Piaçaba e Acrescidos de Luiz Carlos Prestes Filho

Piaçaba e Acrescidos de Luiz Carlos Prestes Filho

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Dedico este Poema para Orquetra ao fundador da Cidade do Rio de Janeiro Aimberê,

ao saudoso escritor Antônio Fraga, que durante anos foi meu guia pelas ruas do Rio,

e ao amigo, compositor, Altay Veloso.

Luiz Carlos Prestes Filho

p o e s i a - t e x t o s - m ú s i c a

Poty Lazzaroto

i l u s t r a ç ã o

Luiz Eduardo de Oliveira

m a e s t r o - d i r e t o r m u s i c a l

"Я тоже веду войну, только не за пространство, за время.

Я сижу в окопе и отымаю у прошлого клочок времени"

Велемир Хлебников - "КА" - 1915

QUADRILÁTERO

Alexei Bueno é poeta

i n t r o d u ç ã o

Há um logradouro do Rio de Janeiro, que é, historicamente, o coração da cidade, sendo também o coração histórico de todo o país, local que abrigou a aldeia de Aimberê. Já se pode perceber, é a Praça Quinze de Novembro, nossa íntima e diária Praça Quinze. Destruída, num ato de suprema estupidez, a primitiva acrópole quinhentista, o Morro do Castelo, restou-nos aquela várzea que, no desembarque de Estácio de Sá, era a Praia da Piaçaba, na qual se instalaram os monges carmelitas, donos de um Terreiro do Carmo, depois Terreiro da Polé, depois, Largo do Paço, depois, Praça Dom Pedro I e finalmente Praça Quinze de Novembro.

"Nela habitaram um rei, uma rainha e dois imperadores. Nos seus arredores foi encarcerado e julgado Tiradentes. Nela o povo aclamou a Redentora a 13 de maio, e na Capela Real, a velha Igreja do Carmo, tocava o padre José Maurício Nunes Garcia. Nela Raul Pompéia assistiu, numa madrugada de novembro de 1889, uma dinastia imperial que embarcava silenciosamente para o exílio. E nela, mais permanente e constante que tudo isso, vêm deslizando há quatro séculos as sombras anônimas e efêmeras de todos os que habitavam esta cidade.

Se temos um breve e diminuto corpo que se esgueira pelas ruas, a cidade é um nosso segundo corpo, mutável e permanente. Com os anos, cada metro quadrado dessas íntimas vias, cada cunhal, cada janela, vão se transformando em testemunhas do que ali passamos, e essa simbiose não para de se fortalecer até a nossa desaparição. Tal amurada viu a nossa alegria, tal porta nosso desespero, aquela esquina a nossa vergonha. Uma cicatriz, um marca em cada pedra, à medida que envelhecemos somos de tal maneira a nossa cidade, existimos por ela como sua autoconsciência possível, que a destruição de uma parte sua nos dói como mutilação.

"Das ilusões humanas, uma das mais vãs e perenes é a da privilegiada atualidade, como se todos os indivíduos que já passaram pelo planeta não tivessem vivido no presente unânime, moderníssimo e urgente. Por isso, por que limitar nossa solidariedade aos companheiros de tempo, e não espalhá-la indiscriminadamente por todas as épocas? Gratuita, pois sua possível eficácia presente não é muito maior que sua impossibilidade passada, por que não sentirmos com profunda simpatia humana tudo o que já se viveu no tempo, reflexo espelhado do que, também inatingível, ainda se viverá? A História é uma matéria tão nobre para a poesia quanto a vida, o amor ou a morte, e talvez ainda mais completa, pois os estrutura a todos."

E é justamente nesta perspectiva, com a argúcia e o humor de um fotógrafo do imponderável que Luiz Carlos nos dá esses flagrantes verbais e musicais de um logradouro desaparecido e presente, fantasma vivo e cotidiano também admiravelmente retratado nos desenhos de Poty. E assim nós nos aventuramos, nós, fantasmas futuros, por esse quadrilátero repleto de História, entre os mendigos e bruxas do Arco do Teles, os monges do Carmo e Ordem Terceira, os guardas do Paço e aguadeiros do chafariz do Mestre Valentim, nesse chão soerguido de tempo, de onde vi sair certa vez, numa vulgar escavação municipal, balas de canhão, garrafas setecentistas, mandíbulas de cavalos e argolas de atracar, entre milhares de outros fragmentos de um viver desaparecido.

"Nosso corpo maior, nosso corpo comum, tal é a nossa cidade. E é ela que aqui vem retratada, nesta 'Piaçaba e Acrescidos'."

(fim do texto de Alexei Bueno)

Luiz Carlos Prestes Filho e Poty Lazzaroto

O livro:

Piaçaba e Acrescidos

poesia, texto e música - Luiz Carlos Prestes Filho

ilustrações - Poty Lazzaroto

naquela história

da baleia encalhada

o chafariz primitivo

da praia da Piaçaba

 

imaginação primeira da praça

que do mar seria anexada

 

o número quinze acrescido

não combina

confunde o seu código genético

 

Piaçaba

voltar para o útero

banhar-se

na imagem primeira do Rio

"A Praça 15 de Novembro, que já teve a denominação de Piaçaba, Terreiro da Polé, Largo do Carmo, Largo do Paço e Pedro I fica no Centro do Rio de Janeiro. Andar nela é como remontar um quebra cabeça histórico. Uma charada para quem pretende entender sua origem, ou melhor, a sua estruturação arquitetônica e urbana. Este logradouro fica exatamente entre as ruas 1º de Março e a Avenida Alfredo Agache, onde estão as estações das barcas que todos os dias saem para Niterói e para a Ilha de Paquetá. Do século XVI ficaram registros de baleias encalhadas no local.

Link para MOVIMENTO MUSICAL:

"Gênese Brasil"

https://www.youtube.com/watch?v=TJ5ZLFvrGS8

 passos curtos

bocas abertas

o avô e o neto

o seco e o úmido

dois equilíbrios numa bengala

passado e futuro duas escalas

 

logo ali

poluídas lágrimas de Portugal

caravelas

não movem mais

"Aqui podemos encontrar camadas e camadas de séculos acumuladas em causos e fatos. Muitas vezes, encontrar raros fragmentos que restaram após incêndios e criminosas demolições. O seu belo chafariz colonial resistiu a todas intempéries.

Link para o MOVIENTO MUSICAL:

Abissal e Praia da Baleia

https://www.youtube.com/watch?v=f-D2suatx0A&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=2

das mãos do Mestre Valentim

vieram os movimentos

da água doce do Rio

ao salgado cais do porto

que recebeu a família real

 

sua veia

em forma de pirâmide

no Atlântico afogou seu Nilo

 

agora calada

ela somente conhece

jatos de mijos

Link para o MOVIMENTO MUSICAL:

"Cais Pharoux"

https://www.youtube.com/watch?v=KVzYqM6ahE0&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=4

"Do berço do Rio, do Morro do Castelo, onde foi instalada a cidade de São Sebastião em 1567, nada restou. Foi arrasado em 1922. Toneladas de entulho foram usadas pela empresa Urbanização Carioca (URCA), para o aterramento e a construção de um bairro abaixo do Pão de Açúcar.

Link para o Movimento Musical:

"Íbis de Pedra"

https://www.youtube.com/watch?v=cWFzxT-LyGs&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=6

do berço do Rio

não resta

um só detalhe

nem se pode imaginar

arqueologia

é várzea

o morro do Castelo

 

símbolo do nosso início

se diluiu

pela Guanabara

em partes

migrou para Urca

"Muitas ruas foram engolidas pelas reformas nas proximidades da Praça 15.

na antiga rua Fresca

40 graus na cabeça

clapp

clapp

clapp

 

a luz invade

o meio-dia adentro

 

o antigo nome

evapora-se

clapp

clapp

clapp

 

o novo surge devagarinho

gotas de suor

clapp

clapp

clapp

rua Clapp

Link para Movimento Musical:

"Rua Fresca"

https://www.youtube.com/watch?v=WzpEj9F_KKM&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=5

"Na Antiga Catedral do Rio de Janeiro, a Igreja Nossa Senhora do Carmo, está o mausoléu subterrâneo de Pedro Alvares Cabral, falecido em 1520, que tem uma história intrigante. Em 1903, como parte da campanha nacionalista que dom Pedro II iniciara, em 1871, resolveu-se trazer a ossada de Cabral para o Rio de Janeiro. Mas, quando se fez uma prospecção do túmulo do descobridor do Brasil, em Portugal, na Igreja da Graça da cidade de Santarém, constataram que o jazigo abrigava restos mortais e de cinco homens, de uma mulher e duas crianças. Estava tudo misturado. Parte do material foi enviado para o Brasil. Outra parte, em 1961, foi enviado para a cidade de Belmonte, onde nasceu o descobridor do Brasil.

 

na igreja da Nossa Senhora do Carmo

arrancado do conforto da família

um pedaço de Cabral embutido na parede

"A origem da Igreja da Nossa do Carmo vem desde a primeira capela estabelecida na praça, no ano de 1761. Não tem similar a ela nas Américas. É a única igreja onde foram coroados dois imperadores – Dom Pedro I e Dom Pedro II – e sagrado um rei europeu – Dom João VI.

