LENDAS Coluna Prestes

LENDAS Coluna Prestes

logo

"Coluna Prestes" - arte de Vasco Prado

 

LENDAS - Coluna Prestes

p o e m a - p a r a - o r q u e s t r a

 

Luiz Carlos Prestes Filho

p o e m a s - m ú s i c a s - t e x t o s

 

“Era a lenda que nos acompanhava por toda parte. Muitas se formaram a nosso respeito”.

Lourenço Moreira Lima no livro “A Coluna Prestes, Marchas e Combates”

 Dedico esta obra ao fundador do Estado do Tocantins, Governador José Wilson Siqueira Campos, que teve a coragem de realizar a obra do Memorial Coluna Prestes Tocantins em Palmas, na Praça dos Girassóis, junto a sede do Governo do Estado, no Centro Geodésico da nação. Desta maneira, fixar a imagem do Cavaleiro da Esperança no coração do Brasil.

O autor de "LENDAS - Coluna Prestes", Luiz Carlos Prestes Filho, e o arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto de arquitetura do Memorial Coluna Prestes Tocantins

 

Prefácio

Luiz Carlos Prestes: a jornada épica do herói que emergiu do povo

 

Por Thomas Henrique de Toledo Stella, Historiador e doutorando em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP)

 

Desde a mais tenra idade, um jovem grego era introduzido por seus pais nas sagas de Héracles, também conhecido como Hércules pelos romanos. A jornada deste semideus edificava o arquétipo de um herói cujo exemplo servia para formar o caráter daqueles meninos. Héracles foi vitimado pelas circunstâncias do destino e como uma forma de redenção cumpriu 12 trabalhos que o colocaram ao lado dos grandes deuses olímpicos; como um mortal que conquistou por sua própria jornada, a imortalidade.

Como Héracles, os gregos tiveram outros heróis como Agamenon, Aquiles, Édipo, Perseu e muitos mais cujas aventuras foram brilhantemente imortalizadas nos poemas e nas canções épicas. A sociedade grega formou-se em torno de seus heróis. Fossem míticos ou históricos, pouco importava. O que de fato considerava-se relevante era o ensinamento que suas vidas traziam e o porquê elas faziam com que o povo compartilhasse valores éticos e morais através de princípios comuns.

Era no culto aos deuses, deusas, musas, heróis e atletas que os gregos viram sua identidade helênica e helenística desenvolver-se. Era na vida em torno da pólis, de seus sistemas políticos e de suas línguas que emergiu o que chamamos de cultura clássica.

Aí perguntamos: mas o que isto tem a ver com o Brasil de hoje?

O ano de 2022 traz importantes efemérides. Há 200 anos, o Brasil se tornava um país independente, com grandes desafios para superar o atraso de séculos de colonialismo, escravismo e dependência econômica externa. Passados 100 anos, em 1922, o Brasil já era uma República que havia abolido a escravidão, mas ainda não conquistara sua democracia, o povo não participava das decisões políticas do país, a pobreza na cidade e no campo eram a marca de um regime decaído que precisa urgentemente ser colocado à prova e renovado.

1922 foi, portanto, um ano de rebeldia. Naquele ano, o Partido Comunista do Brasil, que passaria a usar naquele momento a sigla PCB, foi fundado como a primeira organização político-partidária genuinamente proletária. A Revolta do Forte de Copacabana inaugurava um ciclo do chamado movimento tenentista, que trazia à tona as reivindicações políticas do baixo escalão das forças armadas que desejavam trazer sua contribuição para o país. Naquele mesmo ano teve ainda a Semana de Arte Moderna em que a ideia era parar de copiar a cultura europeia importada e criar no Brasil algo novo, que refletisse o seu espírito de época de um povo que emergia com grandes aspirações para um futuro promissor.

Nesse caldeirão, eclodiu no Rio Grande do Sul e em São Paulo duas insurgências. No ano de 1924, a Coluna paulista, liderada por Miguel Costa, e a Coluna, gaúcha liderada por Luiz Carlos Prestes, unificou-se em Foz do Iguaçu e começou sua jornada épica. Como relata Fernando Morais, em seu livro Olga, esta coluna foi em todo mundo conhecida como “a coluna invicta”. Afinal, foram 24 mil quilômetros acumulando vitórias e percorrendo os sertões do Brasil, desconhecidos pelos que viviam nas cidades, mas revelados por Euclides da Cunha poucos anos antes.

Neste contexto que destaco a importância da obra dramático-musical “Lendas - Coluna Prestes” de autoria de Luiz Carlos Prestes Filho. Através da poesia e da música mergulhamos no imaginário da marcha que espalhou lendas de norte a sul, de leste a oeste pelo Brasil. Traz a figura do pai como se este fosse Héracles, Agamenon, Aquiles, Édipo ou Perseu. Mas faz como faziam os poetas modernistas: de um jeito brasileiro, que se inspira nos antigos mas que cria algo novo enraizado em nossa tradição, em nossa brasilidade. Como líder da coluna, a liderança de Prestes projetou-se em todo o país. Logo, ele passaria a ser chamado por Jorge Amado de “O Cavaleiro da Esperança”. Para os movimentos revolucionários internacionais, a Coluna Prestes era uma lenda. Ela viria a inspirar ninguém menos do que Mao Tse-Tung na Longa Marcha que se concretizou na Revolução Chinesa de 1949.

Luiz Carlos Prestes e Mao Tsé-Tung, Pequim, China, 1959

Mas o que de fato queria a Coluna? O Brasil era um país de iletrados e uma de suas reivindicações centrais era a educação pública básica. Seus quase 1,5 mil combatentes desejam enfrentar as fraudes eleitorais que eram a marca da República Velha, em que as oligarquias agrárias tradicionais mantinham-se indefinidamente no poder enquanto o povo vivia na miséria. Havia, assim, uma agenda democrática, popular e também nacional, visto que os tenentes eram acima de tudo grandes patriotas com um amor incondicional pelo Brasil e pelo povo sofrido do país.

