinados por enriquecimento fácil. Viciados em receber dinheiro ilícito. Roubado do povo pelos descaminhos da sonegação fiscal. Por empresários bandidos e corruptores.
O patriotismo e o idealismo foram substituídos pela imoralidade e, não raro, pela amoralidade.
Luiz Rodrigues Corvo é advogado
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