 

destinos tortuosos

segredos de nossas ruas

vultos coloridos

desconfiados sentimentos

que dançam

cantam

jogam

cartas do baralho

da intuição

 

o rei se foi

a rainha se foi

os imperadores também 

"O Convento do Carmo foi construído como um anexo da Antiga Catedral. Após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, que fugira de Lisboa durante a invasão das tropas de Napoleão, em 1807, o convento serviu de residência para Rainha Dona Maria I, “A Piedosa” ou “A Louca”. O contraste é grande desta edificação colonial com as torres da Faculdade Cândido Mendes, erguidas na década de 1970.

o Rio não tem compromisso

com a eternidade

sua mentalidade

de agradar a gregos e americanos

marca o desenho fumê-colonial

do Convento do Carmo

de onde Dona Maria a Louca

com o diabo

continua seu diálogo

alucinante

Sim a Rainha Dona Maria I, foi a responsável pelo processo e pela execução de Tiradentes. Ela enlouqueceu, definitivamente, em 1799. Para ela o diabo perseguia seus passos. Considerava um erro a corte portuguesa ter autorizado a perseguição aos jesuítas. Por isso, o Príncipe Regente, Dom João VI, nunca deixava sua mãe andar só a lugar nenhum, colocando um número grande de guardadoras a sua disposição. Quando o barulho durante suas passagens espantava os desavisados, o Principe Regente dizia: “Isso é Maria que vai com as outras”.

coração da Virgem Maria

chafariz sagrado

 

parto todos os dias

de águas douradas

esculpidas de amor

 

meia lua de ingenuidade

misticismos noviciado

"A capela do noviciado, da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, localizada imediatamente ao lado da Antiga Catedral, tem uma talha rococó do Mestre Valentim. O observador desde a entrada é envolvido por uma cascata dourada. Foram 20 anos que o artista dedicou a este trabalho.”.

por aqui

quando o roteiro dos trilhos

rasga o asfalto

o bonde

do inconsciente coletivo

nos leva

até os limites

da velha cidade que perdemos

Link para o MOVIEMTO MUSICAL:

"Primeiro Baile"

https://www.youtube.com/watch?v=mUOtWTvlooc&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=3

"No ano de 1757 uma esquadra francesa aportou no Rio. Em sinal de reconhecimento ao governador interino, Manuel Freire de Andrada, o almirante Flotte deu uma festa num dos navios. O governador, para retribuir a gentileza, mandou ornamentar a Casa dos Governadores, onde residia. Quando os convidados chegaram ao salão principal, tiveram uma surpresa, na festa só havia homens vestidos de mulher. Manuel Freire explicou os portugueses residentes, ciosos de suas esposas e filhas, não consentiram que elas comparecessem. O governador não viu outra alternativa senão convocar os rapazes que perambulavam pelo porto e vesti-los de mulher. Segundo o escrivão da esquadra francesa, os convidados se divertiram. Foi assim a primeira festa oficial do Rio de Janeiro.”.

é noite

no pátio vazio do Paço

silêncio

mistério

peixes

nas pedras seculares

 

foi aqui

o primeiro baile

oficial da cidade

franceses

navegantes musculosos

por falta de mulheres

mergulharam em corpos

morenos

dengosos

deliciosos

travestidos de longos

requintados de ouro

 

essa curiosas receita

do governador

faz até hoje

muita gente se morder

das experiências

do nosso primeiro baile

já um Gala Gay

"A Casa dos Governadores, que sediou o baile, é hoje a mais importante construção da Praça 15. Transformado em Paço Real, com a chegada da corte portuguesa em 1808, ela passou a Paço Imperial depois da Independência do Brasil e sediou a assinatura da Lei Aurea pela Princesa Isabel. Depois da proclamação da República, o prédio foi sede da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) até 1981. Atualmente é um centro cultural."

Link para o MOVIMENTO MUSICAL:

"Chapeleira"

https://www.youtube.com/watch?v=7ZUh07KxbN8&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=8

"Quem atravessa o Arco do Teles, entra na rua do Comércio. Logo no início, está o sobrado onde a cantora Carmem Miranda trabalhou como chapeleira."

antes do arco do triunfo

Carmem Miranda

no arco do Teles

desfilou seus trunfos

 

a travessa do Comércio

foi a passarela

da chapeleira dos balangadãs

abacaxis

bananas

 

pequenos detalhes

notáveis

 

Link para o MOVIMENTO MUSICAL:

"Dona Bárbara dos Prazeres"

https://www.youtube.com/watch?v=aXkSYzjn7zY&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=7

"No lado oposto do Paço Imperial, está na praça o Arco do Teles, entrada para a rua do Comércio. Ele faz parte de uma edificação de 1743, que abrigou o Senado no final do século XVIII. Conta a lenda que ali residiu a primeira bruxa brasileira, Dona Bárbara dos Prazeres, que começou a vida como meretriz e, na velhice, sobrevivia fazendo poções para rejuvenescimento com nada menos que sangue de bebês. Dizem ela vez por outra aparece por lá. Foi numa taberna localizada imediatamente após este arco que o príncipe Dom Pedro I conheceu seu melhor amigo e co-autor de nossa constituição, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça.”

sangue de crianças

brota meia noite nas paredes

a bruxa trabalha a receita

sobrevoa o quadrilátero

inicia o ritual da ceia

 

na mão fatal

a memória

a história

o rigor

 

para Bárbara dos prazeres

os vivos

não tem mais direito

de rejuvenescer

"São vários os monumentos erguidos na praça. Junto às barcas vemos uma imagem equestre de Dom João VI e a poucos metros o vulto rebelde do Almirante Negro, o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata. Mas a centralidade foi dada ao General Osório, herói da Guerra do Paraguai, patrono da Cavalaria Brasileira, que ali foi enterrado junto com sua mulher. A grade que cerca a estátua é feita das lanças e canhões tomados aos paraguaios e a escultura, também foi feita de bronze derretido dos canhões inimigos. Curioso que ele não está de botas. É que por problemas circulatórios, tinha os pés sempre inchados, o que o impedia de calça-las. O escultor Rodolfo Bernardelli optou por retratar o cavaleiro como ele costumava se apresentar, descalço. O exército, não concordou que um militar fosse eternizado sem sapatos e com isso chegou-se a um meio termo: a estátua foi calçada de mocassim.”

 

Bernadelli até que tentou

trabalhar a realidade

respeitar a natureza

descalça  doentia

do falso herói

 

mas o exército fez de Osório

sua Cinderela

 

(ilustração Poty)

"São milhares de pessoas que passam pela Praça 15 todos os dias. Um desfile de ilusões humanas de todas a classes sociais. O burocrata, o empresário, o trabalhador braçal e o desempregado. Moradores de rua se aglomeram a noite pelos cantos. Alguns desesperados e outros conformados.”

o vacilante

nem apagou o baseado

e começou a insultar

o lobista engravatado

no meio da onda urbana

da Primeiro de Março

 

seu corpo deitado no asfalto

flutuava

Link para o MOVIMENTO MUSICAL:

"Gênese Brasil nº2"

https://www.youtube.com/watch?v=WvQzSR4GZFY&list=OLAK5uy_nTkBa_YNiZ84hOdBErT_dezdgOObuhc5I&index=9

Epílogo de “Piaçaba e Acrescidos”

Rodrigo Lima Prestes - Poeta e Escritor

O livro musical “Piaçaba e Acrescidos” veio para mim em um momento interessante, em que estou começando a estudar João do Rio, um parceiro do autor de leituras do Rio de Janeiro, e da alma das ruas e praças. Realmente, é algo valioso a memória da cidade, que no nosso caso se confunde com a memória do país, e dos próprios Impérios de Portugal e do Brasil. Sinto que essas contextualizações trazem um sentido de identidade muito poderoso, nos trazendo um espectro histórico humano muito vasto. Todos nós que nascemos aqui convivemos nesses espaços onde viveram imperadores e assassinos, centenas de milhares de escravos que eram submetidos às mais degradantes condições de vida, e a aristocracia que deles se servia para a manutenção de seus luxos.

"Quantas histórias de navegadores, de comandantes de exércitos, de religiosos e positivistas, de misturas entre as crenças de matrizes africanas, indígenas e de imigrantes de outras partes do mundo já tiveram lugar aqui. Que território rico o nosso! Certamente não só rico de coisas boas, mas também de podridão e miséria, mas afinal rico de humanidade, da nossa condição de homens e mulheres que buscam nessa terra lutar das formas que podem, buscar à sua maneira algum tipo de felicidade, errando e machucando uns aos outros sim, mas também rindo, escrevendo poemas, dançando, trabalhando por causas nobres e sem dúvida amando.”

Nas caminhadas ao Aterro do Flamengo, costumo ir ali para aquelas pedras no canto direito, caminho para Botafogo, e de lá olho a Baía. Que coisa tremenda ela é. E imaginar que por milênios a fio ela foi palco da mais extraordinária vida, hoje em grande parte dizimada pela insanidade em que nossa civilização se afundou. Imagino a chegada dos portugueses, as primeiras edificações construídas, quando os índios ainda dominavam tudo. Depois as guerras que se sucederam, as doenças que foram dizimando etnias inteiras, e a escravidão indígena, tudo foi mudando a cara do lugar. Sem dúvida impérios se sustentam com violência e muito sangue. Mas quem somos nós para julgar os que nos precederam, se sem eles nem poderíamos estar aqui? Nesse sentido, me parece vital conhecer nossa história. E por isso fiquei feliz este livro.

"Os poemas, curtos, são muitas vezes quase aforísticos, simples, e nesse sentido parecem construir um sentido junto às belas imagens do Poty. Mas para mim a grande riqueza são mesmo as histórias, os causos, da nossa história brasileira e carioca. É claro que eles não se sustentariam sozinhos, mas como notas dos poemas e das imagens dão vida a eles. Me parece que os poemas sozinhos não teriam muita força; as imagens sozinhas seriam apenas gravuras bonitas; mas com as histórias tudo ganha uma dimensão nova, de sentimento de identificação especialmente para os que aqui nasceram.”

E num mundo que parece muitas vezes querer esquecer sua história e só buscar o novo, o avanço econômico e tecnológico, o desenvolvimento como proposta de identidade, muito bem vinda é essa recapitulação poético-histórica. Ela traz uma confortadora proposta de nos desligarmos um pouco das notícias massacrantes da mídia, que parecem querer nos desestabilizar, e olhar de novo para as bases de quem somos, de onde viemos, e de como estamos cercados de vida pulsante por onde andamos.

