PRESTES - Ato nº1 - Luiz Paixão

PRESTES - Ato nº1 - Luiz Paixão

PRESTES - Cavaleiro da Esperança - obra do artista José Pancetti

PRESTES - Ato n°1

Obra do dramaturgo Luiz Paixão

NO ESCURO OUVEM-SE OS PRIMEIROS ACORDES DE “A INTERNACIONAL”. LENTAMENTE UM FOCO VAI NOS REVELANDO UMA REPRESENTAÇÃO DA FOTO OFICIAL DE FUNDAÇÃO DO PCB. DURANTE O HINO, OUVE-SE UMA VOZ GRAVADA.

Cartaz soviético - Proletários de todo o mundo uni-vos!

VOZ GRAVADA - “O Partido Comunista tem por fim promover o entendimento e a ação internacional dos trabalhadores e a organização política do proletariado em partido de classe para a conquista do poder e conseqüente transformação política e econômica da Sociedade Capitalista em Sociedade Comunista”. 

A MUSICA CONTINUA. UM FOCO NOS REVELA LUIZ CARLOS PRESTES. ELE DIZ TRANQÜILO, SÓBRIO, DIRETAMENTE PARA O PÚBLICO. 

Luiz Carlos Prestes - década de 1980

PRESTES - Eu sou otimista quanto ao futuro do socialismo no Brasil. Já temos uma classe operária numerosa, com um nível de consciência elevado. O que falta é organizá-la. Organizada, a classe operária será uma força invencível, que poderá levar o país ao socialismo. Existe hoje no Brasil uma classe operária de segunda geração, consciente politicamente e que pode ser ganha para as teses marxista-leninistas. Estou convencido de que essa classe operária pode dirigir as grandes massas e fazer a revolução. Quanto a dizer se essa revolução é pacífica ou armada, é querer fazer profecia. Somos um país que o imperialismo não vai querer perder e contra isso resistirá com todas as suas forças. Nesse caso, diante das eventuais resistências da classe dominante, ajudada pelo imperialismo, há necessidade de se estar preparado para a luta armada e a insurreição.

A LUZ CAI SOBRE OS NOVE FUNDADORES DO PCB. PRESTES ESCREVE UMA CARTA. SURGE LEOCÁDIA, LENDO A CARTA.

Fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em março de 1922. De pé, da esquerda para a direita: Manuel Cendon, Joaquim Barbosa, Astrogildo Pereira, João da Costa Pimenta, Luís Peres e José Elias da Silva; sentados, da esquerda para a direita: Hermogênio Silva, Abílio de Nequete e Cristiano Cordeiro.

PRESTES - (ESCREVENDO) Não tenho mais ilusões, mãe.  A República está carcomida. E alguma coisa precisa ser feita.

LEOCÁDIA - O que você pretende dizer com isso, Carlos?

Leocádia Felizardo Prestes

PRESTES - (DIRETAMENTE À MÃE) Em São Paulo o general Isidoro levantou armas contra Artur Bernardes.

LEOCÁDIA - Eu sei. A guerra campeia.

PRESTES - Uma guerra de patriotas.

LEOCÁDIA - Uma guerra contra irmãos. 

PRESTES - Contra os abusos de Bernardes.

LEOCÁDIA - Tanta gente morrendo, tanta gente...

PRESTES - Encaminhei meu pedido de demissão ao Exército.

LEOCÁDIA - Com que propósito?

PRESTES - Vou levantar o Batalhão de Santo Ângelo em apoio ao general Isidoro.

LEOCÁDIA - Já pensou no que isso pode significar?

PRESTES - As consequências maiores vão recair sobre você e as meninas. Vai perder o meu soldo e a casa do Clube Militar. Mas não posso ver as coisas como elas estão e não fazer nada.

LEOCÁDIA - Não estou pensando em mim, filho, mas no que te pode acontecer.