No primeiro plano Luiz Carlos Prestes e Cortdeiro de Farias, 1925, durante a marcha da Coluna Prestes

A Coluna Prestes seguiu até onde foi possível e quando viu que não tinha mais condições de avançar, com baixas por combates e moléstias, moveu-se para a Bolívia em 1927. Uma foto histórica de Prestes inspirou ninguém menos que Cândido Portinari a pintar um mural no qual o líder da coluna foi retratado representando Tiradentes, o mártir da Independência sob o lema da liberdade, ainda que tardia. Este mural hoje orna o salão principal do majestoso Memorial da América Latina, projetado por Oscar Niemeyer, o gigante da arquitetura brasileira que também nutria imensa admiração por Prestes e por seu legado. 

A fotografia de Prestes, 1927, serviu de modelo para Cândido Portinari retratar Tiradentes

Ainda na Bolívia, Prestes foi visitado por Astrogildo Pereira, que lhe presenteou com obras de Marx, Engels e Lênin. Era o que faltava para a vida Prestes, para que ele tivesse uma causa principal que aglutinasse todas aquelas pelas quais já lutava. Prestes foi então para a União Soviética onde filiou-se ao PCB, iniciando uma longa amizade com os soviéticos, onde planejaria a estratégia e as táticas para uma revolução socialista no Brasil.

Prestes conheceu sua então companheira Olga Benário com quem retornou ao Brasil para preparar a insurgência revolucionária. O movimento de 1935 tem sido muito maltratado pela historiografia, que o chama de “intentona” e destaca apenas o fracasso. Entretanto, há que se ressaltar que por mais que a decisão de Prestes de antecipar o movimento possa ter sido um equívoco, ele a fez em solidariedade aos rebeldes de Natal e Recife. Afinal, a Coluna havia deixado uma marca de sempre permanecer ao lado dos companheiros de jornada. Não podemos esquecer que o movimento revolucionário de 1935 foi o primeiro levante armado contra o fascismo no mundo, que começava a chocar o ovo da serpente por onde se espalhava.

Prestes e Olga foram presos. Viveram junto de outros comunistas presos em terríveis condições. Naqueles anos, no presídio de Ilha Grande, Graciliano Ramos escreveu suas “Memórias do Cárcere”. Como Olga era de nacionalidade alemã, judia e comunista, o governo nazista pediu sua extradição. O STF acatou. Na mesma Espanha em que voluntários internacionalistas se alistavam para combater o fascismo, uma campanha de solidariedade, da qual participaram Federico Garcia Lorca e Pablo Neruda, foi lançada para pedir a libertação de Olga e de sua filha, Anita, que foi libertada.

Federico Garcia Lorca recitando poemas em ato pela libertação de Luiz Carlos Prestes, 1936, Madri, Espanha

Olga teve seu destino selado em um campo de concentração. Mas as canções em homenagem a Prestes ficaram eternizadas nas baladas cantadas ao redor das fogueiras pelas legiões internacionalistas na Guerra Civil Espanhola.

Depois de uma covarde agressão da Alemanha nazista a navios brasileiros, o Brasil declarou guerra ao Eixo e uniu-se aos Aliados. Os brasileiros enviaram os pracinhas para a Itália onde tiveram uma grande importância na Batalha de Monte Castelo, auxiliando os partisans a se libertarem do jugo fascista. Com grande protagonismo da União Soviética, os nazistas foram derrotados após a batalha de Stalingrado. Berlim foi tomada e a bandeira vermelha soviética com a foice e o martelo foi hasteada no Reichstag alemão. Os Estados Unidos e a Grã Bretanha entraram no continente e assim o conflito mundial foi selado com a vitória aliada.

Prestes foi então libertado em 1945. Mas ele teve que lidar com uma das situações mais difíceis de sua vida. As forças reacionárias do país tramavam um golpe contra Vargas. Prestes havia sofrido o arbítrio da ditadura do Estado Novo, perdeu camaradas e até sua própria companheira. Mas naquele momento deixou uma lição para o futuro: a de que o Brasil era maior que ressentimentos pessoais e decidiu apoiar a transição democrática, com o país sob o comando de Vargas.

O Partido Comunista crescia e a liderança de Prestes inspirava multidões. Em seu pronunciamento no Estádio do Pacaembu em São Paulo foi aclamado pelos trabalhadores brasileiros que identificavam nele o herói das classes populares. A grandeza de Prestes foi reconhecida pelo povo e ele foi eleito o senador mais votado do país. Contribuiu para que o PCB, elegesse 15 deputados. Todos tiveram grande ativismo na elaboração da Constituição democrática de 1946

Em 1947, o registro do PCB foi cassado e Prestes perdeu o mandato. Em 1950, Prestes casou com Maria e teve 7 filhos: Antônio João, Rosa, Ermelinda, Luiz Carlos, Zoia, Mariana e Yuri. Adotou Pedro e Paulo. Até 1964, o partido viveu uma situação de semilegalidade. Em 1962 houve uma cisão e agora passou a existir o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), com Prestes permanecendo na liderança deste último. Em razão do golpe militar de 1964, Prestes precisou exilar-se na União Soviética com sua família. Os partidos comunistas brasileiros dividiram-se em grupos guerrilheiros menores e o regime ditatorial perseguiu-os brutalmente. A posição de Prestes foi a de organizar a resistência pacífica, se colocando em campo oposto ao de muitos de seus antigos companheiros. Posição vitoriosa que de fato levou ao fortalecimento dos movimentos populares que derrubaram a ditadura militar.

Prestes voltou ao Brasil após a anistia em 1979, rompeu com o PCB e aproximou-se do PDT de Leonel Brizola, do qual foi presidente de honra. Viu a ditadura acabar em 1985, o Brasil conquistar sua nova Constituição em 1988 e participou da primeira eleição democrática pós-ditadura. Faleceu em 1990 sendo reverenciado pelos principais líderes políticos do Brasil e admiradores de todo o país e do mundo.

Assim, fica uma questão: devemos considerar a Coluna Prestes como um grande evento da História do Brasil e Luiz Carlos Prestes como herói do povo brasileiro?.

A resposta é: sim, porque suas ideias impulsionaram o Brasil em seu progresso civilizatório.