(fim do texto de Rodrigo Lima Prestes)

 

 

PIAÇABA E ACRESCIDOS

letras das melodias do poema para orquestra

 

@luizcarlosprestesfilho

 

(1) GÊNESE BRASIL 

 

Aqui nasci, esse é o meu quintal 

Essa praça é a bolsa d’água 

Meu cordão umbilical

 

Meu terreiro da Polé 

Que me fez o mundo rodar 

Que me deu asas 

Para tudo e todos perdoar

 

Mora aqui o meu cachimbo 

E o vento que estraçalha 

O mel e o sal das minhas botas e das sandálias 

 

Meu terreiro da Piaçaba 

Que me fez o mundo rodar 

Que me deu asas 

Para tudo e todos perdoar

 

Silêncio, olha o batuque 

Ele traz solenes palavras 

A voz da minha terra que se chama Guanabara

 

Meu terreiro do Carmo 

Que me fez o mundo rodar 

Que me deu asas 

Para tudo e todos perdoar

 

Por aqui passaram reis, imperadores

Milhares como escravos 

Outros, pomposos cruéis senhores

 

Meu terreiro Dom Pedro 

Que me fez o mundo rodar 

Que me deu asas 

Para tudo e todos perdoar

 

@todamericaediçõesltda

 

(2) ABISSAL

 

Passos curtos – avô e neto 

Bocas abertas, passos incertos

Dois equilíbrios, numa bengala

Passado e futuro, duas escalas

 

O seco e o molhado de braços abertos

O futuro e o passado são incertos

Nas escadas do porto a rainha maldita

O suor dos escravos, a História medita

 

Não são somente de Portugal

As águas do mar e o seu sal 

O passado e o futuro distância abissal

O hoje e o agora que é imortal

 

@todamericaediçõesltda

 

(3) MORRO DO CASTELO

 

Do morro do Castelo

Só resta a Esplanada

Do berço do meu Rio

A paisagem, Guanabara

 

A acrópole sucumbiu

Suas portas e janelas

Tudo se diluiu 

Abracadabra 

 

Nada ficou 

Nem mato, nem cachorro

Pra Urca migrou 

O que restou do morro

 

@todamericaediçõesltda

 

(4) ÍBIS DE PEDRA

 

A Íbis de Pedra, levantou voo

Sobre a Guanabara asas elevou

Todo peso na hora ficou para trás

Seu voar agora leveza de fractais

 

Pão de Açúcar sua pedra levantou voo

Toda Guanabara revoltou

Toda sua História ficou pra trás

Seu voar a fora Leveza de fractais

 

@todamericaediçõesltda

 

(5) PRIMEIRO BAILE

 

É noite no Paço

A lua ilumina o terraço 

Foi aqui o primeiro 

Baile da Cidade 

Navegantes franceses 

Em danças circulares 

Senhoras, meninas, donzelas

Morenas, dengosas, deliciosas

 

Debaixo das saias 

Meninos da vida 

Morenos, dengosos 

Deliciosos

 

Curiosa receita do então vice-rei

Nosso baile primeiro - um Gala Gay 

Travestidos de longos 

Mergulharam nos corpos 

Navegantes franceses 

E nossos meninos do porto

 

@todamericaediçõesltda

 

(5) RUA FRESCA

 

Na antiga rua Fresca

40 graus na cabeça

O relógio não é de areia

É de gotas de suor

No passado rua Fresca

Hoje um túnel atravessa Clapp... 

Caiu a Perimetral

A História da rua Fresca

Pode parecer burlesca

Mas um dia ela foi 

De pedra e cal

 

@todamericaediçõesltda

 

(6) PHAROUX

 

Louis Dominique 

Amigo de Napoleão 

Que veio para o Rio 

Era um tanto canastrão

 

No seu hotel 

No cais Pharoux 

Para o príncipe Dom Pedro

Fez um quarto todo azul

 

As incontáveis gaivotas 

Que por lá sobrevoaram 

Vinhos franceses 

Bebericaram

 

Um dia Dominique 

Voltou para Paris 

Abandonou as gaivotas (...que ainda estão lá)

Do cais Pharoux

 

@todamericaediçõesltda

 

(7) CHAPELEIRA

 

Na janela do sobrado

Saudades de Portugal

A chapeleira entoava

Todo dia seu madrigal

 

A travessa do Comércio

Se enchia para ouvir

A menina que um dia

Todo mundo ia descobrir

 

No lugar de um chapéu

Vestiu bananas, abacaxis

No braço os penduricalhos

Chamaram os pedidos de bis

 

Na travessa do Comércio

Foi que tudo começou

Foi daquela ruela

Que ela o mundo conquistou

 

@todamericaediçõesltda

 

(9) Dona Bárbara

 

A vaidade é o ponto de partida

Da receita, nela o desejo de volta

Para o que fomos um dia

Sem as rugas e os fracassos

Que tivemos que aceitar

 

Dona Barbára sobrevoa

A praça... para captar

Poções da vaidade humana

Para no Arco do Telles

Com sangue misturar

 

@todamericaediçõesltda

 

(10) A PRAÇA DA BALEIA

 

O corpo daquela baleia

Encalhada no centro do Rio

Desenhou os limites da praça

E o tamanho dos seus desafios

 

Porque Quinze, porque Piaçaba

Dom Pedro, Polé?

Tinha que ser da baleia o nome

Desse pedaço do Rio

 

O chafariz da praça

Do Mestre Valentim

É o chafariz da baleia

O passado nunca tem fim

 

@todamericaediçõesltda

 

(11) GÊNESE BRASIL

 

Aqui nasci, esse é o meu quintal

Essa praça é a bolsa d’água

Meu cordão umbilical

 

Meu terreiro da Polé

Que me fez o mundo rodar

Que me deu asas

Para tudo e todos perdoa

 

Mora aqui o meu cachimbo

E o vento que estraçalha

O mel e o sal das minhas botas e das sandálias

 

Meu terreiro da Piaçaba

Que me fez o mundo rodar

Que me deu asas

Para tudo e todos perdoar

 

Silêncio, olha o batuque

Ele traz solenes palavras

A voz da minha terra que se chama Guanabara

 

Meu terreiro do Carmo

Que me fez o mundo rodar

Que me deu asas

Para tudo e todos perdoar

 

Por aqui passaram reis, imperadores

Milhares como escravos

Outros, pomposos cruéis senhores

 

Meu terreiro Dom Pedro

Que me fez o mundo rodar

Que me deu asas

Para tudo e todos perdoar

 

@todamericaediçõesltda

Luiz Carlos Prestes Filho é formado em Direção e Roteiro de Filmes Documentários

PIAÇABA E ACRESCIDOS

ISBN-978-65-86251-39-1

@luiz carlos prestes filho - todos diretos reservados ao autor - é proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem prévia autorização do autor

@Todamérica Edições LTDA

MEMÓRIA CRÍTICA

Piaçaba e Acrescidos"

Referências Musicais

Nunca ouvi nada igual a obra "Piaçaba e Acrescidos", de autoria de Luiz Carlos Prestes Filho. Mas, por outro lado, parece que ela é minha velha conhecida. Dentro de sua estrutura visualizei centenas de referências de muito do que interpretei na Orquestra Sinfônica Nacional (OSN), ao longo de 30 anos. O movimento "Gênese Brasil n⁰1 - Evocação" me emocionou a ponto de trazer lágrimas. É uma introdução com narrativa

forte e tecnicamente bem realizada. Ao longo dos outros oito movimentos fiquei aguardando o retorno desta melodia inaugural. O que acontece no movimento n⁰9: "Gênese Brasil n⁰2 - Grande Final". A obra "Piaçaba e Acrescidos" é uma caminhada musical. Seus movimentos se complementam, todos estão interligados pelos mesmo fio condutor, através de dissonâncias e consonâncias sonoras. Muito da música brasileira de concerto que conheço e toquei está nesta obra.

Miquelina Jorge é Violinista aposentada da Orquestra Sinfônica Nacional

***

Elementos Poliestilísticos

A obra *"Piaçaba e Acrescidos"* de Luiz Carlos Prestes Filho é marcada pelo poliestilismo. Nos primeiros movimentos ela é absolutamente tonal, traz frases do barroco de um Padre José Maurício, e frases românticas de um Carlos Gomes. O movimento "Gênese Brasil n⁰1" nos convida para uma caminhada lírica - lúdica. Nos primeiros seis movimentos ele retrata as terras, que viriam a formar o Brasil, sendo invadidas pelos portugueses. Retrata o heroísmo da resistência do líder da Confederação do Tamoios, Aimberê; a escravidão; lugares e acontecimentos da colônia e do império que fomos. A partir do movimento n⁰7, "Íbis de Pedra", ele traz frases musicais indígenas e começa a introduzir elementos da atonalidade que termina triunfando. Destaque para "Dona Bárbara". Neste, que é o movimento n⁰8, vemos a desordem urbana do Rio de Janeiro de hoje; a criminosa remoção do Morro do Castelo; e os fragmentos da nossa Historia que sobreviveram. Aqui me vem à lembrança o moderno José Siqueira e o contemporâneo Ronaldo Miranda. Com apuro técnico, aos poucos, o tema romântico volta. Finalmente, em "Gênese Brasil n⁰2" acontece a afirmação da beleza e da grandeza do Brasil.  O compositor através do poliestilismo ampliou as fronteiras do espaço e do tempo, abraçou os cinco séculos que formaram a nossa identidade nacional.

