O Silêncio de Escuta Atenta

O Silêncio de Escuta Atenta
A violonista Andrea Zurita
 
 
O SILÊNCIO DE ESCUTA ATENTA
 
Por Luiz Carlos Prestes Filho*
 
Do violão de Andrea Zurita, durante sua apresentação no "Espaco ABU", em Copacabana, brotaram paisagens, palavras, pigmentos, lágrimas, águas, vinhos e gritos. Fui testemunha desta verdade ao ouvir o som de suas cordas e a beleza que brotava de suas histórias, inspirações e dedicatórias.
Primeiro, foi com um zamba que ela convidou os presentes a banhar-se nas águas do Rio da Prata. Levemente. Combinando vários compassos. Trazendo o colorido de sua terra.
 

Rio da Prata

Em seguida, nos tirou daquele mundo encantado e nos levou para o labirinto sem saída da violência. Acirrada durante a pandemia da Covid-19. Quando mulheres eram assassinadas em ambiente doméstico. Seu instrumento deu voltas e voltas.
Num terceiro momento a violonista nos retira deste ambiente de morte e nos envolve com imagens esfumadas.
 

Andrea Zurita no Espaço ABU - Copacabana

  
Trouxe um forte contraponto com a primeira música. "Milonga Esfumada" nos devolve o ar de contemplação.
Foi durante a sua última passagem no Rio de Janeiro que Andrea Zurita compôs "Eclipse". Nesta obra vivências com velhos e novos amigos. Caminhadas entre os contrastes das cidades de Buenos Aires e do Rio de Janeiro. Uma obra que convida ao sorriso e ao equilíbrio espiritual. Eu diria eclipses. Pois, nesta existem várias camadas de sentimentos positivos.
 

O ambiente do jogo de cores e formas toma corpo na obra dedicada a Bodega Colomé. A música e a maestria da violonista argentina, transforma as dimensões. Caminhamos com ela entre os vinhedos e entre a arte de James Turrell na Província de Salta. Vemos o amanhecer, o sol do meio dia e o anoitecer. Como Alice no País das Maravilhas tateamos paredes inexistentes, abrimos portas imaginárias.

.
Bodega Colomé
 
A próxima música do programa - "Claro Escuro" - nos devolve o tema do feminicídio. Mas agora de maneira mais reflexiva. Tem uma proposta diferente da obra anterior. Busca o diálogo e o entendimento. Acredita que é possível achar uma saída.
Finalmente, com a obra "Caminho do Vento", Zurita traz outra vez os ares lindos de sua terra natal. Antes agradece pelo "silêncio de escuta atenta" da plateia... que explode em aplausos.
 
 
*Luiz Carlos Prestes Filho, diretor e roteirista de filmes documentários, é jornalista, compositor,  escritor e membro do Conselho Curador do PEN Clube do Brasil.