A Revolução de 1930 acabou com a corrompida República Velha. Tenentes que participaram da Coluna tornaram-se patriotas que lutavam por bandeiras nacionalistas como a do “O Petróleo É Nosso!” na década de 1950. O Brasil industrializou-se aceleradamente até 1980. Logo, outras pautas da Coluna virariam realidade. Na década de 1990, a educação básica e média foi universalizada e na década de 2000, o mesmo aconteceu com o ensino superior. As fraudes eleitorais da República Velha foram progressivamente sendo superadas até se chegar às urnas eletrônicas na Nova República como uma das formas mais seguras para se votar, capaz ainda de garantir uma apuração do resultado em poucas horas.

Ou seja, as bandeiras políticas da Coluna tornaram-se realidade e Luiz Carlos Prestes foi quem expressou esses ideais enquanto figura pública.

Como acontecia com os heróis gregos, Prestes acertou e errou. Mas aprendeu com seus erros, foi sincero em seus objetivos e encarnou a vontade do povo pobre, trabalhador e humilde que um dia acreditou que o Cavaleiro da Esperança poderia transformar o Brasil. Como acontecia com os heróis gregos, Prestes passou por provas para mostrar seu caráter. Foi preso, torturado, perdeu sua companheira, teve mandato cassado e foi exilado. Mas conquistou a liberdade, venceu suas dores pessoais para colaborar com o Brasil, construiu uma nova família, continuou com as atividades políticas e retornou ao Brasil triunfante com uma multidão recebendo-o no aeroporto.

Então sim, Prestes é um herói. Um herói brasileiro reconhecido pelo próprio povo, que viu nele uma palavra: ESPERANÇA. Comandante da Coluna Prestes que agora recebe suas lendas em forma de poesia e música. Canções e poemas compostos por ninguém menos do que o filho que leva o seu nome.

A história de Prestes se liga de alguma maneira à minha trajetória pessoal. Meu avô Guico era um homem do campo em Piracicaba, no interior de São Paulo. Ele vivia da agricultura com uma grande família e jamais soube o que era comunismo ou o que estava em disputa nas questões políticas do país. Mas acreditava que Luiz Carlos Prestes saberia o que fazer para o povo melhorar de vida. Ele apoiava Prestes, acreditava que um dia o Cavaleiro da Esperança presidiria o Brasil e seria diferente de todos os outros porque era um homem que veio do povo. Esse carinho de meu avô por Prestes resultou no nome de minha mãe: Olga.

Conheci Luiz Carlos Prestes Filho nas redes sociais e logo ficamos amigos. Sua obra poética é a forma muito própria e brilhante pela qual ele narra as jornadas do pai. Ele fez parte dessa história e tem grande contribuição na preservação da memória de Prestes, de seus companheiros e familiares que formavam o suporte que o líder precisava para realizar sua tarefa.

Dizem que todas as artes são inspiradas pelas musas gregas. Calíope, a musa da poesia épica, abençoou Luiz Carlos Prestes Filho. Já minha musa é Clio, aquela que orienta-nos a escrever a história. Temos, portanto, formas diferentes de expressar a grandeza dos eventos históricos. Mas acima de tudo dividimos algo em comum: reconhecemos Luiz Carlos Prestes como um herói do povo brasileiro e dos revolucionários de todo o mundo. Essa memória precisa ser revivida constantemente para que o povo brasileiro em todas as gerações vindouras de jovens inspire-se neste movimento que Prestes liderou quando ainda tinha 26 anos.

Luiz Carlos Prestes, presente!

 

Introdução

Por Luiz Carlos Prestes Filho

 

A Coluna Prestes não tem paralelos na História da humanidade. Foi a mais extensa de todas as marchas realizadas ao longo da História. Nenhum povo fez outra igual. Seus objetivos: liberdade e justiça social.

Derrotando 17 generais do exército regular brasileiro - em batalhas e manobras - os revoltosos, como foram batizados pelo povo por onde passaram, cruzaram vinte quatro (24) mil quilômetros de todo o Brasil.

"No ano de 1995, percorri a trilha da marcha, entrevistei 450 testeminhas que vivamente me relataram fatos distantes e causos, como se os revolucionários tivessem acabado de passar. Durante a viagem tive a idéia de construir o Memorial Coluna Prestes Tocantins, que o Governador José Wilson Siqueira Campos realizou em Palmas, com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer; e o Memorial Coluna Prestes Santo Angelo, no Rio grande do Sual, que o prefeito Adroaldo Loureiro realizou, na antiga Estação Ferroviária da cidade. Oscar Niemeyer também projetou a meu pedido o Monumento Coluna Prestes para as cidades de Santo Angelo (RS), Santa Helena (PR), Arraias (TO) e de Crateus (CE). Ao Memorial Coluna Prestes Tocantins dediquei sete anos de minha vida, sempre com o apoio incondicional de minha mãe, Maria Prestes (1995-2001).

Memorial Coluna Prestes Santo Angelo, Rio Grande do Sul, ponto de partida da marcha. Inauguração 1996.

 As canções, os cordeis e os poemas do povo simples do interior sobre a Coluna Prestes me aproximaram do nativismo gaucho; do rasqueado pantaneiro; da catira goiana; da jiquitaia tocantinense; do bumba-meu-boi maranhense; do xaxado nordestino; da viola caipira mineira; entre tantos outros gêneros. Desta vivencia musical vem a obra "Lendas - Coluna Prestes". 

 

Águia Barbuda

 Orquestra / Movimeto nº1 - "Avante Camarada"

 

Seu olhar dos horizontes

Queria hoje descansar

Mas continua a voar para longe

Para longe, para longe... como parar?

 

Suas asas estão pesadas

Queriam hoje descansar

Mas continuam a busca, a busca

O voo... como parar?