Rosária Filgueiras, é Pianista, Presidente da Cia Bachiana Brasileira

***

Cadência Apaixonante

A obra de Luiz Carlos Prestes Filho, "Piaçaba e Acrescidos" é muito musical. Me apaixonei pela cadência. As melodias estão todas interligadas, por vezes parece que existe somente uma melodia que atravessa variações múltiplas. Senti que o autor persegue insistentemente um tema que tenta escapar. Tema que parece que escapa, mas volta com todo o seu esplendor. A narrativa do libreto traz uma pesquisa original sobre a trágica História da formação de nosso país. Por isso, senti falta de mais tensão e violência. O autor, na maioria das vezes, é muito cordial, diria até que ele foi muito gentil frente as atrocidades que o povo viveu ao longo da História. Cada movimento merece vozes de um canto coral que pode ter a interferência de sopranos e contraltos.

Miguel Proença, é Pianista de renome internacional, atuou em todo o Brasil e em todo o mundo, como camerista e solista

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Caminhadas Sonoras

Esplendorosa a obra "Piaçaba e Acrescidos". Os arranjos estão bem resolvidos. A tecnologia disponível que para gravação foi  utilizada de maneira sutil e exata. Não tem exageros. A ideia de narrar a História do Brasil através da música recebe meu: "Bravo!" Merece - também - caminhadas sonoras pela Praça 15 de Novembro que fica no centro da cidade do Rio de Janeiro. Local onde nasceu a nossa nação, espaço urbano hoje tão esquecido, apesar de ser intensamente usado.

Lucas Bueno, é Compositor, Intérprete e Instrumentista

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Clássico, Popular e Arrojado

Entre a tradicional harmonia da música erudita e a modernidade instigante do atonal, transita este surpreendente trabalho musical do compositor Luiz Carlos Prestes Filho: "Piaçaba e Acrescidos". Subdividido em vários movimentos a música de Prestes Filho inova, pois mistura frases quase conhecidas com achados melódicos que você nunca ouviu e que um dia, talvez, vá ouvir. Trata-se de uma corajosa composição clássica, popular e arrojada que vale a pena conferir. Eu conferi e aplaudi. Parabéns ao autor.

João Roberto Kelly, é Compositor e Professor de harmonia

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Nostalgia

Acabei de ouvir todos os movimentos da obra "Piaçaba e Acrescidos". As melodias singelas e tocantes capturam bem a nostalgia das ‘três raças tristes’. A variedade e sutileza da percussão traz um colorido especial e abre espaço para a utilização do rico manancial percussivo do Brasil. A estrutura está muito bem acabada também, sem repetições desnecessárias. Sem dúvida, se ainda trabalhasse como regente, teria todo interesse em interpretá-la. Adoraria botar a mão na massa, juntamente com Luiz Carlos Prestes Filho, e ver a música nascer fisicamente. Espero que o autor continue criando, compondo, adaptando, arranjando valendo-se da riquíssima tradição musical do Brasil. Parabéns mais uma vez e mantenha-me por favor informado sobre a estreia da peça.

Leandro Carvalho, é Maestro

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Música Imagética

Valsas, afetos e música imagética, pelos caminhos da intuição. Esta é a síntese de "Piaçaba e Acrescidos". Luiz Carlos Prestes Filho é um criador-produtor nato, um homem-show, contador de histórias, compositor de música,  e produtor de espetáculos. Bravo!

Claudia Castro é Flautista, Professora de Música

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Piaçaba e Acrescidos

Uma viagem ao passado da Praça 15, o velho Coração do Rio de Janeiro

 

Depois da tentativa de fundação da cidade no Morro Cara de Cão, na boca da Foz/Baía, foi na Praia de Piaçaba, hoje Praça 15, que surgiu a outra versão de minha cidade. O Morro Cara de Cão ainda está lá, mas, infelizmente, o Morro do Castelo desapareceu. Luiz Carlos Prestes Filho (LCPF) nos conta esta história através da poesia, textos e música em seu extraordinário livro musical “PIAÇABA E ACRESCIDOS”.

"Os poemas, curtos, são muitas vezes quase aforísticos, simples, e nesse sentido parecem construir um sentido junto às belas imagens do Poty. Mas para mim a grande riqueza são mesmo as histórias, os causos, da nossa história brasileira e carioca. É claro que eles não se sustentariam sozinhos, mas como notas dos poemas e das imagens dão vida a eles. Me parece que os poemas sozinhos não teriam muita força; as imagens sozinhas seriam apenas gravuras bonitas; mas com as histórias tudo ganha uma dimensão nova, de sentimento de identificação especialmente para os que aqui nasceram.”

Nobres e mendigos, mercadores e escravos, artistas e religiosos moraram ou passaram pela Piaçaba, Terreiro da Polé, Largo do Carmo ou Largo do Paço e Pedro I, hoje Praça 15. Vejam a CHAPELEIRA que morou num de seus becos: “Lá na janela do sobrado/Saudades de Portugal/A chapeleira entoava/Todo dia seu madrigal/A travessa do Comércio/Se enchia para ouvir/A menina que um dia/Todo mundo ia descobrir/No lugar de um chapéu/Vestiu bananas, abacaxis/No braço os penduricalhos/Chamaram os pedidos de bis/Na travessa do Comércio/Foi que tudo começou/Foi daquela ruela/Que ela o mundo conquistou”. O nome dela era CARMEN MIRANDA.

Luiz Carlos Prestes Filho revisita os personagens ligados a este lugar mágico: do índio AIMBERÊ, segundo o poeta o verdadeiro fundador do Rio de Janeiro, ao Almirante negro JOÃO CÂNDIDO. Ou de MESTRE VALENTIM a JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA. “Aqui nasci, esse é o meu quintal /Essa praça é a bolsa d’água /Meu cordão umbilical”. Acompanho a afirmativa do historiador ALESSANDRO VENTURA DA SILVA quando ele afirma que a obra indica “sem reticências um lugar que é patrimônio do Brasil e que se oferece ao conhecimento através das descrições literárias, pelas pinturas e pelas composições musicais.”

A música de LCPF é fluente, natural, pontuando com propriedade as qualidades do texto. O Diretor Musical é o Maestro LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA. As notáveis ilustrações de POTY LAZZAROTO aproveitam as sugestões das fibras vegetais da piaçaba. A música, do próprio poeta, emoldura este belo Oratório, revelando um outro talento de LCPF, o musical, além de denunciar a sua sólida formação cinematográfica. O Livro-Oratório nos traz de volta uma trajetória poética do coração histórico do Rio de Janeiro e que, hoje, está totalmente transfigurado. A vida é assim mesmo: tudo muda. A propósito, o poeta/músico/cineasta ironicamente afirma que “o Rio não tem compromisso/com a eternidade/sua mentalidade/de agradar a gregos e americanos/marca o desenho fumê-colonial/do Convento do Carmo/de onde DONA MARIA a LOUCA/com o diabo/continua seu diálogo/alucinante. ” Com uma certa nostalgia, que também é a minha de carioca da gema “do século passado”, o artista conclui que “do berço do Rio/não resta/um só detalhe/nem se pode imaginar/arqueologia/é várzea/o morro do Castelo/símbolo do nosso início/se diluiu/pela Guanabara/em partes/migrou para Urca.”

Eu ousaria discordar do Poeta. Afinal de contas ainda estão lá a fachada do Convento das Carmelitas, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, a Igreja da Santa Cruz dos Militares, o Chafariz e as Talhas em Madeira do MESTRE VALENTIM, o Paço Imperial, a mesma rua Direita (hoje rua 1º de Março), o Arco do TELES e, à noite, algumas almas, de escravos e de senhores, que perambulam por lá desde o século XVI. Tudo isso tendo como cenário a Baía de Guanabara (esta ninguém tasca). Agora, se juntaram a esta multidão de mortos e vivos, os moradores de rua (nem mortos, nem vivos).

Ricardo Tacuchian é Compositor, Maestro e Professor. Foi presidente da Academia Brasileira de Música (ABM)

Réquiem à Antiga Piaçaba:

dos indígenas confederados à Praça Quinze contemporânea.

Alessandro Ventura da Silva é Historiador

 

Há um dogma acerca do loteamento central que deu esteio aos acontecimentos políticos nos anos iniciais da incursão portuguesa no Rio de Janeiro. De acordo com esta doutrina, os pedestais de Estácio e Mem de Sá como fundadores da cidade teriam sido erguidos sobre fundamentos sólidos, assim como era digna de registro nos anais dos acontecimentos políticos da cidade, a irrefutabilidade da Urca como sítio fundante da cidade do Rio de Janeiro. De todo modo, na sequência aparente dos acontecimentos se disfarça um problema histórico a ser considerado, que é tanto o da emergência de outros lugares como matrizes dos eventos políticos e bélicos do período de constituição da cidade quanto o do silenciamento de figuras importantes ao longo da história. Prova desta leitura está no fato do arco da história ter tendido para logradouros que orbitavam em torno da atual Praça Quinze de Novembro, inicialmente Praia da Piaçaba. Diante de tantos fatos, seria instigante propor a idéia da Praia Piaçaba, Praia do Peixe, Terreiro da Polé, Largo do Carmo e arredores, -as distintas nomeações que recebeu a atual Praça-, como logradouros que estruturaram, plasmaram e se constituíram durante séculos em eixos importantes da vida política, social e cultural de toda história do Rio de Janeiro.

No momento em que os colonos ensaiavam a escrita dos capítulos iniciais da invenção da América Portuguesa, o acidente geográfico atualmente desaparecido, a Praia da Piaçaba, foi o teatro onde foram germinadas as tensões que mais tarde eclodiriam em outras partes do globo. A violência que marcaria os confrontos entre as distintas concepções religiosas na Europa foi antecipada aqui em mais de século pelos representantes dos projetos de dominação econômica, política e religiosa franco-portuguesa. O arrebatamento edênico das primeiras impressões cederam lugar a uma guerra sanguinolenta em que foram vitimizadas centenas de homens e mulheres que pelejavam a favor e contra o direito de exploração do território. Neste quadro, a literatura histórica dá conta de que em 1555, enviado pelo conde de Coligny, o francês Nicolau Durand de Villegaignon invadiu o Rio de Janeiro com dois navios com aproximadamente seiscentos homens, entre católicos e protestantes[ii]. Esses homens se instalaram numa das ilhas da Baía da Guanabara, praticamente em frente a Piaçaba, que denominaram França Antártica, hoje Ilha de Villegaignon. Ali construíram o Forte de Coligny, para enfrentar a reação portuguesa. Esse foi um período de intensos conflitos entre as diversas propostas de administração territorial[iii].

