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O poeta e pensador do Azerbaijão - Nassimi

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" G a z e l i "

Autor: Seid Imadeddin Nassimi

(1370 – 1417)

Dentro de mim cabem dois mundos, mas eu não caibo neste mundo.

Eu – essência, eu que não tenho um lugar, não caibo na existência.

Tudo o que foi, o que existe e virá – está corporificado em mim.

Não pergunte! Siga meus passos. Eu não caibo dentro das explicações.

"O universo – é meu prenúncio, meu começo – sua vida, reconheça-me por estes sinais, mas eu não caibo nem mesmo dentro dos sinais.”

As suposições e as dúvidas são somente o caminho para o saber.

Quem descobriu a verdade, este sabe que eu não caibo dentro das suposições.

Olhe profundamente para minha imagem e faça esforço para entender o sentido dela.

Sendo corpo e alma, eu não caibo dentro nem do corpo, nem dentro da alma.

Eu – pérola escondida dentro da concha. Eu – ponte entre o inferno e o paraíso.

Saibam, com toda minha riqueza e meu poder eu não caibo nos empórios do mundo.

Eu – chave secreta de todos os tesouros, eu – a obviedade dos mundos,

Eu – fonte de gemas preciosas, - não caibo nos subterrâneos da Terra, nas profundezas dos mares.

Apesar de eu ser grande e impossível de ser abraçado, sou o Adão, eu – sou um ser humano.

Apesar eu ter sido criado pelo universo, dentro dele eu não caibo.

P a i s a g e m  d o  A r z e r b a i j ã o

Eu – simultaneamente sou o tempo e o espaço, o mundo por dentro e por fora, -

Será que ninguém estranha eu não caber em nada?

Eu – o firmamento, eu - todos os planetas, o Anjo da Anunciação sou eu;

Segure a sua língua atrás dos dentes, eu não caibo na sua língua.

Eu – o átomo de todas as coisas, eu – o Sol, eu - os seis horizontes da terra,

Observe rapidamente a minha face leve, eu não caibo dentro desta leveza.

Eu – sou simultaneamente a essência e o caráter, eu – o doce chá de rosa,

Eu – sou a decisão com justificativa, - eu não caibo dentro da boca que nada fala.

"Eu – uma árvore que arde, eu – uma pedra que escalou os céus. Aprecie o meu fogo, eu não caibo dentro desta chama".

Eu – um sonho encantador, a Lua e o Sol. Com a respiração, renovo a alma.

Mesmo assim eu não caibo inteiro dentro da alma e da respiração.

Estou velho – ao mesmo tempo sou jovem, eu – um arco com a corda retesada,

Eu – o poder, eu – a eterna nobreza, mas eu não caibo dentro dos séculos.

Eu – Nassimi[1] um simples mortal, eu hachemita[2] e quaraysh.[3]

Eu sou menor do que a minha glória, mas eu não caibo nem mesmo dentro da minha glória.

Tradução: Luiz Carlos Prestes Filho

Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2024.

[1] Nassimi: Seid Imadaddin Nassimi foi um poeta hurufi, considerado um dos maiores pensadores do Azerbaijão (1370 – 1417)

[2] Haxemita: descendente de árabes, diretos ou colaterais do profeta Maomé.

[3] Quraysh: integrantes da tribo árabe dominante na cidade de Meca quando o surgimento do islamismo.