PRESTES - O que me acontecer certamente vai ser menor do que toda a injustiça que paira sobre o Brasil. Não tenho como não lutar, mãe.

LEOCÁDIA - Se é isso que você acha justo e certo.

PRESTES- É isso que acho justo. E se acho justo, mãe, a culpa é sua que me ensinou o sentido da justiça.

LEOCÁDIA - As coisas da vida dão muitas voltas Seu pai lutou pela República, e agora vejo você lutando contra ela.

PRESTES - Não pretendo lutar contra a República, mas contra o que fizeram com ela.

Luiz Carlos Prestes, capitão do Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo

INVERSÃO DE LUZ. BATALHÃO FERROVIÁRIO DE SANTO ÂNGELO 

PRESTES - Senhor oficial de dia, estou de posse de um telegrama do Comando da 3a. Região Militar, ordenando que o major Siqueira dos Montes entregue-me o comando do 1o. Batalhão Ferroviário imediatamente.

O Monumento "A Coluna Invicta" (1996), obra do escultor Maurício Bentes, está fixada ao lado da Estação Ferroviária de Santo Ângelo

OFICIAL - (LÊ O TELEGRAMA) O major Siqueira não se encontra no Batalhão. 

PRESTES - Cabe então ao oficial de dia cumprir a ordem entregando-me o comando.

OFICIAL - Não discuto ordem superior, capitão Prestes. O Batalhão está sob o seu comando.

Tenente Mário Portela Fagundes

ENTRA O TENENTE PORTELA, COM PANFLETOS NAS MÃOS

PORTELA - O manifesto ao Povo de Santo Ângelo já está editado e em meu poder.

OFICIAL - Tenente Portela? O senhor está sendo procurado como desertor.

PRESTES - (SACA A ARMA) E você está preso em nome do comando revolucionário de Santo Ângelo.

OFICIAL - O que significa isso? O telegrama?...

PRESTES - Estamos lutando em favor do Brasil e dos brasileiros.

OFICIAL - O major Siqueira dos Montes?...

ENTRA OUTRO OFICIAL. PORTELA APONTA A ARMA PARA SUA CABEÇA.

PORTELA - É melhor não tentar reagir.

PRESTES - É preciso acordar a soldadesca, ocupar a prefeitura e requisitar as armas dos provisórios de Borges de Medeiros.

PORTELA - Tentei contato com o tenente Siqueira Campos e o Capitão Juarez Távora, sem êxito.

PRESTES - Não se preocupe, Portela, eles não vão falhar. Acorde a soldadesca e encarcere os dois oficiais, já que não se convencerão em ficar do nosso lado.

ELES SAEM. PRESTES TIRA UM LENÇO VERMELHO DO BOLSO E AMARRA NO PESCOÇO.

Estação Ferroviária de Santo Ângelo construída pelo engenheiro militar Luiz Carlos Prestes, hoje Memorial Coluna Prestes 

PRESTES - Já é tempo de estancar o sangue brasileiro, já é tempo de fazer o governo respeitar a vontade do povo, já é tempo de restabelecer a harmonia na família brasileira, já é tempo de lutarmos não peito a peito, mas ombro a ombro, para restabelecermos a situação financeira do Brasil... Não queremos perturbar a vida da população, porque amamos e queremos a ordem como base do progresso. Podem pois estar todos calmos que nada acontecerá de anormal...

A MULTIDÃO APLAUDE FRENETICAMENTE.

O Monumento Coluna Prestes (1996) em Santo Ângelo/RS, obra do arquiteto Oscar Niemeyer, marca o ponto de partida da maior marcha da História da humanidade (1924/1927) 

ATO n⁰2 será publicado dia 17/01/2022

Luiz Paixão é diretor de teatro, dramaturgo, poeta e escritor

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Recomendamos a Leitura

Livro: "A Coluna Prestes - Marchas e Combates" de Lourenço Moreira Lima