Como espaço intercomunicante entre poderio bélico e os eventos de natureza política, a região da Piaçaba vê emergir umas das maiores resistências às pretensões européias em dominar o território, a personagem guerreira de Aimberê, como também a defenestração da autoridade territorial de  figuras como Estácio de Sá. Os ameríndios situados à costa de São Sebastião, confederados sob o nome de Tamoios, deram demonstrações de grande habilidade para agenciar a disputa entre os franceses e portugueses e pautá-las sob seus próprios termos[iv]. O clérigo quinhentista Simão de Vasconcelos, autor da obra Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brazil, e responsável por parte das informações disponíveis sobre o episódio, caracteriza a coalizão entre ameríndios e franceses como uma “confederação” que contava com um cacifado poderoso como Cunhambebe e Aimberê. Por sua vez, Jean de Léry, em Histoire d’un voyage au Brésil, se refere aos ameríndios de forma quase idêntica ao considerá-los como “seus confederados".

É digno de registro o fato da liderança de Aimberê na Confederação ter forçado os portugueses a repensar suas estratégias de dominação territorial. Numa dessas menções, o Padre Manuel da Nóbrega em carta dirigida ao Infante Dom Henrique de Portugal forneceu indícios de preocupação sobre a necessidade de reconfiguração da cidade: ‘Parece muito necessário povoar-se o Rio de Janeiro e fazer-se nele outra cidade”[v]. De igual modo, era na capacidade de articulação dos ameríndios que Pierre Clastres desenvolveu sua tese sobre a sociedade contra o Estado; numa de suas aplicações, Clastres se refere à Aimberê como um chefe de guerra com notáveis habilidades de pactuação supra-locais. De acordo com Beatriz Moisés-Perrone, outro especialista descreve que “aos poucos, durante quase dois anos, debaixo de tiros e flechas ervadas, sob o governo do capitão-mor Estácio de Sá, a cidade constituiu-se formalmente”[vi]. Depreende-se que a agitação bélico-política associada à desordens do pós-invasão luso-francesa às margens da Piaçaba esbarrou na complexidade da resistência de uns dos personagens mais fascinantes do Brasil do século XVI.

Isto posto, se as estratégias de Aimberê reduziram o escopo de manobra e obrigou Estácio a refundar de uma cidade que já existia anteriormente, o século XVII viu a Piaçaba mudar de nome, mas sem perder importância como torrão sócio-político e cultural. Contíguo à margem, do lado esquerdo, foi erguida a ermida de Nossa Senhora do Ó, o que por alguns anos deu à ao núcleo original do Rio de Janeiro o nome de Terreiro do Ó. Maior marcador da história brasileira, a faceta escravocrata do Brasil colonial se revelava no espetáculo do açoitamento de seres humanos de origem africana que foram trazidos para o regime servil na América Portuguesa. A expansão da força de trabalho africana gerou efeitos deletérios para a sociedade colonial: as revoltas dos escravizados. Em consequência, a necessidade de imposição de controle fez com que a região fosse acrescida de sua primeira construção coercitiva: um Pelourinho. Esse acréscimo, para além da alteração toponímica, a mudança de nome para Terreiro da Polé, se tornou o lugar onde noturna e diuturnamente a dignidade humana era devastada através do açoitamento público de africanos[vii].

O fato histórico deste espaço ter funcionado como teatro da violência colonial escravista não impediu que o Terreiro da Polé estivesse arquiteturalmente confraternizado com o poder religioso. No século XVII, em meio às cenas de negros em farrapos sendo chicoteados, foram erguidas instituições como o convento e as igrejas da Ordem Terceira do Carmo. A presença dessas instituições neste perímetro citadino foi um dos motes funcionais para a alteração do nome da área para Largo do Carmo. A normalização da convivência de escravidão e poder religioso ganhou ainda mais monumentalidade simbólica em 1770 com a construção neste mesmo logradouro da primeira Sé do Rio de Janeiro: é a instituição onde repousa os restos mortais de Pedro Álvares Cabral.

Este fato coloca o Largo do Carmo sob um ângulo ainda mais histórico-político. Lugar de tortura e castigos brutais públicos, do século XVI até o início do século XIX, precisamente na Praia do Peixe, este perímetro pode ser considerado como um dos principais locais de desembarque de africanos das Américas. Antes de serem submetidos ao regime servil compulsório, os trabalhadores forçados recém chegados eram negociados na Rua Direita, atual rua Primeiro de Março, num estranho espetáculo público. De acordo com fontes históricas do período, era justamente ali na Praia do Peixe que se praticava “o terrível costume de tão logo os pretos desembarcarem no porto vindos da costa africana, entrarem na cidade através das principais vias públicas, não apenas carregados de inúmeras doenças, mas nus[viii]". Por mais que essa tenha sido a aposta para o enriquecimento da elite colonial brasileira, o quadro em que negros e negras maltrapilhos, moribundos, carregados de moléstias e despidos vagassem em pleno centro urbano do Rio de Janeiro acabou por afetar a sensibilidade de membros da elite do vice-reinado, e em 1774, foi estabelecida uma nova legislação para a transferência do mercado de escravos (sic) para a região do Valongo, mais ao norte da região central[ix].

A sucessão dos acréscimos morfológicos ocorridos no espaço refletiam a magnificação das funções que a cidade do Rio de Janeiro foi adquirindo no contexto brasileiro e internacional[x]. A inauguração do primeiro cais da cidade do Rio de Janeiro, posteriormente Cais do Pharoux, reflete em parte este movimento. O principal embarcadouro da cidade teve que adequar-se às transformações necessárias à majoração das cifras do comércio, tráfico de pessoas e de produtos que singravam os mares indo e vindo de diversos países. Ainda em atendimento às necessidades de conformação das estruturas portuárias às novas demandas da cidade, o ano de 1789 viu ser erguido um chafariz piramidal na beira do cais, rubricado por Mestre Valentim. A função do Chafariz era abastecer com água as embarcações que ancoravam próximas ao cais. Neste quadro de metamorfoses intensas, o local passou a ser chamada de Largo do Paço pois ali se encontrava o edifício que foi residência dos Governadores Gerais (1743), dos Vice-Reis (1763), da Corte Real portuguesa (1808) e do Império (1822).

O Terreiro ou Largo da Paço já vinha se tornando um logradouro dos mais valorizados na região central da cidade, quando por iniciativa de Marquês de Pombal, a partir de 1763 o Rio passou a condição de capital do vice-reino do Brasil. Porém, o Largo do Paço foi o local de desembarque da Corte Real Portuguesa e sua comitiva em 1808. Efeito dos desdobramentos do tabuleiro geo-político europeu, a presença da corte transformou o Rio de Janeiro num caso específico no planeta: encravado no sul do continente americano, o Rio de Janeiro se tornou capital de um Reino europeu, a única capital européia cujo endereço era o litoral atlântico ao sul do continente americano. Dado que a oficialidade administrativa estava praticamente circunscrita a antiga Piaçaba, é difícil encontrar uma comarca colonial com tanta capitalidade político-administrativa. Assim, o Largo do Carmo vê sua importância reforçada como residência administrativa do príncipe-regente e habitação de parte expressiva dos membros da esquadra real.

Com todas as transformações no estatuto político-administrativo da cidade do Rio de Janeiro, o alvorecer do século XIX viu o poder religioso referendar o Largo do Paço como perímetro simbólico-representacional do poder político. A começar pelo impacto simbólico do desembarque de Dom João VI no Largo do Paço em 1808, Ricardo Bernardes sugere que este marco territorial foi ainda mais dignificado na execução pelo regente Padre José Maurício Nunes Garcia de um Te Deum bem no momento da chegada do Príncipe, na Igreja Nossa Senhora do Monte do Carmo[xi]. Após a morte de Maria I, teve lugar a sagração de Dom João VI como rei de Portugal na cidade do Rio de Janeiro em 1816, na Igreja do Carmo, em pleno Largo do Paço. Esta mesma igreja, no lugar que já foi a Praia da Piaçaba também sediou as cerimônias de sagração dos imperadores Pedro I e Pedro II. A julgar por todas essas evidências históricas, é improvável que o Largo encontre sítio correlato nas Américas: na Antiga Sé foi estendido o arco histórico-temporal que guarda desde os restos mortais de Pedro Álvares Cabral até a Sagração dos Imperadores do Brasil.

Não obstante o peso simbólico desses rituais, verdade é que a vida cotidiana do Largo do Paço não era constituída apenas de cerimonial político-religioso. Pompas à parte, esses eventos eram mais exceção do que regra. Viajantes do período testemunham um cenário muito menos nobilitado em que “chega o escravo ao Brasil. O que se salva sobe o pontavante da Alfândega para receber o imposto fiscal, que é o selo com que a civilização no país tributa o braço que vem trazer à terra o bem-estar e a fartura. É um esqueleto que mal se põe em pé, coberto de chagas e vermina”[xii]. Sobre a funcionalidade da mesma região do Largo e arredores no trato com o sistema escravocrata, outro testemunho dá conta de que os africanos “antes viviam disseminados pelas ruas centrais, depois de desembarcados na Alfandêga, nos fundos da rua Direita - e conta-nos o vice-rei que eram como «animais selvagens», nus, cheios de molestias, e de tal maneira que as pessoas honestas não se atreviam a chegar nas janelas”[xiii]. A impiedosa exploração escravista encontrou na região do Largo o mínimo de estrutura econômica que assegurava o cortejo de africanos Minas, Nagôs, Benguelas e Iorubás. Este também foi o sítio, que passava pelo Arco dos Teles e rua dos Mercadores até a chegada na Alfândega, onde os africanos eram taxados como mercadorias, o imposto para o Brasil, destinado às melhorias e aperfeiçoamento desta civilização.