 

Amanhece já é hora

Vem aos poucos o despertar

Volta o homem ao seu corpo

As garras somem ao voltar

 

Moradores do interior do Brasil até hoje adoram confessar, bem baixinho, para não ter testemunhas, que o chefe da Coluna via o futuro. Tanto que ele sempre sabia tudo sobre os caminhos que seus soldados iriam percorrer. Afirmavam que à noite ele se transformava numa águia, conservando a sua face barbuda, e sobrevoava os rios e as florestas, as cidades e as fazendas. Nesse voo ele marcava onde era possível encontrar comida, cavalos e local para pouso. E, claro, descobria onde estavam escondidos os inimigos:

“Prestes ‘advinhava’, razão porque não podíamos ser batidos pelas forças do ‘guverno’, das quais eles sempre tinham notícias de derrotas que lhes infligimos. O nome de Prestes enchia todos os pensamentos. Os matutos, quando nos encontravam, era logo por quem perguntavam, e quando se achavam na sua presença, olhavam-no com um respeito supersticioso, admirados de ser nosso chefe aquele moço pequenino e cabeludo, de face pálida e maneiras delicadas. A fama de Prestes empolgava a alma angustiada das multidões sofredoras como uma promessa de liberdade e justiça”. (Relato do secretário da Coluna Prestes, Lourenço Moreira Lima, no seu diário “Marchas e Combates”, pág. 194)

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas, 1998.

Link - Movimento nº1: "Avante Camarada"

https://www.youtube.com/watch?v=YLLFibF2kxI&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=1

OBSERVAÇÃO: O Movimento nº1 - “Avante Camarada”, foi realizado a partir da obra original do compositor e maestro , Antônio espírito Santo. Mestre da banda da cidade de Angical, interior do Estado da Bahia, ele compôs “Avante Camaradas”, numa homenagem a passagem da Coluna Prestes por suas terras. A mesma acabou indo parar no hinário das Forças Armadas Brasileiras.

  

Visões

Orquestra / Movimento nº 2 – "O Herói"

 

Não foi só Santo Ângelo que iluminou

Não foi só São Luiz que apontou

Quando pediu para o soldado

Este o caminho mostrou

Muito além do futuro que antes do passar chegou

 

Seu soldado tinha ervas de obê no chimarrão

Tocava atabaque, tocava violão

Com um relâmpago ensinou

Fez o comandante ter visão

Disse: “Pode correr o Brasil

Seu corpo está fechado, morre não”

“O Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, que formou o núcleo da Coluna Prestes, era na sua maioria composto de soldados negros. Entre eles o jovem Hermogêneo Dias Messa, que contou certa vez: “Eu lembro daquela cobra que estava sobre a pedra. Era uma sucuri. Foi com uma paulada que Prestes acabou com ela. Isso nos aproximou. Senti nele coragem. Lembro, que eu tinha o Baito e o Companheiro. Eles eram ensinados, um saltava no pescoço do inimigo, o outro segurava as pernas do pobre coitado. Prestes ria dessa habilidade dos meus cães. Isso nos fez ser iguais. Lembro que eu fui jogar osso e ganhei por adivinhar as jogadas de toda a nossa negrada. O Prestes ficou admirado. Curioso me perguntou como eu podia adivinhar as coisas? Foi ai que eu contei para ele como ter visões. O nosso comandante gostou e passou a praticar. Naquele dia eu segredei para ele não ter medo, que o corpo dele estava fechado”.

Alegre, Hermogêneo, lembra da brincadeira que os soldados cantavam para o sargento Sapo do Batalhão Ferroviário:

 

“Tudo corria muito bem

Tudo estava bem e bom

Quando o sargento Sapo

Velho afamado mandou entrincheirar

Toda a negrada com choque rolou

Rolou, rolou, rolou

Até que o sargento gritou

Não é rolar!

É no buraco que tem que entrar”

 

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas, 1998.

Link - Movimento nº2 - "O Herói":

https://www.youtube.com/watch?v=zp4pS2qXutE&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=2

  

Cavalgando Peixes

Orquestra / Movimento nº 3 – "Lendas Coluna Prestes"

 

Foram tantas águas de tantos rios para atravessar

Que daria para dizer que a Coluna atravessou um mar

 

Tantos bichos ferozes essas águas escondiam

Horrendos de amargar

 

Eles saltavam para a terra tudo querendo arrastar

Para as suas profundezas, era correr ou se entregar

 

Tinha peixe do tamanho de carro de boi para cavalgar

Os viventes que escaparam têm medo de contar

  

Nenhum rio foi obstáculo para a macha seguir seu rumo. Contam que o comandante nem precisava solicitar embarcações para travessias das águas. Ele lançava uma misteriosa armação e uma rede, abrindo passagem para os homens e animais sobre as águas. Caso alguém corresse risco de cair nas profundezas dos rios, a rede segurava.

Os revolucionários atravessaram os principais rios brasileiros: rio Uruguai (Rio Grande do Sul e Santa Catarina); rio Araguaia (Mato Grosso e Goiás); rio Tocantins (Tocantins e Maranhão); rio Balsas (Maranhão); rio Parnaíba (Maranhão e Piauí); o rio Jaguaribe (Ceará); e o rio São Francisco (Pernambuco, Bahia e Minas Gerais).

Lembra no seu diário o secretário da Coluna Prestes, Lourenço Moreira Lima que os matutos: “... Ficaram escandalizados quando Cordeiro de Farias (um dos comandantes da Coluna) lhes perguntou pelas canoas, porque lhes haviam dito que atravessávamos os rios sem nos utilizarmos de embarcações, por conduzirmos um ‘apareio de mangaba’ que estendíamos sobre as águas passando por ‘riba deles’ bem como uma ‘rede’ de apanhar homens e cavalos, rede tal que não havia ‘vivente’ que lhe escapasse” (pág. 194)

Peixes-monstros ameaçadores não intimidavam os homens de Prestes. Os guerreiros laçavam os mesmos e colocavam celas neles. Contam no interior que os revoltosos cavalgavam estas criaturas com a mesma bravura e elegância com que os gaúchos o faziam sobre os seus cavalos.

““Disseram-nos (...) que havia (...) peixes colossais, feras monstruosas que atacavam as ‘criaturas’ até fora do rio, salientando-se pela audácia o Negro d’água um ‘bicho feroz’ que saltava em terra, ereto como um gigante e as perseguia, arrastando-as para o fundo d’água; e um outro, cujo nome não sabiam ‘tamanho da roda de um carro de bois’, que corria pelas margens atrás dos homens, um horrendo terém”. (págs. 194-195)

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas, 1998.

