Partidão 1922-2022
A Revolução Socialista marcha em 1917
Para celebrar o centenáro da fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), 1922/2022, o Catetear apresenta os poemas de Luiz Paixão, dramaturgo, diretor de teatro e escritor que, recentemente, pulicou nas nossas páginas sua peça "PRESTES - O Cavaleiro da Esperança". Aqui os nomes daqueles que tiveram a coragem no início do século 20 de criar um partido para defender os interesses da classe operária e dos trabalhadores rurais. O poeta aponta para datas e fatos que marcaram a História do mais antigo partido político do Brasil. Salve 25 de março de 1922!
Partidão 1922-2022
Poemas do livro: "Ofícios de um canto possível: versão lírico-poética"
Por Luiz Paixão
Sobre as Origens do Começo
a ideia primeira
vem de longe
de longe vem
como canto enfeitiçado
sem cordas ou cardos
de deter
como égua desembestada
no cio
vem
do sentimento basco de revolta
das montanhas de itália em fúria
de vesúvio cuspindo fora opróbrio e
injustiça
dela vem
e vem também
do índio encontrado
em êxtase de tupã
da negra senzala de chão escravo
das inconfidências de minas
pelos becos / vielas
das praias praieiras de pedro ivo
de antônio fanático e seus conselhos
de virgulino lampião vazado no cangaço
de cícero padrinho beato nas romarias de fé
vem de longe a ideia
e vem de mais
e além
e sobretudo
da grande estepe
daí vem
libertada do mando czar
O Cruzador Aurora anunciou a Revolução de Outubro de 1917
Outubro
o povo da distante terra dos czares
abriu as portas para o tempo da esperança
a bandeira vermelha
libertou e apontou caminhos
quem antes em objeto reduzido
agora se torna sujeito de sua história
dono de seus próprios meios
o homem se renova
na grande república
que se cria
pátria-mãe dos homens livres
vladimir
guardião e arauto de todas as igualdades
penetra no coração
dos povos
das terras distantes da terra
que um dia foi dos czares
rompe fronteiras
o mesmo desejo de não ter senhores
que uma fagulha
de tua chama acesa de liberdade
atravesse os mares
e venha incendiar
também aqui
a mente dos homens
e deixe gravado
o sonho libertário possível
Março de 22
camponês e operário
se encontram
num duplo esforço
numa luta de contradições mútuas
foice e martelo
se cruzam
no desejo de ser-se uno
e proclamam a liberdade
no solo do brasil
Nove Cavaleiros e uma Paixão
a paixão
sob o signo
da esperança
nove cavaleiros
da liberdade
inauguram
a era da paz
nove cavaleiros
se espalhando
e
se multiplicando
pelos
cantos-quatro-cardeais
nove cavaleiros
inundando de
fé e certeza
os dias pela frente
a história não se
faz apenas de positivos pontos
erros e acertos
marcas e contrapassos
até que alfim desenrolados
e em seus pontos somados
somado estará grande
o pequeno passo avanço
nove cavaleiros
do sonho
plantaram fundo /profundo
uma ideia que
tudo sofreu para
ser apagada
mas continua viva
e coruscante
atormentando o sono
dos que não sabem
o doce mistério da
resistência
Os fundadores do Partido Comunista do Brasil (PCB): Abílio de Nequete, Astrojildo Pereira, Cristiano Cordeiro, Harmogênio Fernandes da Silva, João da Costa Pimenta, Joaquim Barbosa, José Elias da Silva, Luís Pérez e Manuel Cendón
I – Abílio de Nequete
assim como uma barba do rosto
por fazer
ou um campo
para semear / colher
ou ainda
essa máquina operária
de tanto produzir
o trabalho não se deforma
é tarefa cumprida
no prazer
de se construir
II – Astrojildo Pereira
em todas as letras
das palavras
seus contrários
traduzem
o que há de novo
anunciado
na terra do pau brasil
astrojildo incansável
a debruçar-se
sobre pena e papel
antevendo
a possibilidade do futuro
III – Cristiano Cordeiro
os bens
não são de único senhor
na justa repartição
a privada propriedade
assim o deixa de ser
e então
por iguais dividida
multiplicada se multiplica
no ganho de todos
IV – Harmogênio Fernandes da Silva
na rede de fios
interligados
intercorrente-nacional
se espalha / mescla
os povos de todos os povos
e de todos
faz
patamar único-uniforme
sem divisas
de distinção
V – João da Costa Pimenta
na conjunção dos tipos
uma palavra se inscreve
liberdade
essa ave de arribação
que um dia
pousará
definitivamente
no
coração-brasil-do-povo
VI – Joaquim Barbosa
em cada traço
em cada ponto
em cada nó
e costura de um novo tempo
se amarra e não desata
é vereda abrindo
e
anunciando manhã clara
VII – José Elias da Silva
tijolo sobre tijolo
o socialismo se constrói
em sólida morada
eterna quimera
que se concretiza
no concreto do sonho
VIII – Luís Pérez
varre
pérez
de uma vez por todas
toda a injustiça
que
imunda
o chão do brasil
IX – Manuel Cendón
os pontos são iguais
como iguais são os homens
massa uniforme
coletivo único indiferenciado
porém
muitos são os devaneios
do poder
inúmeras as ambições
iguais são os pontos
e em cada ponto
a esperança
que o homem
não submeta mais
o homem
Bancada do Partido Comunista no Congresso Nacional,1946, no centro o Senador Luiz Carlos Prestes e os deputados Jorge Amado, Carlos Marighella, Maurício Grabois, João Amazonas, Francisco Gomes, Agostinho Dias de Oliveira, Alcêdo de Moraes Coutinho, Gregório Lourenço Bezerra, Abílio Fernandes, Claudino José da Silva, Henrique Cordeiro Oest, Gervásio Gomes de Azevedo, José Maria Crispim e Oswaldo Pacheco da Silva
Luiz Paixão é diretor de teatro, dramaturgo, poeta e escritor
Venha Catetear!