O processo de desagregação da aparelhagem escravista despejou no Largo do Paço o contingente populacional que teve o pior ponto de partida na transição do regime de trabalho servil para o esquema de trabalho assalariado. Apesar dos estudiosos e setores de movimentos sociais terem acertadamente direcionado suas análises dos efeitos da assinatura da Lei Áurea na resistência escrava, não deixa de ser impressionante a confirmação do Largo do Paço como lócus que amalgamou as lutas desde os indígenas com Aimberê até a culminância da resistência negra que obrigou as elites a formalmente abolir a escravidão. Os registros fotográficos da assinatura da Lei Áurea deixam entrever tanto uma faixa do Morro do Castelo quanto uma multidão ávida de esperança. O Morro do Castelo, não o Cara de Cão, Morro fundante da cidade historicamente tenaz, resistente e combativa, o Morro do Castelo que ao longo da história abrigara muitas das comunidades negras, teve a mesma fortuna das tópicas pelas quais as camadas populares criam algum tipo de apego: a destruição numa reforma urbanística em 1922. Em suma, a natureza degradada que margeia a antiga Praia da Piaçaba e atual Praça Quinze configura o testemunho das diversas invasões que dizimaram as populações nativas e cujos benefícios são difíceis de encontrar. Mas há o testemunho do Convento, as Igrejas e Paço Imperial que certificam o vínculo do poder religioso e político. Atualmente o século XIX está representado nos monumentos erguidos em homenagem ao General Osório e a Dom João VI. Este último foi sagrado em uma das igrejas situadas na Praça, aquele foi buscar glória nas ruínas do povo do Paraguai. Mas a Praça Quinze alberga um monumento em homenagem a um militar que lutou pela dignidade da pessoa humana cujo teatro de luta teve lugar bem às margens da antiga Praia da Piaçaba, atual Praça Quinze de Novembro: João Cândido, que com Aimberê, se tornou o símbolo de luta política contra a arbitrariedade e aviltamento praticados no atual território do Brasil desde o século XVI.

Materialização simbólica da riqueza sócio-cultural e política, a antiga Piaçaba e atual Praça Quinze é plena de evocação literária, musical e estética. Dado que o espaço foi se firmando como o teatro de diversos atores sociais em conflito, este perímetro se prestou a inspirar pintores, literatos e compositores. Da envergadura de Gonçalves de Magalhães poetizando as batalhas da Confederação dos Tamoios às pinceladas da tela de Rodolfo Amoedo pode-se sentir a proximidade das múltiplas cidades que foram semeadas ao longo da história deste espaço. Em grande medida contempladas em seus dramas historicos-políticos, algumas obras como o próprio poema de Magalhães, "Confederação dos Tamoios", o "Oratório Piaçaba e Acrescidos" de Luiz Carlos Prestes Filho, e os quadro de Jean-Baptiste Debret e Heitor dos Prazeres com vistas para o Largo, parecem transformar o espaço originário da Piaçabas num prisma integral das diversas temporalidades da cidade. Nessas obras, lastreadas de historicidade, de vestígios do passado e diálogo franco com as experiências estéticas contemporâneas, o futuro do horizonte de possibilidades está irmanado com o pretérito do lugar, ao mesmo tempo em que o presente é passado a limpo. Piaçabas e suas transformações  indica sem reticências um lugar que é patrimônio do Brasil e que se oferece ao conhecimento através das descrições literárias, pelas pinturas e pelas composições musicais.

Referências:

[i]       Professor, tradutor e consultor. Doutor em História pela Universidade de Paris III.

[ii]    Andrea Daher. O Brasil francês: as singularidades da França equinocial, 1612-1615, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,. 2007.

[iii]     Idem.

[iv]    Beatriz Moisés-Perrone,Notícias de uma certa Confederação Tamoio. Mana, Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 401-433, 2010.

[v]     Manuel da Nóbrega. Carta ao Cardeal Infante D. Henrique de Portugal”, 01/06/1560.

[vi]    Idem, Moisés-Perrone.

[vii]   Alexandre José Mello Moraes,  Chronica geral e minuciosa do imperio do Brazil: desde a descoberta do Novo ou América até o ano 1879. Rio de Janeiro, Typographia Carioca, 1879.

[viii]  Júlio César Medeiros da Silva Pereira, À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Garamond : IPHAN, 2007.

[ix]    Idem.

[x]     Flávia Brito do Nascimento. A Praça XV do Rio de Janeiro como patrimônio cultural: história e materialidade em disputa, Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. n.14, 2018, p.297-324.

[xi]    Ricardo Bernardes. "José Maurício Nunes Garcia e a Real Capela de D. João VI no Rio de Janeiro"  In: Revista Textos Brasileiros, 41-45, 2014.

[xii]   Luiz Edmundo – 1878/1961, O Rio de Janeiro no Tempo Dos Vice Reis, Aspectos da cidade e das ruas.

[xiii]  Noronha Santos, As Freguesias do Rio antigo. Rio de Janeiro, Edições Cruzeiro, /s.d.

Um Rio em forma de Orquestra 

 

Ivan Alves Filho é historiador 

 

Há um lirismo extraordinário - eu diria, até: arrebatador - nessa obra para orquestra de Luiz Carlos Prestes Filho e nos poemas que acaba de publicar sobre o Rio de Janeiro,  com foco na Praça Quinze, apontada como "o coração da cidade".

 

Com efeito, ali se localizava a antiga Praia da Piaçaba. Foi nessa mítica Praça Quinze que ocorreu a primeira resistência indígena do Rio de Janeiro. O Dia do Fico, ou o lançamento do manifesto fundamental para a obtenção da nossa Independência política, redigido por José Bonifácio, também se verificou ali. Mais: nesta mesma Praça Quinze o revolucionário baiano Cipriano Barata seria ovacionado pelo povo, após deixar as masmorras da Ilha das Cobras. E a Lei Áurea, que consagraria juridicamente a primeira revolução social brasileira, seria assinada na Praça Quinze (afinal, materializava a mudança do modo de produção, iniciando a passagem, ainda que não fosse de forma direta, do escravismo para o capitalismo). Como se não bastasse, a Praça Quinze homenageia a nossa tão combalida República. É não só: seria ainda palco de movimentos sociais contra a carestia, em meados do século XX. De cortar o fôlego.  Eis aqui um mérito incontestável do autor, uma grande percepção sua realmente: a Praça Quinze como espaço privilegiado das transformações sociais. Em tempo: acompanha a criação musical um livro igualmente magnífico, pela qualidade dos textos nele estampados, pela amplitude do reexame histórico que propõe, logrando nos esclarecer e muito a respeito da ação dos primeiros colonizadores europeus da cidade. Os acontecimentos que marcaram aquela área fundamental do Rio de Janeiro vão sendo pontuados criteriosamente ao longo do livro e isso realmente impressiona. Tudo ilustrado, de quebra, por um bamba: Poty Lazzarotto, o artista paranaense que o Brasil inteiro aprendeu a admirar.

 

Piaçaba 

voltar para o útero 

Aimberê 

imagem primeira do Rio

 

Trata-se de um passeio pelo Rio de Janeiro dos tempos primeiros, de uma sonoridade que nos envolve, como envolvente é o próprio Rio de Janeiro, esse extremo Ocidente banhado pelo Atlântico e habitado por um povo insubmisso, desde os índios aimberê.

 

A abrangência musical é perfeita, incorporando elementos sonoros do barroco, por exemplo, adaptando-se assim às mais diferentes fases artísticas ou momentos culturais que marcaram o Rio de Janeiro. História e Arte entrelaçadas. Tudo junto e misturado.  Um belo encontro.

 

Um passeio e uma surpresa, também. Apesar de ser amigo do Luiz Carlos, o Carlinhos, há dezenas de anos, e saber de sua ligação com o mundo do samba, eu desconhecia totalmente o seu talento de compositor. Ainda mais de música de concerto.  Deliciei-me com sua Piaçaba e Acrescidos, cuja linha melódica nos remete ao que há de mais criativo em nossa música para orquestra. A força telúrica da obra realmente emociona, provoca um impacto certeiro no ouvinte.

Sou historiador de ofício e não possuo formação musical, mas isso não me impede talvez de registrar aqui o quanto este trabalho me sensibilizou. Terno, comovente, produzido e conduzido da forma mais profissional possível, com arranjos magníficos, essa Piaçaba e Acrescidos se faz acompanhar por questionamentos pertinentes no tocante ao desenvolvimento do Rio de Janeiro. Meu amigo mergulhou fundo na formação da cidade, na alma da cidade, com uma sensibilidade própria, mas também com um conhecimento que poucos possuem sobre a nossa trajetória cultural, a nossa verve criativa. Com isso, o músico-poeta nos legou um Rio antes do Rio, ousaria dizer assim. Ou um Rio dos índios, antes de Estácio de Sá. Pois ali já existia uma cidade. Daí, talvez, o Padre Manoel da Nóbrega ter recomendado ao Infante Dom Henrique "ser muito necessário povoar-se o Rio de Janeiro e fazer-se nele outra cidade" (o grifo é nosso). O historiador Alessandro Ventura, que contribui para o livro com um texto enriquecedor, não deixaria de observar isso. Muito acertadamente, ele informa que as mudanças que foram ocorrendo no espaço urbano do Rio de Janeiro revelavam as novas funções que a cidade foi adquirindo ao longo dos anos (políticas, mercantis) Em tempo, mais uma vez: o livro está muito bem editado, sendo um verdadeiro prazer manusear suas páginas.