Link - Movimento nº3 - "Lendas Coluna Prestes":

https://www.youtube.com/watch?v=6mrKaXqR880&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=3

Nossa Senhora de Lourdes

Orquestra / Movimento nº 4 – "O Anel de Ferro"

  

E o vento soprava mas nenhum galho se mexia

E os revoltosos pisavam as águas mas nenhum ruído escapava

 

De muito distante vinham os cânticos e as rezas

A pálida luz do círio iluminava mas não queimava

 

A marcha do Anel de Ferro se fechava

Na invisibilidade a revolução escapava

“A Coluna Prestes fez seus primeiros movimentos nos pampas gaúchos, sob a proteção de Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões e de Nossa Senhora de Lourdes. Sua identidade foi marcada pelo laço vermelho maragata que envolveu o peito de soldados e comandantes. A Coluna Prestes teve como marca musical o som da gaita gaúcha. Conta a lenda que as mulheres de São Luiz Gonzaga, fiéis a esta santa, pediram um milagre e foram atendidas, pois a Coluna Prestes escapou misteriosamente do Anel de Ferro armado pelos inimigos no entorno daquela cidade. Quatorze mil (14.000) soldados do Exército Brasileiro não viram passar os mil (1.000) homens comandados por Prestes, que romperam o cerco como seres “invisíveis”. Quando o Anel de Ferro se fechou, a Coluna Prestes já estava fora dele e a mais de 100 quilômetros de distância de São Luiz Gonzaga. O exército, o governo e os jornais tinham sido categóricos: o cerco seria intransponível."

Como os revoltosos – denominação dada pelo povo para a Coluna – conseguiram escapar? Tem morador local que lembra que seu avô disse para o seu pai, que contou para sua tia, que afirmou para o melhor ervateiro da aldeia que foi uma águia barbuda que orientou aquela retirada na escuridão da madrugada. As mulheres de São Luiz Gonzaga não acreditam em águia nenhuma. Para elas, o sumiço da Coluna Prestes foi ação da Nossa Senhora de Lourdes. Como agradecimento, aquelas mulheres ergueram uma gruta em homenagem à santa. Assim, nunca ninguém da cidade vai esquecer do milagre que evitou o derramamento de sangue de tantos irmãos. Esta gruta hoje é local de devoção.

 Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas, 1998.

Link - Movimento nº4 - "O Anel de Ferro":

https://www.youtube.com/watch?v=eJpvBRc6ydA&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=4

 

Vivandeiras

 (Para canto sem acompanhamento ou declamação)

 

O sofrimento é a única verdade que merece atenção

Para a vivandeira Joana a maldade

Não participou do ato da criação

Nem do parto da Santa Rosa que deu ao mundo o filho da revolução

 

A Cara de Macaca e a Chininha andarilha

Nenhuma bala pegava porque a verdade sabia

Que a morte acertar não podia

A criatura que a mentira combatia

 

Isabel estava com as vivandeiras

Nenhum sofrimento sua verdade abatia

Um negro de Santo Ângelo a Redentora protegia

Para ele o império da liberdade um dia voltaria

 

A Coluna Prestes contou com a participação de trinta (30) mulheres. Estas nunca pediam milagres. Eram guerreiras, enfermeiras, mães e amantes. Quando necessário, pegavam em armas.

“As nossas Vivandeiras marchavam ‘lindo’, como dizem os gaúchos. Passavam Hermínia com sua cadela dentro duma estopa, a tiracolo; Santa Rosa, com o José, ‘Filho da Revolução’’, (...) muitas vezes cavalgando junto ao pescoço de algum soldado; a velha Joanna, pequenina e gorduchinha (...); a Onça, maxixando na lama; a Cara de Macaca, carregando o fuzil do companheiro; a Chininha, (...) andarilha sem igual, apesar das suas avantajadas banhas de mulata”. (pág. 351)

Grupos de negros do Brasil Central foram ao encontro da Coluna Prestes. Disseram que sabiam que entre as trinta (30) mulheres estava a Redentora, a Princesa Isabel. Diziam que a participação dela era a prova de que a Coluna Prestes lutava pelos negros e pela volta da Monarquia. Alguns contaram que a Princesa Isabel levava consigo a sua coroa real, que era sim uma das revoltosas. Por isso, a população oprimida e abandonada via na passagem das trinta Vivandeiras a mesma mão que acabou com a escravidão.

“Em Porto Nacional, o povo acorria curioso para ver a Princesa Isabel, que viajava conosco, conforme se espalhou, por nos acompanhar uma Vivandeira desse nome”. (pág. 199)

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas. Ao fundo o Palácio Araguaia, sede do Governo do Estado do Tocantins, Praça dos Girassóis, 1998.

Jaguncinho

Orquestra / Movimento nº 5 – "Recuar Jamais":

 

Meninos pontiagudos, cabelos ondulados em fechos

Corpos de madeira, de aço, inteiriços de miras certeiras

 

Tinham no máximo um metro e cinquenta e cinco

Nas mãos o brasão do exército brasileiro

 

Quantos peitos essas baionetas visitaram? Quantas vezes esses gatilhos dispararam?

Quantas bandoleiras arrebentaram no meio do tiroteio?

 

Os meninos da Coluna Prestes eram identificados como Jaguncinhos. Eles cumpriam serviços que exigiam coragem. Muitas vezes foram esses guris responsáveis pela busca de informações sobre os deslocamentos inimigos - na vanguarda, na retaguarda ou nos flancos.

“Durante a marcha, muitos meninos de 12 a 14 anos se incorporaram à Coluna, distinguindo-se alguns pela sua bravura. Entre outros, lembro-me dos seguintes: Jaguncinho e Aldo (...), Tiburcio, maranhense, Pedrinho e José Thomaz de Aquino, piauienses. O último desses meninos foi promovido a aspeçada por ato de bravura, conforme consta no Boletim n. 29 do Comando em Chefe, datada de 1926”. (pág. 491)

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto Oscar Niemeyer, em contrução, Palmas. Junto a futura entrada, Luiz Carlos Prestes Filho, 1998.


Link Movimento nº 5 – "Recuar Jamais":

https://www.youtube.com/watch?v=6pXAXNMxPgY&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=5

Xibéu

 (Para canto sem acompanhamento ou declamação)

 

Olhando para o céu, entendo não fomos uma estrela

E como poderíamos ser? Andarilha nossa coluna um planeta

 

Nunca dormimos, nunca paramos, só descansamos no sono daqueles

Que fecharam as pálpebras depois de um tiro certeiro

 

Caraíba, caju, manga, capim santo, açoita cavalo

Acabou-se o mate do chimarrão

 

Como esse mato brilhava no nosso caldeirão!