 

O compositor-poeta está de parabéns. Digo sem medo de errar que raramente ouvi algo tão singelo quanto a composição Gênese do Brasil. Teve sobre mim o mesmo efeito que teve Bachianas No.5 ou o Concerto de Aranjuez quando ouvi essas obras primas pela primeira vez. Não, não é lá muito fácil lançar um olhar artístico inovador sobre o Rio de Janeiro, cidade louvada por poetas como Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Geir Campos e Vinícius de Moraes. Berço de compositores da qualidade de Heitor Villa-Lobos, Noel Rosa e Antônio Carlos Jobim.  Mas meu amigo conseguiu ser original. Por isso, repito, está de parabéns. Fez um trabalho que honra a cultura brasileira no que ela tem de melhor, subvertendo a nossa sensibilidade musical da mesma maneira que seu pai, o saudoso camarada Prestes, lutou a vida toda para subverter as bases da injusta política nacional, nela imprimindo a marca imorredoura do Cavaleiro da Esperança.

 

Cada um, a seu modo, imaginou um mundo para que nele pudéssemos todos viver dignamente, em liberdade e criatividade.

OBS. A matéria acima de Ivan Alves Filho foi publicada no "Jornal das Lages", ANO XVIII nº220, agosto de 2021

Abaixo o link para a matéria publicada: 

https://www.jornaldaslajes.com.br/edicao-impressa/220

 

Piaçaba e Acrescidos

- Poema para Orquestra em 9 Movimentos -

 

Proposta Coreográfica

Regiane Philadelpho é bailarina, coreógrafa e professora de dança

 

Movimento 1

"Gênese Brasil nº1 - Evocação"

 

Cenário:

Praça 15 de Novembro no Centro do Rio de Janeiro. Cais do Porto; Paço Imperial; Arco do Teles; e antiga Catedral.

Cena: O líder da Confederação dos Tamoios, Aimberê; índios tamoios; reis e rainhas africanas; escravos negros e índios; rei de Portugal; Imperadores do Brasil. Na boca de cena o avô e o neto.                                    

Coreografia:

De 0’ a 4' segundos

Escuridão

De 5’ a 15' segundos

Jato de luz. O avô conta a história do local para o neto, eles vêm andando e gesticulando através da cena, o jato de luz os persegue. Em determinado momento sentam na boca de cena.

De 15’ a 24' segundos

A luz do palco acende, o neto fica admirado com o que vê. O avô orienta e pede para o neto se aproximar dos grupos.

No palco vemos três grupos congelados.

(1) Os índios estão no profundo do palco esquerdo.

(2) As escravas e os escravos negros no centro.

(3) O Rei e a Rainha de Portugal ocupam o profundo do lado direito da cena. Entre eles estão os Imperadores do Brasil.

De 25' segundos a 1’ minuto

O neto passeia pelo palco dando passos precisos de dança como passos largos, grand battements e giros, corre e caminha costurando os personagens deslizando pelo meio deles.

Em 1'minuto

Ao se aproximar e ao tocar os personagens dos grupos, os mesmos tomam vida. O menino observa cada grupo por sua vez.

De 1'37 minutos a 2'49 minutos

Estes grupos, aos poucos, se apresentam ao neto como numa reverencia, logo correm e formam uma roda que começa a tomar movimento girando de acordo com cada passada de pé dos personagens, o neto fica no meio da roda mas logo percebe que os grupos estão se encarando enquanto a roda gira. Neste momento, o menino saí do centro da roda e vai de encontro a seu avô.

 De 2'49 minutos a 4' minutos

Os personagens formam 2 fileiras uma de frente para outra, onde acontece um duelo de dança, onde ficam evidentes as diferenças étnicas e culturais. Os índios e escravos contemplam a dança afro, enquanto os outros contemplam o minueto. Todos juntos formam uma fileira única, que em momentos se desfaz ao se transpassarem mudando de lado do palco. Ao sair da posição de fileiras, os dois grupos criam dois círculos sendo individuais de cada grupo que aos poucos se transforma num desenho coreográfico de "V”. Saindo do desenho de “V” aos poucos os escravos se juntam com os índios em uma fileira com todos de frente para o público começam a cair, como em efeito dominó, feito sequencialmente – canon, enquanto isso o Rei e a Rainha de Portugal ocupam o fundo da cena e entre eles estão os Imperadores do Brasil, que continuam a dançar e acenar.

De 4' minutos a 4'5 minutos

A luz se apaga.

De 4'5 minutos a 4 a 4'34 minutos

Acontecem momentos individuais de aparições de cada grupo separadamente através do acender de cada holofote em momentos distintos. Os personagens fazem alguns gestos representativos de suas realidades no acender desses holofotes.

De 4'34 a 5'29 minutos

O avô chama o neto, executam um frappé e saem de cena saltando em jeté. As luzes se apagam.

 

Movimento 2

"Abissal e Praça da Baleia"

 

Cenário: Imagem de uma Baleia e do chafariz do Mestre Valentim

Cena: O avô mostra para neto a Praça 15

Coreografia:

De 0' a 20 segundos

Entra em cena o avô e o neto, entre giros e piruetas. Eles avançam em direção ao meio do palco.

De 20' a 52' segundos

Após passarem o meio do palco eles são surpreendidos por grupo dançante de 12 pescadores. O neto e do avô recuam surpreendidos positivamente. os dois ficam estacionados.

De 52' segundos a 1'25 minuto

Avô e neto contemplam a imagem de uma enorme baleia que fora formada no canto lateral do palco por estruturas/suportes que estavam nas mãos dos pescadores. Eles se movimentam ganhando o centro do palco

De 1'25 a 1'36

Pela Praça 15 passam pedestres, trabalhadores, transeuntes, vendedores ambulantes, guardas e burro sem rabo.

De 1'36 minutos a 2'1 minutos

O avô e o neto passeiam e cumprimentam a quase todos.

De 2'1 a 2'5 minutos

Todos param de andar. Congelam.

De 2'5 a 2'35 minutos

Aos poucos um por um, aleatoriamente, volta aos movimentos dançando.

De 2'35 a 3'11 minutos

Todos saem de cena correndo, uns pelo lado direito e outros pelo lado esquerdo. Os pescadores se levantam. Fazem um giro com as estruturas/suportes e formam o chafariz do Mestre Valentim da Praça 15.

De 3'11 a 3'32 minutos

Os bailarinos adentram ao palco vindo pela diagonal com o avô e o neto suspensos, como se tivessem sendo banhados palas águas do chafariz.

De 3'32 a 3'36 minutos

O avô e o neto ficam parados em frente do chafariz.

De 3'36 a 5'12

Os bailarinos se agacham e fazem movimentos semelhantes como se tivessem bebendo a água. Em seguida reproduzem os movimentos da água. Movimentos bem leves e fluidos. Aos poucos o avô e o neto copiam a dança da água. Todos contemplam o chafariz.

 

Movimento 3

"Primeiro Baile"

 

Cenário: Salão interno do Paço do Governador (atual Paço Imperial). O mesmo está ornamentado para um grande baile.

Cena: 30 bailarinos, 15 vestidos de corsários franceses e 15 vestidos de mulheres.

Coreografia:

De 0' a 47' segundos

Acende a luz. O Governador recebe o capitão francês. Em seguida do lado direito entram os marinheiros franceses e do lado esquerdo homes fortes vestidos com roupas femininas.. Os franceses no início se espantam. Depois se aproximam.

 De 47' segundos a 1'5 minutos

Os bailarinos formam uma meia lua. Nesta o primeiro casal que fora formado se concentra no meio da mesma. O bailarino vestido com roupas femininas tem barba. Iniciam um tímido ensaio. Como se tivessem ensinando para todos presentes.

De 1'5 a 1'40 minuto

Todos dançam soltos. Cada um dança a sua dança. Estão aprendendo.

De 1'40 a 1'50 minutos

Os casais caminham para o centro do palco para formar um circulo.

De 1'50 a 2'18 minutos

Todos param e acontecem as trocas de casais.

De 2'18 a 3'18 minutos

O grupo de bailarinos ganha nova formação. Dançam todos juntos uniformemente.

De 3'18 a 3'32 minutos

O grupo de bailarinos caminham para pose final. Quando concretizam a apresntação

 

Movimento 4

"Cais Pharoux"

 

Cenário: Cais Pharoux e o Hotel Pharoux, com a paisagem da Baia da Guanabara ao fundo.

Cena: Bailarinas interpretam gaivotas brancas que sobrevoam o Cais Pharox. O Príncipe Dom Pedro tem amizade com o proprietário do Hotel Pharoux, Louis Dominique. Este mantêm uma garçoniere para aventuras amorosas do jovem herdeiro de Dom João VI.

Coreografia:

De 0' a 15' segundos

Em cena, sentados à mesa, estão o Príncipe Dom Pedro e o General Louis Dominique. Eles tomam vinho.

Aos 3' segundos

Acende toda a luz do palco.

De 15' a 32' segundos

Bailarinas de asas brancas entram em fileiras viradas para frente do palco. Um grupo entra pelo lado direito, por de trás da mesa. O outro grupo outra entra pelo lado esquerdo, pela frente da mesa. Envolvendo os dois homens e logo se espalham no palco.

De 32' a 48' segundos

Se espalham pelo palco com seus movimentos de asas.

De 48' a 1'19 minuto

As bailarinas desenvolvem a coreografia, sempre envolvendo o Príncipe Dom Pedro e o General Louis Dominique.

De 1'19 a 2'55 minutos

O Príncipe Dom Pedro dança com a primeira bailarina, sendo envolvido pelas asas. Esta se retira e ele dança com uma segunda bailarina. Ao dançar  com a terceira bailarina, ele convida ela para que entre no Hotel Pharoux. Ela recusa.