Nas frias madrugadas do pantanal, do cerrado, do sertão

 

Os ervateiros descobriam o xibéu das folhas, das sementes, dos galhos

Os mateiros na caatinga os mistérios das flores, dos frutos

 

Não, nunca fomos uma floresta e como poderíamos ser?

Se andarilha a nossa coluna como um bicho do mato

 

Nunca dormiu, nunca parou, só descansou no sono daqueles

Que fecharam as pálpebras depois de um tiro certeiro

 

Quando a marcha avançou para além das terras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso, a reserva de erva-mate acabou. Não tinha como ter café. A bebida que passou a manter os revolucionários em pé era preparada com a vegetação que encontravam no caminho. Os caldeirões comunitários ferviam nas frias madrugadas. Parecia fazimento de poções mágicas para aquisição de força e de bravura.

“A indústria do xibéu desenvolveu-se extraordinariamente (...) na ausência do café. As folhas de caraíba, caju, manga, capim santo, açoita cavalo e de outras plantas ferviam nas chaleiras e panelas, em torno das quais nos aglomerávamos à espera que a água fervesse, para ingerirmos alguma coisa quente, mesmo sem açúcar”.(pág. X )

O autor de "LENDAS - Coluna Prestes", Luiz Carlos Prestes Filho, e o arquiteto Oscar Niemeyer, autor do projeto de arquitetura do Memorial Coluna Prestes Tocantins.

Padre Cícero e Lampião

Orquestra / Movimento nº 6 – "A Coluna dos Prestes":  

Presidente chamou Floro, este chamou o Padinho

Padinho chamou Prestes que respondeu que o seu caminho

Não tinha como parar, que não iria pra Juazeiro até a luta acabar

 

Presidente voltou pro Floro, este voltou pro Padinho

Padinho chamou Lampião que em Juazeiro recebeu a missão

De rastilhar a serpente luminosa, apanhar, estrangular

 

Presidente deu dinheiro, armas e munição

A patente que fez de Virgulino o mais famoso capitão

Do exército brasileiro com toda razão

 

Mas ao sair de Juazeiro Lampião rompeu a corrente

Padinho-Floro-presidente

Seguiu a trilha oposta da serpente

“Um santo popular brasileiro, o Padre Cícero, escreveu para o Capitão Luiz Carlos Prestes disponibilizando apoio, dizendo que ia conversar com o Presidente do Brasil sobre a liberdade pela qual lutavam. Na sua opinião, os revoltosos deviam acabar com a guerra e depositar as armas em Juazeiro do Norte. Prestes não aceitou. O presidente do Brasil de então, o Arthur Bernardes, deu armas e dinheiro para o Lampião. Pediu para ele combater os revolucionários. O cangaceiro pegou o dinheiro e as armas, mas não aceitou enfrentar os homens de Prestes."

Luiz Carlos Prestes Filho junto a escultura do pai, Luiz Carlos Prestes, durante a exposição da obra junto ao Palácio do Planalto, Brasília, Praça dos Tres Poderes, 1998. Antes de ser fixada no Memorial Coluna Prestes Tocantins. Obra dos escultor Maurício Bentes.



Link Movimento nº 6 – "A Coluna dos Prestes":

https://www.youtube.com/watch?v=vNATMvUAIOg&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=6

Observação: O Movimento nº6 - “A Coluna é dos Prestes” foi realizado a partir da obra original do diretor de cinema, Hermínio de Oliveira: “É de Aço, é de Fogo”. Canção em homenagem ao patriota comunista Gregório Bezerra, que entrou na luta revolucionária influenciado pelas lendas que a Coluna Prestes deixou ao passar pelo Estado de Pernambuco.

 

Santos Revoltosos

Orquestra / Movimento nº 7 – "O Chamado da Coluna Prestes":

 

Dois Santos Revoltosos nos olhos do menino

Da janela ele via tudo sozinho

 

Sobre as padiolas muita luz

Que de tão intensa ilumina quem conduz

 

Quando conta, não acreditam, dizem estar a inventar

Ele jura, insiste, viu os Santos Revoltosos chegar

 

Vieram para Crateús para os anjinhos proteger

Essa é a causa pela qual vieram combater

São muitos túmulos de combatentes da Coluna Prestes espalhados pelo Brasil. Sem lápides, sem datas de nascimento ou morte. Em Crateús, no interior do Ceará. Dois revolucionários ali enterrados são chamados de Santos Revoltosos. O poeta Gerardo Mello Mourão, que menino viu os revoltosos passarem, lembrava que no entorno destes túmulos os moradores passaram a enterrar crianças mortas antes de completar um ano: “Quando morriam nossos pequenos anjinhos a gente fazia assim para os proteger. Os Santos Revoltosos da Coluna Prestes acompanham os anjinhos até o reino dos céus”.

Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, sobre o pedestal do Memorial Coluna Prestes Tocantins, Palmas. A obra do escultor Maurício Bentes. Inauguração 2001.


Link Movimento nº 7 – "O Chamado da Coluna Prestes":

https://www.youtube.com/watch?v=sbMBKYGeFQY&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=7

 

Velocidade da Marcha

Orquestra / Movimento nº 8 – "A Travessia do Pantanal":

 

A costela do pampa no pantanal é maçã do peito

No cerrado é granito, no nordeste dianteira gaúcha

 

Parece a mandioca do pampa que no pantanal é aipim

No cerrado uaipi e no nordeste macaxeira

 

Mas só se parece, porque foi a dianteira

Que fez a marcha atravessar tantas fronteiras

A marcha foi feita sempre com manobras ágeis e rápidas. Reza a lenda que a alta velocidade era possível porque os gaúchos comiam somente as partes dianteiras dos animais. “Diziam que só comíamos as partes dianteiras do gado para andarmos depressa. (...) Os matutos ficavam intrigados com o fato dos gaúchos desprezarem os quartos das reses, - que não prestam para churrasco, - e como não encontrassem explicação para isso criaram a lenda”. (pág. 194)

Maria Prestes, Luiz Carlos Prestes Filho e Luiz Carlos Prestes Moscou, União Soviética, 1978


Link Movimento nº 8 – "A Travessia do Pantanal":

https://www.youtube.com/watch?v=sm62w6YZQ18&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=8

 

Eterniza

Orquestra / Movimento nº 9 – "A Liberdade Marcha"

Morrer é fácil, viver é outra coisa, viver é não desanimar

Não desistir, não se vender, não se curvar

 

A liberdade pede vida como o pampa pede uma planície infinita

Com um céu azul e um verde de verde de verde até o fim

A Coluna Prestes criou tantas lendas por todo o nosso Brasil que virou um livro do Jorge Amado, “O Cavaleiro da Esperança”. Foi lembrada no livro de Guimarães Rosa, “Grandes Sertões, Veredas”. Foi uma referência para Érico Verissimo, quando escreveu “O Tempo e o Vento”. Virou poemas de Pablo Neruda, de Murilo Mendes e de Alexei Bueno. Canções de Paulo da Portela e Taiguara. Virou obra de arte pelas mãos de Cândido Portinari, de José Pancetti e Oscar Niemeyer.

Memorial Coluna Prestes Tocantins, projeto de Oscar Niemeyer, Palmas, inaugurado em 2001.

Link Movimento nº 9 – "A Liberdade Marcha":

https://www.youtube.com/watch?v=LDZSzsSE7fY&list=OLAK5uy_m_oiyp_uDnF3P_7qYrX59KdebEhmlv488&index=9

Monumento Coluna Prestes Tocantins, projeto do arquiteto Oscar Nimeyer, Arraias (TO), 1996.

Letras das melodias da obra “LENDAS – Coluna Prestes”

 

AVANTE CAMARADA

 

Avante Camarada

Fuzil no ombro espada na mão

Marchemos com audácia

Para nossa revolução

Avante Camarada

Que em todos nós o povo confia

Marchemos com alegria, avante!

Marchemos confiantes

 

Aqui não há quem nos detenha

Nem quem derrube e nossa galhardia

Quem nobre missão desempenha

Temer não pode a tirania

Nunca seremos vencidos

Pois lutamos contra os traidores

Do nosso solo já vendido

Por esses estranhos impostores

 

O povo brasileiro

Compreenderá a sua missão

Valente e altaneiro

Fará a revolução

Por isso, conscientes

Fortes, altaneiros

Revolucionários somos

Revolucionários brasileiros

 

O HERÓI

  

O herói é um grito, é o olho que amealha

É vento do deserto - a verdade que estraçalha

É o trovão, é o eco da ira

Lusco-fusco de alegria - horizonte que brilha

 

Ele marcha, sob o sol e a chuva

O herói é um grito, da nação que agoniza

 

Nunca é tarde para desvendar

Os caminhos encontrar

Seguir, avançar - não desviar

 

Um dia ele disse não

Fez do imprevisto o seu chão

É insolvente o lutar - desbravar

 

No dia que resolveu partir

Sem deixar rasto do seu existir

Viu o amor envolver, sorrir

 

Mesmo cansado de se entregar

Fez a esperança desabrochar

Ao partir - ele venceu

 

LENDAS – Coluna Prestes

 

Quando olho para trás - confirmo:

Tinha que ser

O destino estava traçado

Tinha que acontecer

 

Sim Brasil

Eu não duvido que fui te encontrar

Quando sai desse meu lugar

Da terra onde nasci

Sim Brasil

Vinte mil quilômetros para te encontrar

E nada conseguiu me desviar

Por isso hoje estou aqui

 

A esperança a cantar

Ruídos para espantar

Pegadas para ocultar

O Anel de Ferro a fechar

 

Quando olho para trás - confirmo:

Tinha que ser

O destino estava traçado

Tinha que acontecer

 

Sim Brasil

Eu não duvido que fui te encontrar

Quando sai desse meu lugar

Da terra onde nasci

Sim Brasil

Vinte mil quilômetros para te encontrar

E nada conseguiu me desviar

Por isso hoje estou aqui

 

A esperança a cantar

O inimigo a despistar

Na escuridão avançar

O Anel de Ferro a fechar

 

ANEL DE FERRO

 

Não conto para ninguém

As trilhas que andei

Não conto para ninguém

As águas que naveguei

Não conto eu não quero

Não vão acreditar

Mas eu sei

Vai dar de falar

 

RECUAR JAMAIS

 

Já não dá mais pra segurar

Avança a onda é o revirar

Não tem como equilibrar

Avalanche que quebra

Que queima, que corta

Não vão nos barrar

 

A esperança está no chão

Reerguer nossa missão

Segurem firme nossas mãos

Juntos sairemos dessa escuridão

 

Quem diria o destino desafia outra vez

Bate a porta, exige altivez

Frente à luta e à História de nossos pais

Recuar jamais

 

A COLUNA DOS PRESTES

 

A Coluna é dos Prestes

É verdade sim senhor

A esperança é sua arma

Que a vida temperou

 

Atravessa os horizontes

Ilumina sim senhor

A revolução

Do nosso povo sonhador

 

É temida como um raio

Do oprimido é defensor

 

É a Coluna dos Prestes

Que passou

É a Coluna dos Prestes

Que brilhou

Que brilhou

 

Vai rasgando o Brasil

A Coluna com fervor

Derrota generais - coronéis

Capachos do senhor

 

Ela veio do Rio Grande

Pantanal atravessou

O Nordeste por inteiro

A Coluna desbravou

 

Das batalhas a glória fica

Pra História já entrou

 

É a Coluna dos Prestes

Que passou

É a Coluna dos Prestes

Que brilhou

Que brilhou

 

A Coluna é dos Prestes

É verdade sim senhor

A esperança é sua arma

Que a vida temperou

 

TRAVESSIA DO PANTANAL

 

Missão cumprida

Acordamos o país

Brasil profundo

Nossa raiz

O que éramos

Não somos mais

O que somos hoje

Não se desfaz 

 

Atravessamos

Rincões, desilusões

Veredas, rios

Novas dimensões

Chapadas, os Gerais

A esperança - não se desfaz

 

 

@LENDAS – Coluna Prestes 

Monumento Coluna Prestes, projeto do arquiteto Oscar Nimeyer, Santo Angelo (RS), 1996.