De 2'55 a 2'56 minutos

Todas as bailarinas fazem gestos de recusa.

De 2'56 a 3'11 minutos

As bailarinas vão se retirando de cena. O Príncipe Dom Pedro tenta atrair elas, não consegue. Desapontado, faz uma expressão de surpresa, senta a mesa com o General Louis Dominique. A luz se apaga.

 

Movimento 5

"Rua Fresca"

 

Cenário: Imagens atuais de ruas próximas da Praça 15 de Novembro. Caos urbano.

Cena: O avô e o neto atravessam o caos urbanos, correm risco de serem atropelados pelos carros e ônibus; sofrem com a força do sol; e observam os edifícios altos.

Coreografia:

De 0' a 20' segundos

O avô e o neto entram em cena. O avô mostra a praça.

De 20' a 28' segundos

Quando o avô e o neto estão na metade do palco, entram bailarinos em dança de street dance dando cambalhotas.

De 28' a 1'07 minuto

Os bailarinos se posicionam e começam a dançar. O avô e o neto saem de cena.

De 1'07 a 1'19 minuto

Os bailarinos iniciam dança em câmera lenta.

De 1'20 a 1'36 minuto

Voltam os movimentos de intensidade e logo os bailarinos correm de posição de meia lua. Onde um grupo será a base e o outro grupo será elevado ao subir nesta base.

De 1'36 a 2'03 minutos

O grupo no alto faz movimento de braço.

De 2'03 a 2'07 minutos

Aqueles bailarinos que estavam no alto pulam a frente. Ao chegarem ao chão se agacham. Aqueles que estavam na base também se agacham. Todos ficam de cabeça baixa.

De 2'03 a 2'07 minutos

Todos os bailarinos levantam a cabeça num movimento preciso. A luz se apaga..

 

Movimento 6

"Íbis de Pedra"

 

Cenário: Baia da Guanabara, ao longe a imagem do Pão de Açúcar. Em destaque a imagem da Íbis de Pedra cravada no peito da pedra do Pão de Açúcar..

Cena: A Íbis de Pedra entra em cena. Solo de Dança. O líder da Confederação dos Tamoios, Aimberê, observa o voo do pássaro de pedra.

Coreografia:

De 0' a 10' segundos

Em cena a pedra do Pão de Açúcar iluminado por um holofote. Bailarinos estão escondidos nela formando a imagem de uma Íbis.

De 11' a 38' segundos

A cena é iluminada. As índias e os índios guerreiros tamoios surgem atrás da plateia, segurando suas armas. Caminham realizando movimentos de rituais indígenas e emitindo sons característicos de chamado de guerra.

De 39' segundos a 1' minuto

Eles andam entre os corredores e interagem com o publico, apontando para o desenho da Íbis. Aos poucos avançam em direção ao palco.

De 1'1 a 1'10 minuto

As índias e índios tamoios apressam o passo e sobem ao palco gradativamente. Eles se posicionam em dois grupos em diagonal da frente do palco, aglomerados.

De 1'12 minuto a 1'36 minutos

Agachados, as índias e os índios tamoios executam uma ondulação com tronco de vai e vem. No mesmo momento os bailarinos que representam a Íbis do Pão de Açúcar começam a tomar vida. Saem fora do local onde estavam acomodados. Os bailarinos que representam a Íbis do Pão de Açúcar se concentram no centro do palco

De 1'37  minuto a 1'46 minuto

O bailarinos que representam a Íbis avançam em direção as índias e aos índios que se assustam. Os índios sentam no chão para trás, dão impulso empurrando o chão e deslizando para trás. Em seguida, aos poucos, saem do palco.

De 1'47 minuto a 3'29 minutos

Começa uma coreografia sincronizada de contemporâneo.

De 3'30 minutos a 3'32 minutos

Todos os bailarinos se viram.

De 3'33 minutos a 3'32 minutos

Os bailarinos executam uma reverência ao Pão de Açúcar. Exaltam a Íbis. Em seguida voltam para formar a Íbis na Pedra do Pão de Açúcar, reproduzem a imagem do início.

Todas as luzes se apagam e fica somente o holofote sobre a Íbis.

 

Movimento 7

"Dona Bárbara"

 

Cenário: Arco do Teles

Cena: A bruxa Dona Bárbara dos Prazeres surge no Arco do Teles e sobrevoa a Praça 15.

Coreografia:

De 0' segundos a 0'20 segundos

Luzes apagadas. Surge a imagem da bruxa entrando no telão. Ela olha para sua vassoura e observa o Arco do Telles.

De 0'21 segundos a 0'34 segundos

Ouvimos uma gargalhada. O telão se apaga.

De 0'35 segundos a 0'53 segundos

Numa estrutura de rapel, estendida sobre a plateia e o palco, a bruxa entra em cena.

De 0'54 segundos a 1'9 minuto

Entram dois bailarinos executando movimentos leves de braço. Logo se aproximam da bruxa, retiram a aparelhagem/suportes do rapel. A bruxa executa movimentos precisos de braço.

De 1'10 minuto a 2'10 minutos

A bruxa começa a executar o estilo de dança circense, contemplando a flexibilidade. O tecido acrobático começa a descer.

De 2'11 minutos a 2'59 minutos

No tecido acrobático a bruxa realiza dança aérea. Após a dança o tecido é retirado de cena.

De 3' minutos a 3'10 minutos

A bruxa é envolvida pelos bailarinos e conduzida até um suporte que está no meio do palco. Os bailarinos vestem uma grande saia negra e a colocam sobre o suporte. Os bailarinos fazem a saia ganhar vida através de ondulações.

 

Movimento 8

"Chapeleira"

 

Cenário: Fachada do sobrado onde residiu a artista Carmem Miranda

Cena: A artista Carmem Miranda canta um fado.

Coreografia:

De 0' segundos a 0'20 segundos

No lado direito do palco Carmem Miranda experimenta diferentes tipos de chapéus femininos e masculinos.

De 0'20 segundos a 0'47 segundos

Ao poucos se aproximam compradores. São três casais que realizam coreografias de mãos dadas. Ela vende alguns chapéus.

De 0'47 segundos a 1' minuto

Após a compra de chapéus, o primeiro casal segue adiante como que passeando. Após o segundo casal, repete o movimento do primeiro casal. O terceiro casal repete os mesmos movimentos.

De 1'01 segundos a 1'29 segundos

Carmem Miranda realiza dança com passos do folclore português. Ela segura uma guitarra portuguesa e faz expressão de que está cantando. Os casais deitam de no palco de forma despojada, em formato coreográfico de meia lua. Eles estão voltados para a Carmem Miranda, com os pés para cima.

De 1'30 minuto a 1'39 minutos

Os casais sentam e aplaudem, em seguida se levantam. Carmem Miranda agradece. O casal da direita se retira de cena pela direita. O casal da esquerda, se retira pela esquerda. O casal que estava no centro, comicamente não sabe para onde ir. Então a bailarina sai pela esquerda e o bailarino pela direita.

De 1'40 segundos a 2'18 segundos

Carmem Miranda sozinha em cena dança desenvolve sua dança.

De 2'18 segundos a 2'38 segundos

Carmem Miranda entra no sobrado e se posiciona a janela. As luzes se apagam.

 

Movimento 9

"Gênese Brasil nº2 - Grande Final"

 

Cenário: Praça 15 de Novembro no Centro do Rio de Janeiro. Cais do Porto; Paço Imperial; Arco do Teles; e antiga Catedral.

Cena: Aimberê, índios tamoios, reis e rainhas africanas, escravos, rei de Portugal, Imperadores do Brasil. Na boca de cena o avô e o neto.

Coreografia:

De 0' segundos a 0'9 segundos

A luz do palco acende aos poucos, no palco três grupos congelados.

(1) Os índios estão no profundo do palco esquerdo.

(2) O Rei e a Rainha de Portugal ocupam o centro da cena. Entre eles estão os Imperadores do Brasil.

(3) As escravas e os escravos negros estão do lado direito.

De 0'10 segundos a 0'19 segundos

Os índios, as escravas e escravos, os reis e os imperadores, lentamente tomam vida.

De 0'20 segundos a 0'45 segundos

Todos começam a andar. O grupo que está no meio ( reis e imperadores) avança para a frente do palco, dando passos largos. Ao mesmo tempo, também dando passos largos, o grupo que está do lado direito (escravas e escravos) avançam para a frente e se posicionam atrás do primeiro grupo. Ao mesmo tempo, também dando passos largos, o grupo que está do lado esquerdo (índias e índios)) avançam para a frente e se posicionam atrás do segundo grupo. Todos os grupos fazem a formação de fileiras em que todos participantes estão voltados para a plateia.

De 0'46 segundos a 1'18 minuto

Após todos os grupos chegarem na posição, descrita acima, a primeira fileira se agacha, a segunda ajoelha e terceira permanece em pé. Elevam os seus braços atrás dos ombros do companheiro do lado.

De 1'19 minuto a 1'49 minutos

Andam entre si em forma de marcha acelerada e chegam ao próximo desenho coreográfico.

De 1'50 minuto a 3'57 minutos

O avô e o neto se encontram no centro do palco e são seguidos por um círculo formado pelos imperadores e rei. Seguidos pela roda dos escravos e depois pela roda dos índios.

De 3'58 minuto a 5'49 minutos

Todas bailarinas e bailarinos em cena, permanecendo na mesma posição, praticam passos característicos do samba. Após alguns segundos se posicionam para a plateia.

De 5'50 minuto a 5'57 minutos

Todos em cena começam a se deslocarem para a pose final.

De 5'58 minuto a 6'0 minutos

Todos em cena concretizam a pose final. (em aberto)

 

FIM