Luiz Carlos Prestes Filho, durante o ano de 1995 percorreu os 24 mil quilômetros das trilhas da Coluna Prestes. Como resultado, idealizou e realizou a construção do Memorial Coluna Prestes de Santo Ângelo (Estado Rio Grande do Sul) e o Memorial Coluna Prestes do Tocantins, e Palmas (Estado do Tocantins). Realizou a construção dos monumentos Coluna Prestes nas cidades de Arraias (Estado do Tocantins), Santa Helena (Estado do Paraná), Crateús (Estado do Ceará) e Santo Ângelo (Estado Rio Grande do Sul). O arquiteto convidado foi o Oscar Niemeyer. Luiz Carlos é autor das obras “Casa de Pedra” (poesia) e “Piaçaba e Acrescidos” (oratório).

Lendas - Coluna Prestes

@luiz carlos prestes filho - todos diretos reservados ao autor - é proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem prévia autorização do autor

@Todamérica Edições LTDA

A Grande Marcha – uma Lenda Brasileira

José Luiz Cunha Lima é historiador e guia cultural da Chapada dos Veadeiros.

 

O poema para orquestra “LENDAS – Coluna Prestes”, de Luiz Carlos Prestes Filho me fez voltar para os extensos chapadões luminosos floridos e sem horizontes do coração do Brasil. Local onde muitas vezes trumbiquei em pedra rara, matacão cristalino, ou num cipó de chão. Os movimentos, o libreto e a letra me fizeram despencar dentro de um buracão enorme que se estendia e se alongava. Aos poucos atingi o salão de uma caverna escura como a selva. Acendido o fósforo da pupila, me foram revelados, entre estalactites e estalagmites, esculturas que fariam Fidias, Rodim ou mesmo Michelangelo sentirem-se meros lascadores de pedras. Findo o colapso, me vi na catedral fabulosa, Maragata, chamada Coluna Prestes. Incandescida por grandes fogueiras, embalada por tambores, cornetas e decorada por laços vermelhos. Tudo é tão real nesse oratório que parece um sonho. Realidade que não cabe em si, epopeia que transborda, feito heroico. Cheio de façanhas, gestos generosos, ternura e graça. 

Monumento Coluna Prestes , projeto do arquiteto Oscar Nimeyer, Crateus (CE), 2006.

A Coluna Prestes foi uma jornada heroica e solene, feita por brasileiras e brasileiros, gente como a gente. Desfile suntuoso de lendas e magias perlustrando os sertões Brasil. Gesta maratônica dos Revoltosos.

Documento assinado por Oscar Niemeyer relacionado com a construção do Monumento Coluna Prestes em Crateús (CE).

Nas cenas e combates, entre marchas e episódios, a “lenda nos acompanhava por toda parte”, anota o escrivão da marcha, Lourenço Moreira Lima. Ele destaca no seu diário o parto da vivandeira loira e fogosa, que namorava o alemãozinho do Rio Grande. Quando nasceu o menino negro, ele foi rapidamente, e com alegria, sem qualquer constrangimento, adotado pela tropa entusiasmada: “Filho da Revolução”. Lourenço, o bacharel-feroz, na beira do Rio Novo, lá pelos lados do Jalapão, encontrou um pé de botina que lhe faltava. Calçou. Continuou a Marcha como um arlequim de sapatos amarelo e vermelho. A enfermeira Hermínia, austríaca de nascimento, paulista de origem, no Piauí, ultrapassou atrevidamente a trincheira inimiga para tratar os feridos do outro lado. Foi elogiada pela imprensa. Lamentou-se a sua não captura.

A cada lenda o Cavaleiro da Esperança enchia todos os pensamentos da população, o que fez o cronista afirmar a certa altura que: "Prestes não é somente uma das maiores afirmações da energia e da inteligência da nossa raça, mas um dos tipos mais eminentes de toda humanidade". Um herói. Um titã. Um Prometeu da Pátria.

Entre poetas e cantadores, na hora do almoço, na hora do jantar, entre altares improvisados com cotocos de velas e fotos de jornal, correndo, de boca em boca, através dos meninos, dos velhos, das senhoras, o povo todo falava dos guerreiros que atravessavam o país. Entre os clarões das ladeiras, das encostas iluminadas por archotes, entre índios, lugares e povoados quase inexistentes, como aquele São João do Pinduca, os revolucionários conheceram as “casas habitadas por pobres negros, todos papudos, que ali viviam miseravelmente”.

 

Monumento Coluna Prestes , projeto do arquiteto Oscar Nimeyer, Santa Helena (PR), 1998.

“A Coluna marchava dentro de uma glória de ouro”, dentro de uma dura realidade. Respiravam o aroma do delírio, fermentado pelo fabuloso, que diante de montanha enigmática, contavam causos estranhos que aconteciam: “Milhares de galos cantando no meio dia, moça dançando ao luar, dobre de sinos, as aves-marias, frades sem cabeça cavalgando esqueletos de cavalo, cobras enormes de olho de fogo, deslizando pelas suas encostas escarpadas, e, por fim, o Diabo percorrendo as suas cercanias montado num colossal porco-espinho, cujos grunhidos horrendos enchiam a solidão num raio de cem léguas.”

Durante a marcha aconteceu um arrebatamento da imaginação, é sobre isso este oratório. Tanto que contando um conto, e aumentando muitos pontos, a lenda falava que entre as vivandeiras havia uma “preta feiticeira, chamada Tia Maria, que dançava nua diante das metraiadeiras". Ela, ao som de um flautim tocado por um "tá de coroné Favorino”, “fechava o corpo dos homens” frente para às balas dos inimigos, antes de começar o combate.

Luiz Carlos Prestes Filho ao lado de uma das esculturas do conjunto "Os 18 do Forte de Copacabana", que fica ao lado do Memorial Coluna Prestes Tocantins, Palmas, Praça dos Girassois. Obra dos escultor Maurício Bentes.

As músicas desta obra servem de auréola para a marcha. Som nos leva até as estrelas do Cruzeiro do Sul e as fazem “brilhar com uma intensidade nunca vista”.

Luiz Carlos Prestes, a esposa Maria e o filho Luiz Carlos - Romênia, 1973